Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O médico Marcus Guerra, diretor-presidente da FMT (Fundação de Medicina Tropical), e o sanitarista infectologista Menabarreto França reagiram, nesta terça-feira, 22, à divulgação de estudo que sugere que Manaus pode ter alcançado imunidade de rebanho contra a Covid-19 sem a comprovação de outros cientistas.
Para os dois especialistas, esse tipo de informação confunde a população e é irresponsável. “Infelizmente, a informação feita de uma forma inadequada confunde a população”, diz Guerra.
Matéria do G1 desta terça-feira, 22, informa que uma análise em amostras de doadores de sangue do Hemoam (Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas) indica que a capital pode ter alcançado imunidade de rebanho, com até 66% dos habitantes infectados.
A imunidade de rebanho ocorre quando um número suficiente de pessoas em uma localidade já foi infectado ou imunizado contra uma doença e consegue evitar que ela circule.
Foram avaliadas 6.316 amostras colhidas entre os dias 7 de fevereiro e 19 de agosto. Na matéria é informado que o estudo não necessariamente representa toda a população de Manaus e que a pesquisa ainda não passou por revisão de outros cientistas. A pesquisa também foi noticiada em outros veículos de imprensa.
Para Menabarreto, a divulgação cria na população a sensação de que Manaus já superou a pandemia. “Cita várias universidades estrangeiras, etc, pesquisadores e aí parece assim que passa para a população que nós estamos aqui sem risco da doença. Isso não é verdade, eu estou indignado com isso”, afirmou.
Marcus Guerra afirma não ser possível dizer que a amostra seja significativa para toda a população.
“Quem é doador? São pessoas aparentemente bem saudáveis. Mas são buscadas em grandes grupos, são policiais, militares, autônomos que têm boa condição de saúde e financeira. Então, não é naturalmente o perfil do pessoal mais exposto e mais sujeito às contaminações”, afirmou.
Menabarreto concorda. Segundo ele, o universo da pesquisa é pequeno se comparado à quantidade de habitantes da capital.
“O universo que foi pesquisado é um universo restrito e viciado, que é o Hemoam, os doadores de sangue. Então, não podem dar ênfase à comunidade que 60% da população já teve contato com o coronavírus. Isso é mentira, é falso, não é honesto falar dessa forma”, disse.
Marcus Guerra afirma que para uma cidade alcançar a imunidade de rebanho, pelo menos 75% da população precisa ter sido infectada.
“Para qualquer outra doença infecciosa que seja pela infecção natural ou vacina, tem que estar acima de 75% da população com anticorpos capazes de mostrar a imunização das pessoas”, afirmou.
Segundo Guerra, não há como prever quando a população de Manaus atingirá a imunidade de rebanho, pois o objetivo das autoridades de saúde no momento é que as pessoas não se contaminem.
“É muito difícil fazer essa previsão. Até porque está sempre se propondo que as pessoas não se exponham, para não ter assim um aumento de modo que chegue a um estado crítico para o sistema de saúde e para a própria população”, explicou.
Menabarreto França critica a forma como o estudo foi divulgado. “Isso aí é uma irresponsabilidade de quem direcionou essa matéria. É um procedimento que nós não devemos apoiar. E se possível até o Ministério Público se manifestar sobre essas notícias”, disse.
Marcus Guerra orienta a população a manter as medidas de prevenção à Covid-19. “Continuem obedecendo os protocolos, porque quando o governo liberou [o comércio] ele não liberou dos protocolos. Ele disse que os protocolos continuam sendo necessários a ser utilizados pela população”, afirmou.