
Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS — Sem manutenção, o local que no final do século XIX e início do século XX foi um leprosário e uma casa de detenção, na Vila de Paricatuba, em Iranduba, na Região Metropolitana de Manaus, está sendo destruído pela própria natureza e corre o risco de desabar, segundo um relatório técnico da Defesa Civil do Amazonas. A estrutura tem grau de risco considerado crítico. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) pediu o isolamento do local para ações imediatas.
“As áreas inspecionadas do Sítio Arqueológico de Paricatuba apresentam um grau de risco crítico, tanto para a segurança, saúde e bem-estar de seus ocupantes, quanto para a manutenção da integridade física e histórica do edifício. Torna-se, portanto, imprescindível e emergencial a realização de uma reforma completa”, diz trecho do relatório, assinado pela engenheira civil Jéssyca Lever Dantas.
O sítio arqueológico, que recebe visitantes durante todo o ano, foi vistoriado no último dia 29 de maio, após o desabamento de parte da estrutura. A comissão técnica que esteve no local contou com engenheiros do Iphan, do Governo do Amazonas, da Prefeitura de Iranduba, além de moradores da vila.
O relatório lista rachaduras, muros caídos e avanço da vegetação como agravantes da situação. Raízes de árvores grandes têm invadido as fundações e causado deslocamentos nas paredes. Os pilares, segundo a engenheira, foram erguidos com tijolos deitados, o que aumenta a fragilidade. As paredes apresentam umidade, infiltrações e sinais de deterioração acelerada.
A Defesa Civil recomendou a estabilização imediata das partes com risco de colapso e a elaboração de um projeto técnico de recuperação, incluindo testes complementares.
“A urgência dessas medidas justifica-se não apenas pela necessidade de garantir a segurança estrutural do sítio e dos transeuntes na Vila de Paricatuba, mas também pela importância de preservar o valor histórico-cultural do edifício e restabelecer sua função social e simbólica para a comunidade local”, diz trecho do relatório.
O Iphan pediu o cercamento emergencial do prédio. “Venho por meio deste solicitar o apoio da UGPE/SEDURB através da execução de cercamento em madeira no perímetro externo e pátio interno do prédio principal (…) além do escoramento dos trechos com risco de desabamento da estrutura”, diz trecho do ofício assinado pela superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Evanovick.
De acordo com a Defesa Civil, a situação põe em risco a segurança dos visitantes. “Fatores como a presença de vegetação invasiva, colapso parcial de paredes, umidade acentuada, fissuras estruturais e a exposição constante às intempéries indicam um risco iminente à estabilidade das estruturas remanescentes, bem como à segurança de visitantes e transeuntes”, diz trecho do relatório.

Prédio histórico
De acordo com o Iphan, o prédio foi destinado à hospedaria de imigrantes, no final do século XIX, no contexto econômico da exploração da borracha na Amazônia. “Relativamente distante da cidade de Manaus, considerando seu acesso pela via fluvial, na hospedaria residiriam os imigrantes por um período de quarentena, até que os mesmos fossem destinados aos seus locais de moradia”, diz o Iphan.
Poucos anos mais tarde, o prédio foi transformado em Escola de Ofícios, destinados a meninos pobres. Entre 1916 e 1924, o lugar foi destinado à reclusão de detentos da Casa de Detenção de Manaus. A partir de então, Paricatuba foi escolhida para sediar um leprosário, um campo de segregação e isolamento social de pessoas como estratégia de combate a hanseníase. O leprosário funcionou até o ano de 1962.
O sítio arqueológico é reconhecido e protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro, por isso o Iphan foi acionado para fazer a vistoria. Além disso, a Vila de Paricatuba é considerada Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Amazonas, o que também envolve a participação do governo estadual.
Em nota, o Iphan informou que realizou vistorias técnicas e uma série de reuniões com órgãos parceiros e representantes da comunidade com o objetivo de assegurar medidas de proteção imediata ao local.
Ainda segundo o instituto, como resultado desse processo, foram pactuadas ações emergenciais, formalizadas por meio de ofício encaminhado às instituições envolvidas, como UGPE/SEDURB (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano), SEC (Secretaria do Estado de Cultura), Corpo de Bombeiros, Defesa Civil do Estado, Ipaam, Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba, e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.

Leia a nota na íntegra:
NOTA SOBRE O SITIO ARQUEOLÓGICO DE PARICATUBA
Ações Emergenciais para as Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio da Superintendência no Amazonas, tem acompanhado de perto a situação das Ruínas do Sítio Arqueológico de Paricatuba, em Iranduba/AM e informa que realizou vistorias técnicas e uma série de reuniões com órgãos parceiros e representantes da comunidade com o objetivo de assegurar medidas de proteção imediata ao local.
Como resultado desse processo, foram pactuadas ações emergenciais, formalizadas por meio do Ofício nº 498/2025, encaminhado às instituições envolvidas, como UGPE/SEDURB, SEC, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil do Estado, IPAAM, Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente de Iranduba, e a Associação de Moradores da Vila de Paricatuba.
Entre as medidas definidas estão:
• Cercamento e escoramento das estruturas;
• Poda de árvores que oferecem risco às estruturas;
• Inventário das espécies vegetais para subsidiar os serviços de poda;
• Capina e limpeza da vegetação no entorno;
• Restrição de áreas de visitação, conforme recomendação da Defesa Civil.
Além das ações emergenciais, foi instituído um grupo de trabalho responsável por acompanhar e fiscalizar a execução das medidas, fortalecendo a atuação integrada entre os órgãos públicos e a comunidade.
O Iphan também informa que está em andamento a construção de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que visa garantir intervenções estruturantes no sítio, incluindo reforço estrutural, melhorias na acessibilidade e implantação de iluminação no entorno das ruínas, assegurando condições adequadas para sua preservação e uso público.
O Sítio Arqueológico de Paricatuba é protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro, conforme a Lei Federal nº 3.924/1961. Também conta com reconhecimento como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do Estado do Amazonas, pela Lei Estadual nº 4.260/2015, e proteção municipal, de acordo com o artigo 215 da Lei Orgânica do Município de Iranduba.
O Iphan reafirma seu compromisso com a preservação do patrimônio cultural e reforça que essa é uma missão coletiva, que depende da colaboração permanente entre instituições, gestores públicos e comunidade local.