Do ATUAL
MANAUS – A cantora e compositora paraense Dona Onete, conhecida como Rainha do Carimbó Chamegado, será homenageada com uma exposição no espaço Itaú Cultural, em São Paulo, de 15 de março a 18 de junho.
A Ocupação Dona Onete tem quatro temas – Território, Encantarias e Religiosidade, Túnel e Palco – e reúne cerca de 120 itens. São fotos – muitas do acervo da família –, vídeos, músicas e manuscritos da artista, originais e inéditos, depoimentos dela própria, de amigos, companheiros de música e familiares.
Artistas paraenses participam da mostra a convite do Itaú Cultural: o coletivo Kambô com uma intervenção na bandeira do Pará – exposta em tecido e em realidade aumentada acessível por meio de aplicativo – e duas fotógrafas, Nay Jinknss e Marise Maues; cada uma apresenta quatro imagens que traduzem os olhares delas sobre o próprio território.
Dona Onete se apresentará no palco da Sala Itaú Cultural nos dias 16 e 17 (quinta e sexta-feira, às 20h). A cantora Aíla, fruto da nova geração musical paraense e, muitas vezes, parceira da homenageada, fará shows nos dias 18 e 19 (sábado, às 20h, e domingo às 19h).
A mostra
Nascida na Ilha do Marajó, crescida no Baixo Tocantins e moradora de Belém, Dona Onete tem 83 anos. Ela só alcançou fama, no entanto, quando contava com 60 anos.
Dona Onete foi a professora Ionete, seu nome de batismo, adepta dos métodos de Paulo Freire e defensora de melhorias no ensino, na alfabetização e na vida dos professores.
Em Território, a exposição dá a conhecer ao público a Cachoeira do Arari, cidade que Ionete nasceu na Ilha de Marajó, onde passou a infância. Depois, a mostra percorre Igarapé-Miri, no Baixo Tocantins, lugar em que, ainda conhecida pelo nome de batismo, ela consolidou-se como professora, atuou na política cultural e foi militante de movimentos sindicais. Foi lá que, em 1989, criou o grupo folclórico Canarana, estreando com 12 músicas autorais.
Por fim, chega-se à capital do estado, Belém, onde após se aposentar como professora, Ionete foi morar no bairro Pedreira, conhecido como do samba e do amor. Nessa cidade, ela passou a ser reconhecida como Dona Onete, Rainha do Carimbó Chamegado.
O eixo seguinte, Encantarias e Religiosidade, apresenta as lendas e encantamentos amazonenses, que ganharam melodia na voz da artista. Esse espaço contém letras manuscritas inéditas de canções dela, como A Lua morena, Banho de cheiro e Meu Pará tupiniqui.
Também revela originais de músicas conhecidas, como Moreno Morenado, Feitiço Caboclo, que deu nome ao seu primeiro álbum solo lançado em 2013, quando ela tinha 73 anos, e Sonhos de adolescente, escrita em 1957, mas que chegou ao público somente em 2016, presente no álbum Banzeiro.
É possível, ainda, conhecer o processo de criação da composição Jamburana. Também estão presentes pesquisas que ela faz para compor – por exemplo, quando estudou o Açaí, tema da música Balanço do Açaí.
Na sequência, o público entra no eixo Túnel, um caminho embalado de sons de Belém que o transporta para o espaço seguinte, Palco. Em Palco, o visitante entra na expansão do universo musical da cantora, iniciado nas canções entoadas quando criança à beira do rio para atrair os botos, nas noites de serestas e de carimbó, e nas salas onde dava aula. Em 1989, ela já participava do Grupo Folclórico Canarana, de Igarapé-Miri. Em meados de 1990 atuava no Coletivo Rádio Cipó, em Belém, e participou do conceituado Festival Terruá Pará.
Rapidamente, passou a frequentar os palcos de todo o Brasil e alçou voo, indo para apresentações internacionais, como no Festival Womex, na Finlândia, o Muziek Publique, em Bruxelas, Bélgica, além de fazer shows na Alemanha, Inglaterra, Portugal e outros.
Cinema paraense
No fim do mês, a partir das 19h do dia 28, a programação “Encontros de Cinema” do Itaú Cultural terá o documentário Terruá Pará, seguido de bate-papo com a diretora do filme, a cineasta paraense Jorane Castro.
Entre encenações que revelam o surgimento da música do estado, desembocando na atual efervescência cultural, a produção traz um olhar sobre os movimentos artísticos locais. Ali, os músicos se tornam personagens: Dona Onete, Manoel Cordeiro, Keila, Pio Lobato, Toni Soares, Os Amantes, Luê, Trio Manari e outros.
A curadoria da mostra é do Núcleo de Artes Cênicas, Literatura e Música da organização. A consultoria é da pesquisadora Josivana de Castro Rodrigues, neta de Dona Onete, e o projeto expográfico, contemplado com mecanismos de acessibilidade, é do Núcleo de Infraestrutura e Produção do Itaú Cultural e da também paraense Patrícia Gondim. De Belém, Geraldinho Magalhães, Marcel Arêde e Viviane Chaves apoiaram a produção.