Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – O deputado estadual Dan Câmara (PSC) propõe tornar o gesto de bater continência, o grito “selva” e a saudação “Paz do Senhor Jesus” como patrimônio cultural de natureza imaterial do Amazonas. É a primeira proposta de lei do parlamentar, um dos dez recém-eleitos para o legislativo estadual.
As propostas estão nos projetos de lei 086/2023 e 087/2023, apresentadas nesta terça-feira (8). O deputado se baseia no artigo 216 da Constituição do Brasil.
O texto da Constituição diz que “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente, ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais incluem, as formas de expressão”.
Na justificativa, Dan Câmara alega que o número de evangélicos cresceu no Brasil nos últimos anos. De acordo com números do IBGE de 2010, apresentados pelo deputado, os adeptos desta corrente religiosa passam de 42 milhões de brasileiros.
O deputado afirma que no Amazonas os evangélicos representam 31% da população, com aproximadamente 1,16 milhão de pessoas. “Não podemos desconsiderar a grande influência cultural desta grande parcela de cidadãos brasileiros”, afirma Câmara, para quem “um dos costumes mais conhecidos dos evangélicos é o de se cumprimentam de uma maneira peculiar com a expressão ‘A Paz do Senhor Jesus'”.
O PL 087 trata do reconhecimento do gesto de continência e o brado “selva” como patrimônio cultural de natureza imaterial. “A continência é a saudação militar, sendo um sinal de respeito dado pelo militar individualmente a seus camaradas, superiores, iguais ou subordinados, às autoridades, a bandeira ou ao hino nacional, ou a tropa”, justifica o deputado.
A ação de bater continência é mundial e secular, “com registros desde a Idade Média”, afirma o deputado. A saudação “A Paz do Senhor Jesus” é adotada por evangélicos em todo o Brasil.
O grito “selva”, segundo Dan Câmara, foi adotado pelo coronel Jorge Texeira a partir de um fato cotidiano no CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva). “Conta-se que nos primeiros dias do CIGS não havia, ainda, ficha de serviço de viatura, o que levava a sentinela a perguntar o destino das viaturas que saiam do quartel. Quase sempre a resposta era apressada e precisa: “Selva!”, para indicar o destino dos veículos”, diz Dan.
A expressão foi popularizada por Jorge Teixeira, para substituir o “ok” e o “está tudo bem”. Jorge Teixeira foi prefeito de Manaus e governador de Rondônia.
Dan Câmara é coronel da PM-AM (Polícia Militar do Amazonas) e da família Câmara, que comanda a Ieadam (Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas), presidida por Jonatas Câmara. Dan é irmão do deputado federal Silas Câmara.
No dia 1º de fevereiro, Dan Câmara “chamou atenção” por trajar farda militar de gala na cerimônia de posse dos novos deputados, um ato civil.
Confira as propostas do deputado
Qual a finalidade de tornar patrimônio um ato que é feito apenas entre militares e que está institucionalizado desde antes do Brasil existir? Isso contribui em quê para a nação se todas as outras fazem a mesma coisa?
E o cumprimento entre evangélicos? É uma questão cultural? O que acrescenta ao país além do fato de agradar uma parcela da população sem agregar valores culturais e históricos?
Proposta inútil.