Por Saadya Jezine, da Redação
MANAUS – O empresário Sérgio Vergueiro, de 77 anos, tem 47 anos dedicados à produção rural no Amazonas e 35 no cultivo e comercialização da Castanha do Brasil. Em entrevista ao AMAZONAS ATUAL, por ocasião de uma homenagem que recebeu do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Vergueiro faz uma retrospectiva da sua história no Estado, que se iniciou em 1969 com a criação da Fazenda Aruanã, localizada no quilômetro 215 da AM-010, rodovia que liga Manaus-Itacoatiara. A fazenda tem 17 mil hectares de área cultivada e 1,3 milhão de castanheiras plantadas, além do plantio de pupunha sem espinha e de copaíba. O sucesso do empreendimento, que demorou 25 anos para “colher os frutos da castanha”, ocorreu com a participação de instituições como o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) e Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Vergueiro também fez questão de lembrar a responsabilidade socioambiental do projeto, que através do Instituto Excelsa, criado e gerido pela filha do empresário, Alice Vergueiro, tem como foco fortalecer o plantio da castanha em comunidades próximas à fazenda e recuperar áreas degradadas na Amazônia.
AMAZONAS ATUAL – O senhor começou em que ano o Projeto da Fazenda Aruanã?
SÉRGIO VERGUEIRO – Em 1969, a convite do governador Danilo Areosa (governou de 1967 a 1971), por isso que nós compramos aqui essas áreas do governo e começamos a trabalhar.
ATUAL – Qual o tamanho atual da área da fazenda?
VERGUEIRO – A Aruanã tem uma área de 17,5 mil hectares. E nós temos hoje um projeto de manejo florestal que tem 18 mil hectares. Infelizmente nossos projetos de Presidente Figueiredo que não era Presidente Figueiredo aquela época, porque nem tinha estrada, e nem Balbina, não deram certo. Os nossos outros projetos ficaram alagados depois da construção de Balbina. Lá não conseguimos desenvolver nada.
ATUAL – Vocês iniciaram a produção da fazenda já com o plantio de castanha?
VERGUEIRO – Não. Era floresta. Nós derrubamos 3 mil hectares de floresta e transformamos isso em pasto. Mas a pecuária não deu certo, por estar só em terra firme. Então, nós tínhamos duas alternativas: ou alargar isso aqui com uma cicatriz de 3 mil hectares na floresta ou vê se a gente tinha uma alternativa para implantar algo produtivo. Foi no período que descobrimos as pesquisas da Embrapa a respeito do cultivo de castanha e transformamos todos os 3 mil hectares que derrubamos plantando castanheira e voltando a floresta. Depois disso, comprei mais 700 hectares do vizinho e plantei também de castanha porque é o chamado “juro ecológico”, eu derrubei 3 mil e recuperei 3,7 mil hectares.
ATUAL – O senhor começou a plantar castanha em que ano?
VERGUEIRO – Em 1981.
ATUAL – E quando o senhor começou a colher os primeiros frutos?
VERGUEIRO – Quando nós começamos a plantar a castanha, a Embrapa achava que em seis anos nós começaríamos a ter produção, mas levou 25. E então, 25 anos depois, ou seja, em 2006, nós começamos a ter produção comercial. Não digo um ouriço ou outro ou alguma árvore, digo a produção em larga escala, porque são 1,3 milhão de árvores, então muitas começaram a produzir antes disso, mas para atingir a produção comercial que ainda está em evolução hoje, que é lenta, mas é sempre, levou para nós 25 anos.
ATUAL – Atualmente ainda demora 25 anos entre plantar uma castanheira e colher os frutos?
VERGUEIRO – Não. Hoje em dia, depois que nós aprendemos a plantar, a fazer muda e etc, em 15 anos dá para atingir a produção comercial.
ATUAL – As primeiras vendas foram em que ano?
VERGUEIRO – Não basta colher, você tem que transformar em o que colhe num produto adequado às exigências do mercado. Então, esse produto nós desenvolvemos há nove anos. Exatamente em 2006 começamos a desenvolver. Temos uma marca, chamada Econut (embalagem de 110 gramas, com cerca de 30 castanhas).
ATUAL – Qual o principal mercado consumidor desse produto?
VERGUEIRO – Toda nossa produção é consumida no Brasil, não sobra para exportar, embora ele tenha condições de ser exportado para qualquer país do mundo, inclusive para a Noruega, que é a mais exigente com alimentos. Mas não sobra, porque a nossa produção, além de ser enorme, ela é totalmente consumida no Brasil. São nove Estados que consomem toda a nossa produção. Nós temos um produto que é registrado como orgânico no Ministério da Agricultura, então ele é vendido nas lojas de produtos orgânicos, principalmente.
