Da Redação
MANAUS – Delegado da Polícia Federal responsável pela Operação Handroanthus, que apreendeu a maior quantidade de madeira extraída de forma ilegal na Amazônia, em 2020, Alexandre Saraiva disse que nunca encontrou na Amazônia um plano de manejo certo.
“Acompanhei pessoalmente mais de mil processos, e outros colegas muitos outros”, afirmou em debate pela internet promovido pelo Instituto de Engenharia de São Paulo, que celebra 105 anos.
“O que vemos hoje, é um desastre para a biodiversidade amazônica, mas o pior é que nada se muda desde 1500. Essa dinâmica não é nova. Nós não aprendemos nada”, diz Saraiva.
Alexandre Saraiva foi afastado da Superintendência da PF no Amazonas ao denunciar o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles ao MPF. Segundo ele, “organizações criminosas se apoderaram do esquema da madeira ilegal na Amazônia”. Esse, segundo o delegado, é o principal ponto a ser combatido.
O Instituto reuniu especialistas para debater a “Amazônia e Bioeconomia – Sustentada em Ciência, Tecnologia e Inovação”. A intenção foi discutir oportunidades e desafios do país para a bioeconomia, além de reações sobre as mudanças climáticas, cooperação entre instituições públicas, governo e iniciativa privada.
“Nós precisamos priorizar a defesa da Amazônia”, defende Alexandre Saraiva. Ele definiu a apreensão de madeira na Handroanthus como um “desastre para a nossa biodiversidade”.
O delegado teve o apoio de Carlos Nobre, cientista e pesquisador. Conforme Carlos Nobre, a floresta amazônica remove entre 1 e 2 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano da atmosfera.
“A Amazônia também recicla o vapor d’água para o Sul do Brasil. É o fenômeno dos ‘rios voadores’. Com isso, por exemplo, 18% das chuvas da bacia do rio Paraná, vem da umidade da Amazônia, o que ajuda para a agricultura”, diz o professor.
Segundo Carlos Nobre, há mais espécies em apenas um hectare da floresta amazônica do que em toda a Europa. “É a maior biodiversidade do mundo”.
Para Marcio Souza, romancista e dramaturgo, autor de várias obras com a temática amazônica, há questões urgentes como o genocídio planejado das populações e cultura do local, bem como o ataque ao meio ambiente.
“Não é possível dissociar essas questões e ver a falta de diálogo com essas etnias que estão há milênios por lá”, disse o escritor.
Confira o debate dos participantes na íntegra.