Escrevo estas linhas provocado por um leitor do AMAZONAS ATUAL, que questionou o fato de não termos publicado nada sobre a anunciada revitalização da Manaus Moderna, na semana passada. O prefeito Arthur Virgílio Neto foi ao local, fazer o anúncio de um projeto de R$ 950 mil. O valor parece muito, mas não é. Dá para fazer, no máximo, uma reforma no local. E, pelo que escreveu e distribuiu a Secretaria Municipal de Comunicação Social (Semcom), a obra não passará de uma reforma.
Vejamos: “O projeto contempla a recuperação de todo o pavimento asfáltico, a implantação de iluminação LED (…), novo mobiliário urbano, faixas para pedestres com ponto de travessia elevado, sinalizações horizontais e verticais, restauração das calçadas com espaço mais amplo para passeio, instalação de guarda-corpo, entre outras melhorias na infraestrutura da orla”, informou a Semcom.
Tal projeto não é diferente do que foi apresentado pelo Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) em agosto de 2013, com imagens em perspectiva, e que foi criticado em texto publicado no Blog do Valmir Lima, pelo fato de as imagens (reproduzidas abaixo) mostrarem a orla do Rio Negro “enfeitada” com palmeiras imperiais. Na ocasião, o Implurb informou que as árvores eram meramente ilustrativas.
Em que pese a falta de manutenção das calçadas e da pista, o que mais incomoda a população de Manaus é a desordem naquela área da cidade. Tal desordem é causada, principalmente, por duas atividades que tem o rio como porta de entrada: o embarque e desembarque de cargas e passageiros, e comercialização na Feira da Manaus Moderna. A anunciada revitalização não contempla nenhuma dessas atividades. Como falar em revitalizar a orla da Manaus Moderna sem pensar em uma intervenção na feira? No período de cheia do Rio Negro, a feira é seriamente comprometida pelas águas; a Feira da Banana é um anti-cartão postal da orla; a outra feira, de venda no varejo é um mal exemplo que os turistas levam para suas cidades de origem, pela sujeira, desordem, má conservação dos produtos entre outros problemas.
Na campanha eleitoral de 2012, um dos adversário do prefeito Arthur Virgílio Neto, o engenheiro Jerônimo Maranhão (PMN), apresentou uma proposta digna de aplausos. Ele pretendia, se eleito, derrubar a Feira da Manaus Moderna e reconstruí-la com três pavimentos. O primeiro, para os produtos molhados (peixe, carnes, verduras etc); o segundo, para os produtos secos (estivas de um modo geral e artesanato); e o terceiro piso abrigaria os restaurantes, com uma bela vista para o Rio Negro. No entorno, com a retirada da Feira da Banana, pretendia o candidato ampliar a área de estacionamento da feira.
Uma obra dessas não seria tão cara, se feita com honestidade, sem os superfaturamentos que costumam ocorrer nas obras públicas. Seria possível, inclusive, construir uma estrutura ao estilo dos modernos shoppings e grandes redes de supermercados, com escadas rolantes e elevadores, pra permitir o acesso a pessoas com deficiência física. Por que a iniciativa privada consegue vender os mesmos produtos das feiras de Manaus em um ambiente limpo e os feirantes (em todas as feiras) trabalham na sujeira?
Dos restaurantes, se a Prefeitura de Manaus exigisse um padrão de qualidade adequado, mesmo para os restaurantes populares, poderia, inclusive, atrair turistas para conhecer a culinária popular de Manaus; ou poderia estabelecer padrões que iriam do popular à alta culinária, por que não?
Como o próprio nome do local sugere, a nova feira teria uma arquitetura moderna, contrastando com a centenária arquitetura do Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Qualquer prédio que se erga no local será mais aprazível ao olhar do viajante que chega ou sai da cidade pelo rio do que a atual Feira da Manaus Moderna.
Com uma nova estrutura nos moldes do que sugeriu Jerônimo Maranhão, poderíamos sonhar com o ordenamento capaz de atrair visitantes que hoje não têm coragem de se aproximar daquela área da cidade. E não precisaria de 7 anos, como fizeram com o Mercado Adolpho Lisboa. Talvez em uma administração fosse possível. É preciso começar.
As imagens em perspectiva divulgadas em agosto de 2013.
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