Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – Trinta anos após lançamento de projeto de integração urbana, a Avenida Lourenço da Silva Braga – a Manaus Moderna -, na orla da capital, é quase intransitável entre a Feira da Banana e o Mercado Adolpho Lisboa, o lixo decora trechos da via e ruas adjacentes e a disputa entre feirantes, consumidores e automóveis transforma o local em arena. Não há perspectivas de mudança. Dos 11 candidatos a prefeito de Manaus, apenas um propõe novo planejamento da área, outros três propõem reforma.
Taís Furtado, professora de Arquitetura e Urbanismo da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), defende que seja implementado um projeto de qualificação urbana no local. Para ela, três medidas são urgentes: solução para tráfego de veículos, criação de eixos de conexão e destinação dos resíduos sólidos.
“O tráfego é uma questão estrutural da cidade, o local recebe grandes caminhões de descarga e não existe uma solução fácil que não seja de reestruturar o sistema viário. Organizar horários para os caminhões durante o dia e organizar os estacionamentos, área de carga e descarga, por exemplo”, diz.
A Manaus Moderna foi projetada em 1986 e construída com recursos do BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) e compreende os espaços da Igreja Nossa Senhora dos Remédios, Terminal de Cargas e Descargas do Porto Flutuante de Manaus, Mercado Adolpho Lisboa, feira, estacionamento, Feira da Banana, e Avenida Marques de Santa Cruz.
O local é porta de entrada da cidade e apesar de ter atrações turísticas como o Mercadão, o acesso é desorganizado. Para Taís Furtado, é necessário pensar no espaço como elementos que se conectam, criando circuitos e conexões.
“Os elementos simbólicos, praças, parques e largos, do centro de Manaus, estão desarticulados entre si. É possível criar uma rede de espaços conectados por circuitos que possibilitem o percurso a pé e por bicicleta, levando as pessoas a caminharem pela orla, resgatando antigas relações cidade-rio, pelo menos em termos de paisagem”, defende Furtado.
A falta de planejamento do espaço prejudica principalmente quem necessita do local para trabalhar. É o caso de Claudionor da Costa Kramer, 49, que há 20 anos vende frutas por atacado do lado de fora da Feira da Manaus Moderna.
Claudionor fez do local o comércio de família: todos os seis irmãos trabalham na feira, são dez pessoas cuidando e vendendo os produtos. O trabalho proporciona um renda de R$ 6 mil por mês. Ele reclama que a falta de organização do tráfego e do espaço impede os clientes de comprarem mais.
” Os clientes não podem parar porque tem uma placa mostrando que aqui é um ponto de frete, esses caras (donos dos fretes) não deixam e são pessoas que acham que são donas, não existe fiscalização”, disse.
Outro ponto criticado por Claudionor é a sujeira que, segundo o vendedor, acaba sendo provocada pelos próprios comerciantes.
“Existe falta de consciência das pessoas, o pessoal da comissão gestora faz o trabalho deles, mas eu vejo que os próprios feirantes são imundos, não colaboram, não são todos, mas são alguns, a gente vê as frentes todas sujas. Eles acham que por serem permissionários têm direito, não é assim”, disse.
Em 2015, o prefeito Arthur Virgílio Neto anunciou uma reforma na Manaus Moderna ao custo de R$ 950 mil. Foi implantada iluminação, sinalização e guarda corpo. O prefeito também fez a recuperação de calçadas e pavimento asfáltico. O resultado, no entanto, não foi suficiente para mudar a situação do local.
A feirante Ângela Maria da Silva, 51 anos, única mulher a trabalhar com a venda de peixes na Feira da Manaus Moderna, conta que a reforma não foi suficiente. “Tinha melhorado muito mesmo, mas depois virou bagunça tudo de novo, aí ficou do jeito que tá. Eles tiraram as barraquinhas da frente, mas não adianta, o povo volta”, relatou.
Ângela trabalha na feira há 22 anos e diz que tem dificuldade até para entrar no local. “Deveria ter uma organização melhor, aí na frente quando a gente chega não tem como parar, é uma luta só pra gente entrar. E quando chegam os barcos encontram uma pilha de carros, um por cima do outro”, disse.
Vontade Política
No pleito deste ano Manaus tem 11 candidatos a prefeito, destes apenas um propõe a construção de uma nova Manaus Moderna: Ricardo Nicolau (PSD). Os candidatos Marcelo Amil (PcdoB), Chico Preto (DC) e Alfredo Nascimento (PL) estão propondo a reorganização e a reforma de alguns pontos. São citações superficiais. Nenhum deles explica como serão os projetos nos planos de governo registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Projetos de urbanização da cidade também não aparecem nos discursos de campanha dos candidatos nos debates, entrevistas ou propaganda de rádio e TV. Os prefeituráveis estão focando em debater propostas sobre saúde, segurança e geração de renda.
A urbanista Taís Furtado considera que os problemas enfrentados pela população no local pode ser resolvido com vontade política, de todas as esferas do executivo. “O que falta para a Manaus Moderna é vontade política, reflexão coletiva e a criação de marco legal, com ações conjuntas, município, estado e governo federal, para sua transformação a médio e longo prazos. Pode-se estimular a reflexão por meio de concursos de ideias e projetos abertos ao público”, frisou.
Em 351 anos o acesso aos barcos que atracam na orla da avenida ainda é feito por pranchas de madeira entre as embarcações e a areia na época da seca. Na cheia, o que sobra de escada no muro de contenção serve de plataforma para subir e descer dos barcos.
Ângela Maria da Silva, a permissionária da Feira da Manaus Moderna, espera que o próximo prefeito reestruture o local. “Queremos sim que olhem pra cá, assim tudo melhora pra gente que vende e também pra quem visita”, disse.