No último dia 11 de março, completou dois anos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o início da pandemia da Covid-19. O anúncio veio quase três meses depois dos primeiros casos registrados na China. Rapidamente, o vírus se alastrou pelo mundo e lotou hospitais. Trouxe medo e isolamento. Cidades foram fechadas, e o mundo, praticamente, parou.
São mais de 452 milhões de casos no mundo e 6 milhões de mortes. No Brasil, são 29,7 milhões de casos e 658 mil mortes, em grande parte pela omissão e negacionismo protagonizados pelo presidente Bolsonaro e a cúpula do seu Governo. Já o Amazonas, que também viveu períodos de grande sofrimento e desespero, tanto em 2020 (primeira onda), mas sobretudo, em 2021 (segunda onda), já contabiliza a triste marca de 581 mil casos e 14.147 mortes, com milhares de famílias enlutadas e outras tantas ainda com sequelas da doença.
Neste ano de 2022, uma nova onda da Covid-19 ameaçou o mundo, o Brasil e o Estado do Amazonas. Com a variante Ômicron, embora menos letal, devido à vacinação, que continua lenta, mas que também lotou hospitais, demonstrando mais uma vez a inoperância do Governo para enfrentar a crise.
Esse tipo de omissão e inoperância dos Governos Federal e do Estado foram vivenciados das piores formas durante a crise da falta de oxigênio, no início de 2021, durante a segunda onda. O dia 14 de janeiro de 2021, quando o Amazonas colapsou, não pode ser esquecido. Hospitais e cemitérios lotados e falta de oxigênio, amazonenses morreram asfixiados em uma crise sem precedentes. É preciso continuar a cobrança para que a Justiça puna os responsáveis por esta tragédia. Sem leitos em hospitais, muitas famílias buscaram comprar cilindros de oxigênio e não encontravam para tentar salvar seus familiares.
Naquele período apresentei, com apoio de várias entidades da sociedade civil, denúncia no Ministério Público Federal com relatos dos casos de falta de oxigênio e mortes na capital e municípios do interior do Estado, solicitando apurações e responsabilidades do Governo Estadual e Federal. O ministro Pazuello esteve em Manaus dias antes, mas nada resolveu. A demora dos governos para garantir oxigênio causou a morte de dezenas de pessoas. Esta denúncia também apresentamos à CPI da Covid, no Senado.
Mas nesses dois anos de pandemia, uma ação foi fundamental para tentar conter o avanço da Covid, nos casos de agravamento e mortes: a vacinação. No Amazonas, as imunizações para proteger a população começaram no dia 19 de janeiro de 2021. Porém, começou de forma lenta e, mesmo após um ano, ainda não conseguiu atingir o total de amazonenses vacináveis.
De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS/AM), já foram aplicadas mais de 6,6 milhões de dose (dados até o dia 21/3/22), representando 67% da população com a segunda dose e somente 35,6% com a terceira dose. Ainda muito inoperância do Governo do Estado.
No caso da vacinação das crianças, bastante dificultada pelo Governo Bolsonaro, mas iniciada no Brasil no dia 14 de janeiro, ainda precisa ser agilizada. Em fevereiro, o Amazonas figurava entre os mais atrasados do país. Enquanto a meta nacional é alcançar 90% de meninos e meninas entre 5 anos e 11 anos, no Estado, ainda contabilizamos 26% com a primeira dose e somente 5,7% com a segunda dose. Muito negacionismo envolvido, junto com medo e falta de informação de muitos pais, que acabam sendo levados pelas fake news que vêm de muitos lugares, mas, sobretudo, do próprio presidente e seus seguidores.
O certo é que ainda precisamos acelerar essas campanhas de vacinação. Em janeiro deste ano, dos 55 casos de pacientes internados com Covid no Estado, de acordo com a FVS, 61% não tinham sido vacinados. Prova de que as vacinas são, sim, esperanças de vida.
Por conta dessa melhora significativa no número de casos e mortes – no Amazonas, por exemplo, foram registrados ontem (21/3) 200 novos casos, mas zero óbito por Covid – vários governos e prefeituras do Brasil estão flexibilizando o uso de máscaras. Em Manaus, não é mais obrigatório em locais abertos, desde o último dia 16 de março. Mas ainda devemos manter os cuidados, principalmente, em ambientes com aglomerações.
Estamos vendo nova onda de casos na China, agora, pela variante Deltacron, com cidades obrigando a sua população a se isolar, fechando aeroportos. Casos que estão chegando na Europa e que acende um novo alerta, apesar do número ainda reduzido de casos graves e mortes. Especialistas já dizem que essa situação pode estar sendo influenciada pela queda no uso de máscaras em ambientes fechados, pelo cansaço das pessoas nesses dois anos de pandemia e pela flexibilização de outras restrições.
Isso certamente poderá chegar no Brasil e Amazonas, e de forma mais severa, já alertam alguns pesquisadores brasileiros, inclusive, orientando para que seja revista essa flexibilização do uso de máscara. E volto a dizer que o Governo e prefeituras precisam massificar as vacinações, buscando novas estratégias de conscientização à população.
A saúde e a vida precisam estar em primeiro lugar.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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