EDITORIAL
MANAUS – Primeiro Lula teve os processos em que foi condenado à pena de prisão e outros em que poderia ser condenado anulados pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Depois, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, conseguiu o mesmo benefício. Mais recentemente, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha foi beneficiado pelo TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).
Houve uma gritaria geral: o combate à corrupção fora duramente golpeado; o combate à impunidade caiu por terra.
No Amazonas, caso semelhante ocorreu em dezembro de 2020, quando o mesmo TRF1 anulou todos os processos da Operação Maus Caminhos que tramitavam na Justiça Federal, sob a alegação de que o dinheiro roubado pela quadrilha que assaltou a saúde do Amazonas era do Estado e não da União. Portanto, a competência para julgar o caso é da Justiça Estadual, decidiu o TRF1.
Todo esse imbróglio, incluindo as investigações e os processos de combate à corrupção no Brasil parecem fazer parte de um teatro, que bem poderia ser denominado “o teatro da impunidade”.
O objetivo do teatro é justamente manter o público distraído enquanto a corrupção rola a toda a força. É criar uma cortina de fumaça em casos aparentemente importantes para esconder o grosso da corrupção.
Enquanto a “república de Curitiba”, comandada por Deltan Dellagnol e Sergio Moro se ocupavam com a roubalheira na Petrobras, com o falso discurso de se tratar da maior obra de corrupção já arquitetada por um governo; todos os outros flancos nos ministérios, nos Estados e municípios estavam abertos para os corruptos.
Enquanto Sérgio Cabral era exposto como o mais corrupto dos governadores do Rio de Janeiro e o Ministério Público daquele estado se debruçava sobre os inúmeros casos de corrupção do passado recente do Palácio Guanabara, o governador de plantão fazia o mesmo.
No caso do Amazonas, as investigações se limitaram aos contratos firmados entre a Secretaria de Saúde e o Instituto Novos Caminhos, que deu origem à Operação Maus Caminhos. Não faltaram suspeitas de que outros contratos na mesma secretaria também serviam para desviar dinheiro público. Também não faltavam suspeitas de que a Secretaria de Saúde não era a única em que os contratos eram superfaturados e o dinheiro do contribuinte servia para irrigar a corrupção sistêmica.
No entanto, ninguém se dispôs a investigar além dos casos que deram aos investigadores a notoriedade necessárias para os tornarem “figuras públicas”.
No caso da Petrobras, ficou claro, anos depois de iniciada a “Operação Lava Jato” qual era o objetivo do trabalho dos procuradores de Curitiba e do juiz Sergio Moro. O primeiro, deixou a toga para abraçar o governo de Jair Bolsonaro, que ele (Moro), ajudou a eleger. Agora, Deltan Dellagnol também abandona a carreira no Ministério Público Federal e ingressa no mesmo partido de Moro, o Podemos, com a intenção de fazer carreira política.
A corrupção no Brasil é irmã gêmea da impunidade; são como siamesas, andam juntas, e os esquemas são conhecidos das autoridades, principalmente dos órgãos de controle.
O modus operandi da corrupção é o mesmo nos mais de 5 mil municípios brasileiros e 27 unidades da federação, e imita o que ocorre na nave mãe Brasília. E não é apenas uma ação perpetrada pelos gestores eleitos. Há uma rede de corrupção que traga quase todos, inclusive os bem-intencionados.
Adota-se a política da boa vizinhança e todos fazem de conta que nada acontece, ou, em muitos casos, essa política envolve favores que impedem um de descortinar os malfeitos dos outros.
Não é segredo para ninguém que a maioria dos contratos têm sobrepreço. Nos bastidores da política, fala-se em 20% a 30% de propina, sem a menor cerimônia.
Não seria difícil combater a corrupção e a impunidade se esse combate não ameaçasse tragar todos os que de alguma forma se beneficiam com ela.
O que aparece para a sociedade é apenas a ponta do iceberg ou as brigas políticas de grupos que querem se manter ou tomar o poder.