ATUAL – Qual o tamanho da produção? Quantas toneladas vocês colhem de castanha?
VERGUEIRO – Isso é uma coisa difícil de responder porque ela aumenta todo ano. Você sabe que como é produto tropical, tem ano que dá muita castanha, ano que dá pouca. Ano que o inverno é como esse que passou, meio “veraniado”, então a gente não sabe. Mas de qualquer forma nós começamos com a produção comercial de 10 toneladas de produto acabado por ano, crescentemente, e neste ano pretendemos dobrar a produção. Nós ainda estamos explorando cerca de 30% do nosso castanhal, porque a gente tá fazendo toda a limpeza do local. Mesmo plantado, cresce também uma vegetação secundária. Então nós temos a licença do Ipaam [Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas] para retirarmos essa vegetação e termos acesso às castanheiras que estão produzindo. Então a meta é aumentar a produção até atingirmos 100 toneladas do produto por ano.
ATUAL – Quantas pessoas vocês empregam na fazenda?
VERGUEIRO – Diretamente, na fazenda, nós empregamos 25 famílias, agora indiretamente devido o contrato que temos para realizar limpeza, colheita, etc, nós temos mais ou menos 120 pessoas. Na época de safra, de limpeza, é um período que não é direto. Conosco durante todo o ano temos essas 25 famílias, inclusive muitos que nasceram na fazenda e são nossos empregados hoje.
ATUAL – Que outros cultivos vocês desenvolvem nessas terras?
VERGUEIRO – Pupunha sem espinho, que produz palmito e o fruto da pupunha e temos também junto com o Inpa, desenvolvendo um trabalho de produção de cogumelos comestíveis sob a madeira da castanha, e está indo muito bem.
ATUAL – A castanha representa quantos por cento da sua produção total?
VERGUEIRO –Ela representa 90%. Digamos que ela seja o carro-chefe.
ATUAL – O senhor atualmente está apostando no futuro dos seus investimentos nesses outros produtos ou a menina dos olhos é a castanha?
VERGUEIRO – Os outros produtos são decorrência da existência da castanha, exceto a pupunha que é um plantio a parte, que é muito bom também porque a pupunha não demora muito. Você planta e em um ano e meio você já tem palmito e em 5 anos você já começa a ter o fruto da pupunha.
ATUAL – O fruto é a única coisa que vocês aproveitam da castanha?
VERGUEIRO – Uma parte das castanheiras que plantamos também tem o objetivo da madeira e a madeira para ser utilizada tanto como artesanato como madeira especificamente como outras utilidades, porque a castanheira nativa é proibida cortar mas a castanheira plantada, não, e ela pode ser plantada para comercialização da madeira e nós temos um tipo de plantio que pode ser usado; aquelas que árvores que dão poucos ouriços e estão entre as que dão muito ouriço, nós podemos cortar para vender a madeira.
ATUAL – A Fazenda Aruanã realiza um trabalho socioambiental para incentivar o plantio da castanha por produtores rurais. Como é feito esse trabalho?
VERGUEIRO – Há oito anos, quando nós nos asseguramos da técnica de plantar, enxertar, colher castanha, nós passamos a oferecer de graça mudas de castanha para as comunidades perto da Aruanã e etc e tal, através de um instituto que se chama Excelsa, que é a minha filha Ana Luiza quem está na diretoria. E nós tivemos uma surpresa que foi muito agradável. O pessoal da região que olhou como exemplo a Aruanã – porque o caboclo é desconfiado, ele não vai plantando assim, ele esperou passar esses 25 anos pensando o que esses “arigós” estão fazendo aqui – e quando começou a produzir, pensaram: bom, agora funciona. Então, hoje nós temos 600 mil mudas plantadas por 1.500 famílias em mais de 120 comunidades em toda região. Por isso que nós estamos desenvolvendo um trabalho de registro de denominação de origem controlada da castanha da região do Urubu. Essa região toda tem características muito boas de selênio. Como os bons vinhos fazem, a exemplo, do Vinho do Porto, a castanha também merece ter a sua região para mostrar ao mundo que aqui se produz uma castanha de muita qualidade, e se Deus quiser vai ter.
Durante homenagem do Cieam, Vergueiro fala de sua relação com a Amazônia:
Caro Sérgio
Um relato muito bonito que demonstra sua fibra, coragem e paciência para colher frutos após décadas, com responsabilidade e visão social. Parabens