Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – A adoção de nomes engraçados ou populares para seduzir o eleitor volta a ser usada como apelo eleitoral por candidatos à vaga de deputados estadual e federal no Amazonas na eleição deste ano. A urna eletrônica terá de personagens de história em quadrinhos a nomes de pássaros.
É o caso do caipira Chico Bento, da Turma da Mônica, que quer ser deputado. No caso, o xará real. Candidato pelo PSDB, Chico Bento é a identidade eleitoral de Francisco Bento Macedo da Mota. Ele, provavelmente, adotou o apelido para tentar ser lembrado pelo eleitor.
Também tucana, ‘Chiquinha’ disputará uma das 24 cadeiras na ALE (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas). Na verdade, Francisca de Araújo Freitas. ‘Chiquinha’ ganhou fama como personagem do programa ‘El Chavo del Ocho’, ou como é popularmente conhecido no Brasil: ‘Chaves’, seriado de televisão criado pelo ator mexicano Roberto Gómez Bolaños.
O Psol, partido que tem como candidato ao cargo de governador do Amazonas Berg da UGT, aposta em um nome de um pássaro bastante conhecido no Amazonas: o Cuiú Cuiú. Josefá Teixeira dos Santos é ‘Cuiú-Cuiú’ candidato. Já o pássaro é da espécie de ave da família Psittacidae. É também conhecida no Brasil por maitaca ou periquito-grego. Pode ser encontrada nos seguintes países: Argentina, Brasil e Paraguai.
Pelo PMN, concorre o enigmático ‘Gouveia-Gou na Veia’. Joaquim Fonseca Gouveia fez um trocadilho com os prefixos e sufixos do nome para tentar obter projeção. A pronúncia lembra bordão de narrador de futebol.
Mais prático, Ailton Santa Fé de Jesus preferiu ser registrado na urna como Santa Fé. Deixou ‘Jesus’ de fora da identidade eleitoral, mas manteve a ‘santidade’ do nome.
Afinidade
O analista político Carlos Santiago diz que o uso desses nomes é facilitado pela legislação eleitoral e proporciona aos candidatos adotar apelidos e expressões pelas quais são conhecidos na vizinhança e comunidades. “Os candidatos utilizam dessa facilidade à medida que esses nomes têm mais poder de comunicação. A partir desse entendimento, colocam essa identidade para os amigos, sociedade e divulgam os nomes e números que têm mais afinidade”, disse.
Carlos Santiago lembra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que incorporou no nome o apelido ‘Lula’. O analista diz que muitas das vezes são colocados nas urnas nomes não muito comuns, mas é dessa forma que os candidatos acham melhor se comunicar com o eleitor, com a sociedade e ser identificado pelo trabalho que desenvolve.
“O nome não vai influenciar na atividade que eles se propõem, na atividade política. Às vezes, você tem um nome bastante estranho nas urnas, mas tem um comportamento sério, dinâmico e que representa os interesses da sociedade. Mas existem outras pessoas que têm um nome bastante bonito, inclusive nomes de santos, mas que chegam na política e a santidade vai embora e fica a corrupção e o maltrato na coisa pública”, disse Carlos Santiago.
Para o especialista em direito eleitoral Elso do Carmo, isso é fruto da democracia no País que ainda está engatinhando. Segundo ele, se for fazer um comparativo com outros 50 países de tradição democrática, em nenhum deles encontram-se esse tipo de postura. “As pessoas colocam esses nomes, muitas das vezes, por ser um nome que eles são conhecidos em suas comunidades. Outros colocam os nomes para fazer graça, acreditando que vão aparecer e serem lembrados”, disse.
Imaturidade
Elso do Carmo disse que avalia o uso desses nomes como fruto de uma imaturidade da democracia, quando as pessoas tentam fazer brincadeiras quando não são conhecido pelos nomes próprios. “Se essas pessoas são conhecidas por esses nomes, seria interessante que essas pessoas acrescentasse esses apelidos nos próprios nomes na certidão de nascimento” disse Elso do Carmo.
Na disputa das 24 cadeiras da ALE (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), 407 pessoas registram candidatura no Divulgacand (Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais), sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), até às 9h desta terça-feira.