EDITORIAL
MANAUS – Os anos de 2020 e 2021 deveriam servir de aprendizado da convivência humana com o vírus da Covid-19. A aproximação com as festas de fim de ano e o aparecimento de uma nova variante do vírus merecem reflexões de todos, principalmente das autoridades.
As vacinas trouxeram um alento, mas não foram suficientes para isolar a doença. No Brasil, a Covid-19 continua matando, menor número de pessoas, é verdade, mas matando, em média, 227 brasileiros por dia (média móvel dos últimos 7 dias).
A nova variante identificada primeiro no continente africano, especificamente na África do Sul, e que se espalha pelo mundo, ainda é desconhecida. Não há informações consistentes sobre os estragos que a cepa ômicron pode causar, mas há evidências de que ela tem poder de infecção maior que as anteriores, mesmo em pessoas já imunizadas.
A variante ômicron apresenta 50 mutações, quase o dobro das mutações da delta, a cepa que surgiu no final do ano passado, com alto poder de infecção, e que foi responsável por milhares de mortes em 2021.
Dessas 50 mutações, 30 são na proteína spike, usada pelo vírus para invadir as células e que é alvo da maioria das vacinas contra a Covid-19. Daí a preocupação da OMS com o poder da variante sobre as pessoas vacinadas. Ela pode ser mais transmissível e menos suscetível às defesas geradas pelas vacinas.
Por isso, a realização de eventos de fim de ano precisa ser avaliada com cautela, principalmente de grandes eventos realizados por prefeituras e governos estaduais.
Manaus, que em 2020 foi destaque nacional pelo elevado número de mortes e enterros em covas coletivas, e em 2021 novamente gerou imagens e fatos que correram o mundo pela falta de oxigênio aos pacientes de Covid-19, precisa estar preparada para uma terceira onda, se houver.
No final do ano passado, quando todos os alertas foram ligados, a população foi às ruas, aglomerou-se em lojas e shoppings e ignorou todas as recomendações de distanciamento social e sanitárias de combate à Covid-19 nas festas de fim de ano. O resultado veio no mês seguinte, com mortes e centenas de pessoas internadas, para além da capacidade das unidades de saúde.
As festas de réveillon já estavam anunciadas quando do aparecimento da nova variante, mas nada impede que as decisões sejam revistas, se as autoridades de saúde recomendarem cautela neste fim de ano.
A saúde coletiva da população é mais importante do que uma festa que, como se anuncia, será oferecida a poucos, mas com as despesas rateadas para toda a população pagar.