Tenho criticado muito a situação do sistema de transporte de Manaus. Governantes do passado e do presente que não investiram adequadamente para ter um transporte de qualidade e decente para a população. Até denunciei algumas vezes junto ao Ministério Público cobrando providências.
Mas também apresentei algumas ideias para que melhorias aconteçam. Estamos em ano de eleições municipais, onde o tema do transporte estará na pauta. Deixo aqui algumas questões que entendo serem pertinentes.
Uma cidade grande como Manaus, com cerca de 2,1 milhões de habitantes, que continua crescendo, necessita de planejamento urbano e ter um Plano de Mobilidade Urbana. Muitos recursos federais para investimentos em transporte coletivo estão condicionados à existência desse plano.
Nesse plano é preciso avaliar bem as vias públicas existentes. É necessário novas ruas e avenidas, alargamentos de vias, informações claras sobre o volume de veículos que circulam, estudos de trânsito, passagens de níveis, viadutos e intervenções em áreas de grande fluxo.
Todas os tipos de transporte precisam estar num estudo: o transporte de cargas, o transporte do polo industrial, o transporte via taxi e aplicativos, os mototaxistas, os fretes, o transporte especial, o executivo e transporte coletivo. Até o mesmo o transporte fluvial, na orla de Manaus.
Uma questão fundamental é o custo do transporte. Há muito tempo se questiona a planilha de custos do transporte público coletivo. Afinal, essa caixa fechada poderá ser aberta e desnudar toda a estrutura de custos e de lucratividade ou prejuízo do setor empresarial? Acredito que sim. Transparência contribuirá para dar credibilidade ao sistema. Não há dúvida que precisa de equilíbrio financeiro e econômico para viabilizar o funcionamento regular do sistema de transporte. Por isso, a política de incentivos e subsídios, já usado por alguns governos, não pode ser descartada.
A Prefeitura, como poder executivo e poder concedente das linhas de ônibus, terá que ter um sistema de controle das informações do sistema, como a bilhetagem diária, que é eletrônica. Mas a quilometragem percorrida pelos ônibus, o número de viagens de cada veículo, o número de passageiros, os valores arrecadados diariamente, a quantidade de passagens de estudantes e as gratuidades para idosos e gestantes são informações estratégicas para planejamento que precisam estar sobre a gerência da Prefeitura. Não é possível qualquer intervenção sem esses dados.
Manaus precisa de corredores exclusivos para ônibus. Mais rapidez, menor tempo de cada viagem. Ruas em boas condições, contribuem para manter ou reduzir custos operacionais. A proposta do BRT, que já teve estudos iniciais, não pode ser descartado. Mas pensar um modal maior para o futuro, como um Metrô de Superfície pode fazer parte do planejamento. Mas os estudos de viabilidade são o primeiro passo, pois os investimentos seriam muito elevados.
Tem questões básicas que são negligenciadas, mas podem ser facilmente resolvidas: abrigos de ônibus, boa sinalização, terminais mais eficientes. É muito suplício da população ter que aguardar o ônibus debaixo de sol e chuva. Muitas paradas de ônibus são apenas uma placa num poste de iluminação. Garantir segurança nos terminais e uma ampla gama de serviços, incluindo facilidades para aquisição do cartão e recarga dos cartões eletrônicos de ônibus.
Nâo podemos exigir que toda a população seja obrigada a usar o cartão e não poder pagar a passagem em dinheiro, se não há postos de recarga em locais de fácil acesso. Além do que, pela lei, a moeda corrente deve ser aceita para pagamentos de serviços. Porém, é um assunto para uma conversa franca com a população. Não pode ser apenas para beneficiar os empresários, mas muito mais os usuários do transporte.
Entendo que a estrutura da Prefeitura, o órgão específico de gestão do transporte coletivo, precisa de estrutura de trabalho, veículos, pessoal suficiente e estrumentos para orientar e fiscalizar. E fiscalizar o contrato com os empresários. A frota de ônibus precisa ser compatível com o volume da população. Hoje seriam necessário renovar pelo menos 50% da frota, que está bastante deteriorada e reduzida.
É possível melhorar o transporte na cidade de Manaus.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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