Por Marcelo Moreira, do ATUAL
MANAUS – Cidade no meio da maior floresta tropical do mundo, Manaus enfrenta problemas como acúmulo de lixo nos igarapés, lixeiras ‘viciadas’ nos bairros, carência de áreas arborizadas e até projeto de lei que reduz Área de Proteção Ambiental. Pela localização, a capital do Amazonas deveria ser exemplo de centro urbano ecológico, mas vai na contramão desse conceito.
Para Rogério Fonseca, biólogo e doutor em ecologia e conservação e mestre em ciências florestais e ambientais pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas), o caminho para a estruturação de práticas ambientais urbanas está relacionado ao fortalecimento de atividades econômicas que contribuam para uma cidade efetivamente ecológica.
“Se Manaus fosse menos intervencionista na vida do cidadão comum e permitisse que ele pudesse empreender na área de gerenciamento de resíduos, a gente teria muito mais pessoas, empresarialmente falando, trabalhando com a questão e, portanto, o lixo em vez de ser um passivo ambiental, passaria automaticamente a ser um ativo financeiro e não teríamos tantos resíduos despejados de forma irresponsável pelo cidadão”, diz Rogério.
Segundo o ambientalista, é necessário que o poder público permita que empreendedores entrem em ação para colaborar com a redução de resíduos no meio ambiente e transformá-los em vantagem financeira. Ele diz que o poder municipal pode investir, por exemplo, em linhas de crédito a pessoas físicas para que elas possam fazer a própria gestão desse resíduo.
O biólogo cita o exemplo da latinhas de alumínio e garrafas pet que podem ser manuseadas e recicladas em cooperativas privadas apoiadas pela administração pública. O senso ecológico e de recuperação do meio ambiente pode ser pensado em um esforço conjunto dos órgãos responsáveis e podem ser testados em projetos pilotos em regiões da cidade.
Ainda de acordo com Rogério, o despejo indevido de resíduos em Manaus e a falta de conscientização sobre o meio ambiente não podem ser atribuídas apenas à inexistência de educação ambiental por parte da população, mas à responsabilização dos governos em não criar campanhas e outras medidas eficazes que sensibilize a grande massa social.
“Aqui, na nossa cidade, o empenho dos órgãos municipal, estadual e a gestão de resíduo, a união deles não fortalece as medidas não estruturais da educação informal. Qual o tipo de educação informal? Especialmente, a televisão, rádio e mídias não convencionais. A gente fala pouquíssimo de que lixo que não é lixo, não deveria ir para o lixo, e sim ser disposto. Para ser melhor gerenciado, cidades como Curitiba, desde a década de 70, têm esse mantra. Isso pode ser uma prática de qualquer dos cinco mil e poucos municípios que existem no Brasil”, disse Rogério.
Arborização: dever social e socioambiental
Mesmo sendo uma das cidades mais importantes da Amazônia, Manaus só tem 23,9% de arborização. É um dos municípios menos arborizados do Brasil, segundo o IBGE. E, ainda assim, recentemente, uma iniciativa parlamentar tentou reduzir uma área verde pertencente à Floresta Manaós, na zona leste da capital, para a construção de um posto de combustíveis. O Projeto de Lei, de autoria do vereador Diego Afonso (União Brasil), foi vetado pelo prefeito David Almeida.
No contexto da urbanização, todo proprietário de terra tem o dever de deixar espaços destinados a áreas veres, ou seja, pelo menos 20% da propriedade deve ser composta por vegetação. Outro exigência na consciência ecológica diz respeito ao calçamento de recuo das casas. Esses fatores ocorrem, obviamente, em cidades, estruturalmente, planejadas e com políticas que favorecem a criação de critérios ambientais, o que deveria ser o caso de Manaus, mas não é.
“Existe a necessidade das campanhas de arborização na cidade de Manaus serem criadas em áreas estratégicas. Eu vejo, a exemplo, postagens de ex-legisladores estaduais mostrando fotografias da área da Avenida das Torres como se fosse um terreno desértico. Eu só tenho a lamentar. Embaixo das linhas de energia, não pode ter arborização urbana. Pelo contrário. Podem ter outros instrumentos de uso público”, disse Rogério Fonseca.
Algumas iniciativas não governamentais tentam fazer a diferença na mudança no cenário ambiental. O empreendedor social Jadson Maciel lidera um projeto que, há sete anos, retira lixo de rios e igarapés em Manaus. As ações ocorrem no último sábado de cada mês, principalmente, na bacia do Tarumã-Açu, com a coleta de resíduos na Marina do Davi, na zona oeste da cidade, atividades que promovem conscientização ambiental aos banhistas que visitam a região.
Aliás, os rios que cercam Manaus sofrem as consequências de uma cidade mal estruturada ambientalmente. “Pelo falo de ter a maior bacia hidrográfica do mundo, o governo local, não consegue enxergar os nossos corpos hídricos como uma coisa tão relevante, afinal de contas, a gente tem água em abundância, e aí quando tem água em abundância, não tem gestão”, disse Jadson.
“As políticas públicas são ‘eficáveis’ quando elas são aplicáveis. Então, a gente tem o plano nacional de resíduos sólidos, a gente tem a política nacional de resíduos sólidos, uma série de leis que, infelizmente, não são aplicáveis, isso faz com elas não se tornem eficazes. Os nossos políticos precisam trazer mais pra pauta”, acrescentou.
Eu diria que a Região Norte deve cobrar mais de seus Parlamentares Federais: a representatividade que vocês buscaram ao elege-los! Me lembro que na década de 70 e meados da década de 80, era comum comprarmos produtos, aqui no Sul, com a informação: “Produzido na Zona Franca de Manaus”, depois com os produtos de informática, vieram as Importações! Algo como o que passou recentemente o Butantã perdendo espaço para os laboratórios Internacionais na questão das vacinas para a Covid-19!!!