
Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – O comandante-geral da Polícia Militar do Amazonas, coronel Ayrton Norte, afirmou que as denúncias de abuso policial feitas por moradores de Nova Olinda do Norte ao MPF (Ministério Público Federal) são “factoides” e “informações desencontradas”.
Na última quinta-feira, 6, o MPF acionou a Justiça Federal para que a PF (Polícia Federal) investigue possíveis ilegalidades na operação da PM no rio Abacaxis, após a morte de dois policiais militares.
“O Ministério Público está fazendo o papel de fiscal da lei e nós estamos prontos para esclarecer qualquer dúvida. No mais, o que eu entendo que está acontecendo são factoides, são informações que estão chegando desencontradas, mas nós temos as verdadeiras operações que estão sendo passadas para os órgãos de controle e fiscalização”, disse Norte.
Segundo o coronel, o que existe na região é um “bando criminoso” com atuação no tráfico de drogas e na exploração mineral, que está sendo identificado como responsável pela violência contra ribeirinhos no município amazonense.
“Estamos interessados em capturar um bando criminoso que trabalha naquela área, que mexe com plantio de drogas, mineração, todo tipo de crime ambiental e tem preocupado a população. Nosso interesse maior é de estar ali para assegurar a vida das pessoas e aplicar a lei”, disse.
A operação, que acontece há 8 dias, foi desencadeada após o secretário-executivo do Fundo de Promoção Social do Governo do Amazonas, Saulo Moysés Rezende Costa, ser baleado enquanto praticava pesca esportiva sem licença ambiental.
Questionado sobre o envolvimento do secretário, Ayrton Norte afirmou que o trabalho foi feito para atender os amazonenses.
“Não tem peso nenhum (o caso envolvendo o secretário). Nós fomos acionados pelo secretário, recebemos a denúncia em várias redes de comunicação, inclusive na imprensa, que havia um grupo de piratas atacando naquela área e fomos lá para atender a população do amazonas”, disse.
O comandante informou que deve aguardar inquérito policial sobre o caso, com todos os fatos expostos desde o primeiro acontecimento, e reforçou que a PM está à disposição dos órgãos de controle.
A reportagem entrou em contato com o MPF, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.
Mortes de indígenas
Dois indígenas da etnia Munduruku foram mortos durante a operação em Nova Olinda, segundo denúncias de entidades indígenas. Os corpos de Josimar Moraes Lopes, de 25 anos, e seu irmão Josivan Moraes Lopes, de 18 anos, foram encontrados no rio por comunitários.
A FAMDDI (Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas) divulgou nota pública solicitando “às autoridades brasileiras” que estejam presentes no município para acompanhar a operação. “Que atuem firmemente para que as ações policiais em confrontos com narcotraficantes não extrapolem os limites legais” e que “sejam apuradas as mortes e as condições em que essas se deram. Indígenas relatam que até este momento dois de seus parentes foram torturados e mortos e seus corpos jogados no rio”.
A nota foi assinada por dez entidades como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a Adua (Associação dos Docentes da Ufam), o Secoya (Serviço e Cooperação Com o Povo Yanomami) e figuras como o deputado federal José Ricardo.
Sobre a morte dos indígenas, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Louismar Bonates, afirmou que não tinha informações sobre os corpos. Ele alega a dificuldade de comunicação e de acesso ao local. “Nós recebemos informação de três corpos que teriam sido achados, mas não temos confirmação do local onde estão. Não tem comunicação, é (local) de difícil acesso, estamos esperando ainda as confirmações desse novo achado”, disse.

O secretário também informou que foram encontradas quatro plantações de maconha em área de floresta no município e que seriam queimados pelos policiais.
Polícia Federal
Após a solicitação do MPF, a Polícia Federal enviou grupo de agentes nessa segunda-feira, 10, à Nova Olinda. O governador Wilson Lima disse que a PF está monitorando a relação dos policiais militares com os povos indígenas.
“Ontem (segunda), nós recebemos o apoio da Policia Federal. E por que a Policia Federal está indo para lá? Porque aquela também é uma área indígena e por isso a necessidade de haver um trabalho integrado entre as forças de segurança para que a gente possa ter êxito nesse trabalho”, disse.
Para o governador, a polícia deve cumprir um papel ‘rigoroso’ no combate ao crime no interior. “A determinação que eu dei é que a polícia aja com rigor e que não dê espaço para bandidagem, e que leve tranquilidade para quem mora naquela região”, disse.