Da Folhapress
RIO DE JANEIRO – O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou à Justiça o chefe de investigações da Deam (Delegacia Especial de Proteção à Mulher) de Jacarepaguá, na zona oeste da capital fluminense, por suspeita de agredir a ex-companheira.
O inspetor Marcos André de Oliveira dos Santos, 50, é investigado por lesão corporal, injúria, ameaça e violência psicológica e está afastado das funções.
A denúncia foi encaminhada à Justiça no fim de junho. A ex-companheira, que é advogada e tem 29 anos, registrou ocorrência na Corregedoria-Geral da Polícia Civil. Ela gravou momentos das agressões e ameaças em áudio diversos. À polícia, ela afirmou que as agressões começaram por ciúmes.
O advogado Márcio Alexandre dos Santos, que representa o inspetor, afirmou que o cliente ainda não foi notificado da denúncia. A defesa disse que aguarda intimação da suposta denúncia para esclarecer os fatos.
Em nota, a Polícia Civil disse que a corregedoria da corporação indiciou o inspetor por violência doméstica. Após apuração dos fatos em sindicância, foi aberto um processo administrativo disciplinar, que está em andamento.
A corporação disse ainda que o policial foi afastado da Deam, “assim como não está exercendo a função em nenhuma unidade especializada neste tipo de atendimento”.
Os dois se conheceram em fevereiro de 2021, na delegacia, quando ela buscava cópia de um inquérito na unidade especializada em casos em que a mulher é vítima de violência. Dois meses depois, o agente foi morar na casa dela e eles se relacionaram por cerca de um ano.
A denúncia da Promotoria afirma que o policial passou a controlar as roupas que ela vestia, a proibi-la de ter amigos e de frequentar academia com profissionais do sexo masculino. Passou também a controlar suas conversas telefônicas e comunicações em redes sociais, tendo ainda afastado a vítima de seus familiares.
Ainda segundo a denúncia da Promotoria, com o tempo, “o acusado ficou mais agressivo, passando a xingar, humilhar e desferir tapas no rosto e na cabeça da vítima durante as discussões, que em sua maioria eram motivadas por ciúmes”.
A primeira ameaça, relata o órgão, aconteceu no Réveillon de 2021 para 2022, quando ele não permitiu que a vítima festejasse com a própria família.
Pouco mais de duas semanas depois, a moça foi agredida com tapas na cabeça e puxões de cabelo. O policial não aceitava o fim do relacionamento e passou toda a madrugada xingando, humilhando, ameaçando e agredindo fisicamente a ex-companheira.
Já em fevereiro deste ano, Santos xingou e cuspiu no rosto da ex-companheira. Em outro momento, imobilizou a vítima por cerca de três horas, que foi obrigada a sentar em uma cadeira.
A advogada disse que tentou terminar o relacionamento, por não aguentar mais o “ciúme doentio” do policial. Mas, ainda segundo a denúncia, ele não aceitou o término e teria feito mais uma série de ameaças.
Foi quando ela passou a gravar as conversas com o policial. Os arquivos, segundo a Promotoria, passaram por perícia, confirmando os fatos. A transcrição está na denúncia.
Em um dos trechos, que constam do documento do Ministério Público, Santos diz:
“(…) Se pegar troço no seu celular, eu vou te meter a porrada, tá escutando?”
“(…) Eu vou f** a tua vida”
“(…) Vou te matar filha da p*, eu vou te matar”
“(…) Vou mandar uma mulher te dar uma surra”
“(…) Não posso deixar você passar impune (…) eu ia fazer pior, mas só vou mandar te dar uma coça e vai ser mulher”
“(…) Você escolhe: soco na cabeça, spray na garganta ou apneia”
“(…) Vagabunda”
A mulher então o questiona se, como policial, pode bater em mulher.
“(…) Se a mulher merecer, pode”
No depoimento, a vítima contou que, um mês depois, sem conseguir terminar a relação e tirar o policial de casa, trancou o apartamento quando ele saiu. Mas Santos teria ligado para a mãe dela, que a convenceu a abrir a porta. Ele entrou e disse:
“(…) Você vai me pagar pelo que tu fez hoje… ter um prejuízo bacana. Você quer mais? Quer entrar na porrada?”
A mulher disse, ainda em depoimento, ter sido jogada no chão e imobilizada e que Santos cuspiu no rosto dela. Dias depois, o suspeito foi até o escritório da vítima, começou uma discussão e imobilizou a mulher numa cadeira por três horas. Ela contou que se debateu e se machucou nos móveis e paredes.
A Justiça proibiu que o suspeito se aproxime da ex e da família dela. A advogada também passou a fazer tratamento com psicóloga.