Da Redação
MANAUS – O abismo entre as regiões Norte e Nordeste e Sul e Sudeste se aprofundou na pandemia de Covid-19. É o que mostra um índice que mede os efeitos das desigualdades sociais em saúde nesse período, criado por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz Bahia (Fundação Oswaldo Cruz). O Índice de Desigualdades Sociais para a Covid-19 (IDS-Covid-19) foi lançado na quinta-feira (30).
Os dados alertam que a situação de desigualdade social em saúde no Brasil preexistia à Covid-19. Antes da pandemia, 98% dos municípios da Região Norte estavam nos agrupamentos 4 e 5, os dois piores grupos classificados pelo índice. Na Região Sudeste eram 35% dos municípios e, no Sul, apenas 7%.
“As desigualdades entre as regiões se aprofundaram, considerando que há uma melhoria dessas desigualdades em alguns municípios, embora não seja grande, enquanto outros permaneceram em situação crítica”, disse a epidemiologista Maria Yury Ichihara, coordenadora do projeto que desenvolveu a ferramenta.
Fontes dos dados
O IDS-Covid-19 foi calculado com base em dados socioeconômicos, sociodemográficos e de acesso aos serviços de saúde. Os pesquisadores usaram dados do Censo do IBGE de 2010, do Cadastro Nacional dos Equipamentos de Saúde para obter números de leitos de UTI e respiradores, e do Índice Brasileiro de Privação, que leva em consideração a renda, educação e condições de domicílio.
Foram definidas variáveis que mais se relacionavam com as desigualdades sociais em saúde na Covid-19 como o percentual de população residente em domicílios com densidade domiciliar maior que 2, percentual de idosos em situação de pobreza, além do percentual de pretos, pardos e indígenas.
“A pandemia atingiu as pessoas negras de forma distinta por conta das desigualdades raciais. Era preciso que a gente desse evidência a isso. E o índice tem como função dar uma forma de mensuração das desigualdades”, afirma a epidemiologista Emanuelle Góes, que fez parte da construção do IDS-Covid-19.
Norte e Nordeste
Após a primeira onda da pandemia de Covid-19, somente 3% dos municípios da Região Norte conseguiram reduzir as condições de desigualdades em saúde, segundo dados do IDS-Covid-19. Em uma comparação com municípios da Região Sul, por exemplo, 8% deles apresentaram redução das desigualdades.
Os dados do índice também mostram que nos quatro momentos medidos mais de 90% dos municípios da Região Norte ficaram na pior classificação quanto ao nível de desigualdades sociais em saúde.
Na Região Nordeste, em fevereiro de 2020, quase todos os municípios, 99%, estavam nos dois piores grupos com relação à situação de desigualdades sociais em saúde. No entanto, ao longo da pandemia, a região apresentou uma redução nessa condição com 95% em julho de 2020, 93% em março de 2021 e 92% em janeiro de 2022.
Sul e Sudeste
No Sul, o IDS-Covid-19 mostra uma ligeira redução das desigualdades. A Região não teve nenhum dos 1.188 municípios classificados (3 deles não foram incluídos na pesquisa) no pior agrupamento antes da pandemia (fevereiro de 2020).
Além disso, do último momento analisado (janeiro de 2022) para o período antes da pandemia, 196 municípios reduziram as desigualdades, de acordo com o índice.
No Sudeste, a distribuição de municípios quanto à classificação pela situação de desigualdade social em saúde esteve mais concentrada entre os níveis intermediários.
Em Minas Gerais, no início da pandemia, 50% dos municípios foram classificados nos dois últimos grupos, com pior situação de desigualdade, e 33% em uma posição intermediária. Por outro lado, em São Paulo 41% dos municípios estavam nos agrupamentos com menor nível de desigualdade e 11,3% nas duas piores posições.
No Rio de Janeiro, dos 92 municípios que compõem o estado, 39 iniciaram a pandemia nas piores situações relativas às desigualdades, segundo o índice, e 28 deles mantiveram o lugar ao longo dos períodos analisados pelos pesquisadores.