MANAUS – A reportagem do Fantástico, exibida na noite deste domingo, mostrou que o dinheiro usado para compra de votos registrada em recibos pode ter saído de um contrato realizado pelo secretário executivo adjunto de Segurança para Grandes Eventos, coronel Dan Câmara. Ele contratou uma instituição dirigida por Nair Queiroz Blair (citada em matéria do Amazonas Atual na última sexta-feira) para realizar um estranho serviço de “implementação de solução tecnológica de monitoramento em tempo real móvel”. Pelo serviço, o Governo do Amazonas pagou R$ 1 milhão.
A entidade contratada é Agência Nacional de Segurança e Defesa, uma instituição sem fim lucrativo e sem endereço. Procurada no endereço constante da documentação a que a Rede Globo teve acesso, ninguém conhecia a entidade no prédio, em Brasília. Na sala indicada pela Agência Nacional de Segurança e Defesa funciona a Associação Nacional dos Municípios Sedes de Usina Hidrelétrica.
Um homem colocado na entidade como membro titular do conselho fiscal é garçom e disse à reportagem que pode ter sido colocado como “laranja”. Outro homem, suplente no conselho fiscal, disse estar desempregado, mas trabalhou no escritório de contabilidade responsável pela abertura da empresa-entidade de Nair Blair.
A dona da Agência Nacional de Segurança e Defesa, Nair Blair, foi presa pela Polícia Federal dois dias antes do segundo turno das eleições dentro de um comitê do governador José Melo, e com ela, várias pastas de documentos que revelam a compra de votos. Recibos de compra de óculos, realização de festas de formatura e reforma de túmulo foram os casos apresentados no Fantástico, todos com recibos, e confirmados pelas pessoas que receberam o benefício. Quem pagava o dinheiro, no próprio comitê, era Nair Blair.
A Polícia Federal prendeu Nair Blair durante uma reunião de pastores evangélicos, que se referiam a ela como “milionária” e diziam que falar com ela era o mesmo que falar com Melo. Os policiais infiltrados na reunião perceberam uma movimentação estranha em uma sala do comitê e encontraram nela Nair com uma bolsa onde havia R$ 7,7 mil. No carro dela foram encontradas várias pastas e papeis que o Ministério Público afirma ser a contabilidade da compra de votos. Na reportagem, a promotora de Justiça Sheyla Andrade dos Santos, afirma que os documentos evidenciam a prática delituosa.
De acordo com a reportagem, Nair confessou que dinheiro apreendido na bolsa dela saiu da conta da empresa que prestou serviços para o governo durante a Copa do Mundo. No extrato bancário da empresa havia um único depósito no valor de R$ 1 milhão, feito pelo Governo do Amazonas.
Transporte de eleitor
A reportagem também mostra documentos que comprovam o transporte irregular de eleitor. O ex-candidato a prefeito de São Sebastião do Uatumã Augusto Terço confirma por telefone, sem saber que falava com a reportagem do Fantástico, ter recebido R$ 20 mil para transportar eleitores na capital, R$ 10 mil em cada turno da eleição. Depois, diante da câmera, negou ter recebido qualquer valor e ter prestado o serviço.
O acerto, segundo Terço, foi feito com “O doutor Evandro”, como ele se refere a Evandro Melo, irmão do governador José Melo. Evandro era o coordenador geral da campanha do irmão à reeleição. Terço diz que recebeu no próprio comitê central do governador, com o próprio José Melo.
Evandro Melo também é suspeito de ter intermediado o contrato da empresa de Nair Blair com o coronel Dan Câmara.
Penas
O Fantástico também ouviu o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Toffoli, que falou sobre as penas que podem ser aplicadas a cada crime. “No aspecto político-eleitoral, pode levar à perda do mandato daquele que foi eleito comprando votos; e no aspecto criminal pode levar à condenação de à prisão de até quatro anos de reclusão”, afirma o ministro.
Sobre o transporte de eleitor, Dias Toffoli disse que “aquele que comete esse ilícito pode pegar prisão de quatro a seis anos.
Nota de Melo
Em nota, o governador José Melo diz que as denúncias mostradas no Fantástico surgiram durante a campanha eleitoral e foram “fabricadas pelo adversário Eduardo Braga, que insiste no terceiro turno”. Melo também diz, na nota, que “a Justiça Eleitoral saberá julgar os fatos e comprovar que foi tudo uma grande farsa”.
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