EDITORIAL
MANAUS – O presidente Jair Bolsonaro já está em plena campanha eleitoral para a disputa de 2022. Nesta quinta-feira, 27, ele visitou o município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, para inaugurar uma ponte já inaugurada pelo Exército.
É curioso que o presidente da República venha a um município de população majoritariamente indígena inaugurar uma ponte de 18 metros de comprimento por 6 metros de largura em uma estrada de terra. O fato é que Bolsonaro tem aproveitado essas oportunidades para viajar pelo Brasil em busca de voto.
Nesses eventos de inauguração, o que menos importa é a obra inaugurada. Ganha importância os discursos que o presidente faz, transmitidos ao vivo pela TV Brasil e repetidos à exaustão na mídia eletrônica e digital.
E são esses discursos que começam a formar o mosaico das eleições gerais de 2022, apontando para uma das campanhas mais sujas da história recente do Brasil, senão a mais suja.
Basta analisar os discursos do presidente e como ele trata os adversários. Bolsonaro se refere ao ex-presidente Lula como “ladrão de nove dedos”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já foi insultado de “vagabundo” pelo chefe da nação.
Não são apenas os ex-presidentes que viraram alvo das palavras baixas proferidas pelo presidente da República. Deputados, senadores e governadores adversários também são vítimas dos insultos. O ex-ministro da Saúde e senador Humberto Costa (PT) é chamado de “vampiro da saúde” e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), ganhou o codinome de “comunista gordo”.
A campanha ainda está longe, mas as articulações de bastidores estão a todo vapor. Lula vem se reunindo com políticos de diversos partidos. Há cerca de duas semanas se reuniu com Fernando Henrique Cardoso, encontro que só foi divulgado uma semana depois, quando a foto dos dois foi publicada.
Dias antes uma pesquisa Datafolha apontou que Lula levaria vantagem sobre Bolsonaro em uma eventual disputa entre os dois.
Desde então Bolsonaro passou a siar mais de Brasília para fazer inaugurações e disparar ataques aos adversários, com o objetivo de desqualificá-los para a disputa.
Mas os ataques não estão restritos às falas do presidente da República. É cada vez maior a quantidade de informações falsas nas redes sociais contra possíveis concorrentes ao cargo ocupado por Bolsonaro.
As “fake news” vão além dos políticos e atingem jornalistas, artistas e outros profissionais que ousam fazer qualquer tipo de crítica ao governo federal.
Na campanha de 2018, quando Bolsonaro foi eleito, assistimos a uma baixaria sem precedentes na terra sem lei que se transformou a internet e suas redes sociais. Em 2022, pode ser muito pior.
Longe da disputa já é possível sentir o cheiro do desespero de alguns pré-candidatos. É imprevisível o que determinados grupos serão capazes de produzir e divulgar para tentar ferrar o adversário. Quem viver, verá.