Vovó Nenzinha, no próximo mês de agosto, completaria 99 anos, bem vividos, se no mundo material ainda estivesse.
Chamamo-la de vovó Nenzinha, mas na realidade ela era avó da minha esposa, Suzan Jones.
No quesito memória, a juventude e quarentões que se cuidassem, pois era irretocável.
Embora cega de um olho, vó fazia questão, de assistir a quase todos os jornais e ouvir os principais fatos de rádios, sem deixar de ler quase todos os jornais de Manaus , e quando eu chegava do trabalho me relatava tudo minuciosamente.
Quando retornávamos, à tardinha da Assembleia Legislativa, ela sempre abria o portão da garagem pro carro entrar.
Mal chegávamos, mais que depressa vinha nos contar boas-novas do dia, quando a indaguei ;
— Sol foi bonito, hoje, né vó ? Ela, mais que rapidamente me devolveu:
— É, já lavei às minhas roupas e algumas de vocês que estavam no cesto, porém tive que completar com outro sabão, pois esse que deixaram sobre a geladeira, apesar de cheiroso, não espumou.
— O quê? Não espumou, disse eu meio atônito: Algo deve estar errado, vó; que estória é essa de Omo não espumar, respondi.
— É, deixa as roupas branquinhas, mas não espuma, repetiu.
Curiosamente fui dar uma olhadela na lavanderia, e qual o tipo de sabão usado para lavar roupas, no que fui surpreendido: ela confundiu uma caixa de bolo da Sadia, com uma caixa de Omo.
A coisa, no entanto, não para por aí, e pra completar a checagem dos afazeres diários, perguntei-lhe:
— A senhora já almoçou, vó?
— Não estou esperando dar 12:30 h. , contudo esse relógio que você deixou parece que “parou” em 12 horas.
Nessa altura do campeonato, quase 5 da tarde, e ela esperando que o relógio mudasse o horário, coisa impossível, pois o tal “BIG-BEN” era uma balança de pesar alimentos, com apenas um ponteiro e, humanamente, jamais marcaria 12:30 h. Para vovó, Nenzinha, a história teria outro enredo, porque, se ela fosse esperar o relógio chegar ao horário estipulado para o almoçar, nunca almoçaria…