Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – O uso dos cartões e aplicativos para pagamentos se tornaram tão populares que as moedas estão perdendo o valor de uso. Segundo o Banco Central, 35% das moedas em circulação no país estavam entesouradas em 2018, ou seja, guardadas ou esquecidas. Em Manaus, comerciantes admitem que encontram dificuldades para dar trocos e os clientes também se incomodam com a falta de moedas.
Para não ficar na mão, lojistas criaram promoção para arrecadar moedas. A cada R$ 100 em moedas, o consumidor troca por cédula e ainda pode escolher entre levar mais R$ 4 de bônus ou uma peça de roupa.
A vendedora Thaíssa Brandão, de uma loja de confecções no Centro da capital, disse que a ideia foi desenvolvida a partir das dificuldades com o troco. “A gente tem bastante dificuldade em conseguir trocado e o cliente também não gosta. Ele gosta de chegar ali e ter o troco dele, então a gente bolou essa estratégia para conseguir uns trocados. Damos R$ 4 em dinheiro e em peça”, disse.
A ideia já ganhou adeptos. “Até empresas mais próximas aderiram o que a gente faz, então é bem legal. A gente deixa o cliente satisfeito e feliz, porque não ter troco é realmente chato”, disse a vendedora.
Não precisa ser cliente da loja, basta ter as moedas para trocar. “A cada R$ 100 que ele traz trocados, ele ganha R$ 4 em cédulas. Não precisa necessariamente comprar na loja, basta ele chegar aqui e dizer ‘quero trocar moeda’. Quanto mais ele trouxer, mais ele vai ganhar. Ele pode escolher também em peça de roupa), mas em geral eles querem o dinheiro mesmo, fica a critério da pessoa”, explicou Thaíssa Brandão.
A cliente Bruna Ramos, de 35 anos, aprovou a promoção. “Tem gente que gosta, gente que não gosta, mas nesse caso é porque ganha 4%, são 4 reais.A pessoa vem trocar e já ganha a passagem (de ônibus) de volta. Às vezes tem moeda em casa, quer trocar, porque tem que circular né, não ficar guardado porque tá em falta mesmo”, disse.
Validade econômica
Apesar da ‘moeda digital’ ganhar popularidade, as moedas é que estão no cotidiano do cidadão, diz a economista Denise Kassama. Ela relembra que nem todos os estabelecimentos trabalham com máquinas de crédito ou débito. “Apesar da moeda digital ter um espaço bastante significativo na economia, quando você vai nesses comércios de bairro, você paga em dinheiro. Uma boa parte deles nem tem maquinha para receber crédito, débito. Eles precisam dessas moedas para sobreviver, e são eles que acabam arredondando o troco para mais e ficam acumulando prejuízos em cada venda que fazem”, disse Kassama.
A responsabilidade é de todos os cidadão e dos comerciantes, diz a economista. “É do governo de acompanhar, de estimular nossa economia relativamente estável, com juros baixos. Muita gente tem utilizado os cofrinhos e de vez em quando precisamos trocar no comércio para não acumular em casa”, disse.
Para Kassama, os chamados ‘cofrinhos’ podem atrapalhar o movimento econômico do país. “Atualmente, o Brasil tem aproximadamente 25 bilhões de moedas fora de circulação, o que compreende a aproximadamente 8,7 bilhões de moedas emitidas que estão retidas em cofrinhos, perdidas, enfim, um dinheiro que não tá sendo usado para consumo e não tá girando na economia”, disse.
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