Da Redação
MANAUS – A colheita de frutos amazônicos em períodos definidos do ano – a sazonalidade – e a guerra entre a Rússia e Ucrânia encarecem o café regional no Amazonas. Itens comuns no cardápio como o X-caboquinho e a tapioca com queijo, tucumã e banana custam o preço de uma refeição, R$ 13 ou mais em alguns estabelecimentos de Manaus. A tapioca recheada custa, em média, R$ 21.
José Olenilson Pinheiro, economista e pesquisador em Desenvolvimento Rural Sustentável da Agricultura Familiar na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), afirma que no caso específico do tucumã, por se tratar de extrativismo, um dos principais problemas é a sazonalidade.
“Quando os municípios da região metropolitana produzem pouco, compra-se em outros municípios do estado do Amazonas e oeste do Pará, ou seja, região de produção mais distante do maior mercado consumidor que é Manaus. Com isso, aumenta os custos com transporte e outros”, explica José Pinheiro.
O economista afirma que com relação ao queijo, que é derivado do leite, assim como a tapioca que é derivada da mandioca, a alta nos preços está relacionada diretamente aos custos dos insumos (adubos, fertilizantes e outros), combustíveis e fretes. A Rússia é grande fornecedor de fertilizantes para o Brasil.
José Pinheiro afirma que o aumento do preço do trigo, provocado pela guerra, contribui para o encarecimento desses produtos.
“Os restaurantes, lanchonetes e outros têm seus custos aumentados em razão de diversos outros produtos que estão diretamente relacionados ao trigo, nesse contexto. Para não aumentar muito o preço dos produtos que usam trigo, os empresários distribuem os custos pelos demais produtos como a tapioca e tucumã, por exemplo”, explicou.
Ucrânia e Rússia exportam cerca de 30% do trigo no mundo. Embora o Brasil compre predominantemente da Argentina (85% do total), qualquer impacto no mercado global pressiona os preços para todos os compradores.
De acordo com Pinheiro, subsídios governamentais podem ser usados para reduzir os preços dos itens. “Como por exemplo, isenção de alguns impostos por um determinado período, ou subsídios na aquisição de insumos. A redução do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] da gasolina já refletiu no preço de alguns produtos”, sugeriu.
Gabriel Oliveira, presidente em exercício da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirma que clientela sente o impacto do valor e reduz a frequência do consumo, impactando o faturamento. Atualmente, são 46 cafeterias, cafés regionais e padarias associados na Abrasel .
“A colheita e produção de polpa de tucumã é algo praticamente manual, a ausência de tecnologias neste processo, a escassez do produto eleva os valores. A lei da oferta e demanda”, pontuou.
Para fugir do aumento, Gabriel Oliveira afirma que alguns empresários preferem arcar com a despesa para não repassar o reajuste ao consumidor. “É absorver parte do reajuste para que o cliente não deixe de consumir, uma vez que o tucumã é o fruto símbolo dos cafés regionais do amazonense”, disse.
É o caso de Brenda Oliveira, que administra o Café do Dudinha. O local, na Avenida Grande Circular, bairro São José Operário, zona leste, já funciona há 18 anos em Manaus. A empresária conta que o estabelecimento evita reajustar os valores do cardápio, mas alguns clientes reclamam.
“Tem coisas que tem o preço há mais de dez anos e não mudamos. Outras coisas infelizmente tivemos que aumentar mesmo”, disse.
Brenda afirma que cada vez que vai fazer as compras em supermercados ou feiras se depara com o aumento. Ela explica que o método usado é não mexer no valor de alguns itens para que os clientes que vão todos os dias não deixem de frequentar o café.
“Mexemos nas coisas mais caras mesmo. O que estou podendo deixar sem mexer estou deixando e assim estamos indo. Nosso lucro cai um pouco por deixarmos algumas coisas baratas, mas infelizmente temos que fazer assim. Nada está barato”, contou.