EDITORIAL
MANAUS – A grande mídia formada pelos arcaicos conglomerados de comunicação brasileiros tem insistido em um protagonismo de Lula com o propósito de pôr fim à guerra da Ucrânia, marcada pela invasão da Rússia ao país vizinho. A narrativa foi tão longe que agora passaram a cobrar o que chamam de “plano de paz de Lula”.
A narrativa não encontra eco nem nos fatos atuais nem na história. O Brasil nunca atuou como mediador em conflitos armados. No século passado, o Brasil entrou tardiamente na primeira e na segunda guerras mundiais. Neste século, têm participado de missões de paz, mas com atuação muito mais em ajuda humanitária do que na mediação de conflitos. O caso mais emblemático foi a missão de paz no Haiti.
O conflito armado na Ucrânia envolve inúmeros interesses de diferentes países, e estados nacionais mais poderosos do que o Brasil não têm conseguido atuar como apaziguador da guerra em solo ucraniano. Entre esses estão Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas mundiais e com maior poder bélico entre as nações.
Lula têm insistido desde o início da guerra que a solução deveria ser buscada pelo diálogo. As falas de Lula, no entanto, passaram a ser interpretadas pela grande mídia como fundamentais para a manutenção do conflito ou o fim dele.
Se Lula não fala sobre a guerra na Ucrânia, comete o pecado da omissão, inaceitável pela mídia. Se fala, cada palavra é avaliada e usada para dizer que o presidente brasileiro está a favor do invasor Vladimir Putin. Querem o Brasil no front ao lado de Volodymyr Zelensky.
É preciso repor a verdade. Lula não tem um plano de paz para a guerra da Ucrânia, como vem dizendo, por exemplo, a Folha de S. Paulo. O que o presidente brasileiro tem dito é que a solução deve ocorrer pelo diálogo. Mas sequer se colocou como mediador desse diálogo ou gerente de um plano que não existe.
Outra informação que a grande mídia omite é sobre a participação dos Estados Unidos na guerra. O maior país da América está fornecendo armas e outros equipamentos de guerra para a Ucrânia (outros países da Europa também). Estados Unidos e União Europeia impõem sanções comerciais à Rússia, que tem ajuda e apoio da Índia e da China.
Cada nação tem interesses comerciais tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia, inclusive o Brasil.
Nenhum desses países colocou à mesa um plano de paz para a guerra na Ucrânia. Ninguém está disposto a dialogar. Nem Rússia nem Ucrânia abrem mão daquilo que reivindicam para selar um acordo que leve ao fim da guerra.
Que força tem o Brasil para mediar tal conflito? Praticamente nenhuma. Se o país participar de qualquer plano de paz, será como coadjuvante. Cobrar de Lula essa missão é apenas uma tentativa de desacreditá-lo perante a opinião pública.
A grande mídia, mais do que qualquer brasileiro que consome seus produtos, sabe que Lula não terá êxito. Muito provavelmente não terá sequer a atenção dos países mais poderosos para iniciar conversas sobre um plano de paz.
Insistir neste discurso de que Lula não quer resolver o problema da Ucrânia é ignorância ou dissimulação. Conhecendo a mídia brasileira, a segunda opção é mais crível.