Por Alessandra Taveira, Da Redação
MANAUS – A 8 cm de alcançar a marca recorde de 2012 (29,97 metros), o Rio Negro transborda pelas calçadas e ruas do Centro de Manaus. No porto da Avenida Manaus Moderna, as rampas de acesso às embarcações desapareceram submersas e a proa dos barcos, que ultrapassa o nível do muro de contenção, pode ser tocada com as mãos da calçada.
A cheia, que marca 29,89 metros, atraiu o manauara e visitantes de outros estados ao Centro debaixo do sol característico da região para registrar o momento histórico.
A dificuldade em transitar pelas ruas do Centro devido à enchente não impede a movimentação de pessoas e veículos, que foi intensa na manhã desta segunda-feira. O paulistano Silas Pavinato, 58, aproveitou a passagem pela cidade para contemplar a cheia e registrar o fenômeno em fotos.
“É muito diferente do que se tem em São Paulo. Essa maravilha você não vai ver nunca por lá. Sempre tive a curiosidade de conhecer o Amazonas pela sua riqueza de fauna e flora e ver isso de perto, até me emociona”, disse Silas. “Nós lemos isso nos livros, mas aqui eu tô vendo a realidade”.
Há quatro meses em Manaus, o paulistano diz que tudo na cidade ainda é novidade. “Aos poucos, tô visitando os pontos turísticos da cidade e fazendo fotos e vídeos para mandar para os amigos e familiares”, disse. Surpreso com a marca histórica, o paulista disse que “cheguei em uma época maravilhosa” por ter a oportunidade de presenciar o fenômeno.
A acreana Inês da Graça disse que presenciou a cheia recorde de 2012. “Não tenho registros. Na época eu vi, mas eu vi de longe porque já estava muito cheio e não dava mais para se aproximar. Acabei não registrando em foto”, lembrou. “Agora parece que os barcos estão mais próximos. Antes, eles ficavam lá embaixo. Muito mais fácil de observar”, complementa.
Complicações no trânsito
Com as ruas inundadas, o trânsito ficou lento nas duas áreas adjacentes à Alfândega do Porto de Manaus. Dividindo espaço com os ônibus, carros pequenos precisaram reduzir a velocidade para trafegar na Avenida Floriano Peixoto.
Na rua do porto, o tráfego intenso de veículos irritou os motoristas que reclamaram da ausência de agentes de trânsito na área e da demora para atravessar a via. O motorista de aplicativo Aldenir Andrade, 43, ficou por 40 minutos parado em frente à feira.
“Ali perto (da feira) tá um caos. As ruas estão todas interditadas e não tem ninguém para orientar. Povo da prefeitura sumiu. Não tem nenhum agente pra ajudar. Só tem os cones e a gente que vai se virando. Se a gente não conhecesse, a gente se perderia”, disse.
Comércio
Acostumado com os efeitos da cheia, Jorge Pedrosa, vendedor ambulante há 20 anos, presenciou a enchente recorde de 2012 e não foi surpreendido pela marca de 29,89 cm registrada nesta manhã. Seu ponto de venda está adaptado às adversidades geradas pelo rio.
“Eu já estava prevenido. Estou acostumado com a situação. Em 2009 e 2012 nós já havíamos passado por um momento igual a esse. Não foi tão assustador como muitos falam”, disse Pedrosa.
Apontando para a estrutura improvisada por conta própria, Jorge disse que “só precisei fazer um levantamento do piso para acompanhar o nível da passarela”.
Nesta mesma via, próximo ao ponto de Jorge, vendedores se desdobravam para retirar água que invadiu o estabelecimento comercial, causando infiltração. Veja no vídeo.
Veneza dos trópicos
Mesmo com os percalços, manauaras e curiosos se aglomeram para capturar o momento histórico na Praça do Relógio, recém apelidada de “Veneza dos Trópicos” pela população, em alusão à cidade do norte da Itália, onde não há ruas, apenas canais, e os prédios são de arquitetura gótica e renascentista. “A situação de 2012 se repete e agora temos nossa Veneza”, disse Michel Nascimento, que veio de Cacau Pirêra para ver de perto a cheia no Centro da capital.
(Colaborou Murilo Rodrigues)