Alfredo MR Lopes (*) – [email protected]
Entre os compromissos do Brasil, no Acordo do Clima, ratificado pela comunidade internacional em dezembro último, o reflorestamento de 12 milhões de hectares, num contexto de economia florestal necessariamente pujante, tem sido tema de acaloradas discussões. Esta área equivale à metade do Estado de São Paulo e uma população de árvores estimada em 6 bilhões de indivíduos, considerando as métricas tradicionais de replantio. Quase uma árvore para cada ser humano. No Código Florestal de 1966, o Brasil se comprometeu a reflorestar os grandes estragos da agricultura predatória de então. Depois de 50 anos, conseguiu cobrir menos de 7 milhões de hectares graças aos incentivos dados a indústria de papel e celulose. Com uma recessão que promete esticar sabe-se lá quanto, como alcançar essa meta de 12 milhões de hectares, digamos, aloprada, para um país que demorou 27 anos para recompor 4 mil hectares da Floresta da Tijuca? Sem adesão do setor privado, recursos da inovação tecnológica da nanobiotecnologia e parcerias internacionais não haverá saída.
Temos algumas contribuições amazônicas a oferecer. Na semana passada, a superintendente as Suframa, a economista Rebecca Garcia, confirmou que Bioeconomia ocupa papel destacado no Planejamento Estratégico da autarquia. E disse que o CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia, evoluiu mas ainda não está embaraçado. Na expectativa de todos os atores regionais, porém, é firme a clareza de que nos próximos 50 anos da Zona Franca de Manaus temos que consolidar a tal da Bioeconomia na Amazônia Ocidental.
São múltiplas e frustrantes as iniciativas locais que apontam na direção de novos arranjos produtivos de conservação e manejo da biodiversidade, as promessas da geodiversidade, da aquicultura, do polo naval para uma cabotagem inteligente nas hidrovias amazônicas, produção de fertilizantes orgânicos, numa articulação ideal que se ensaiou e mostrou o esplendor de novas soluções nos debates das Jornadas do Desenvolvimento. Padecemos de uma liderança ou de mobilização interinstitucional, multidisciplinar, colocando em rede e interlocução projetos nacionais e transnacionais para construir uma economia de baixo carbono?
No Acórdão TCU-MPF-AM, de abril de 2016, após 10 anos de constatação de desarticulação do poder público na gestão de projetos regionais, sugerindo um órgão federal para coordenar as ações dos diversos ministérios, está a cobrança de equacionar o imbróglio CNPJ do CBA. Este é um fio excepcional dessa meada e a hora é essa. Não se trata apenas de ajudar o Brasil a cumprir sua parte no Acordo de Paris, para fazer propagação de mudas e reflorestar áreas degradadas. O CBA tem cientistas e equipamentos para construir uma economia florestal de peso, base, e mudanças que o Brasil precisa, pode e tem como materializar. Mesmo embaraçado na burocracia, seus atores e parceiros do Inpa, Embrapa, UEA, USP, Museu Emílio Goeldi, nacionais e estrangeiros, já sentaram com a indústria local para atender demandas, prospectar negócios, desenhar novas modulações de bioeconomia amazônica a partir do Polo Industrial de Manaus .
Precisamos disparar o alerta da sinergia e da cumplicidade. É hora da adesão e união da classe política, cientistas, entidades do setor produtivo, da socialização de expertises, circulação do saber, das demandas, dos acertos e, inclusive, dos fracassos que ensinam. Vamos levar a termo o somatório de inteligências, a conjunção de energias – a sinergia imperativa e inadiável. Assim procedendo, mobilizando apoios, vamos recompor em definitivo o CBA, criar uma nova Organização Social, que não precisa onerar os cofres federais. A mesma indústria que patrocinou sua estruturação ficará confortável se, ao menos 50% dos recursos de P&D, recolhidos pelas empresas de informática, possam amparar sua decolagem e voo livre no universo de uma economia inovadora, amazônica e de baixo carbono que todos queremos e de que o Brasil precisa. Chegou a hora!!!!
(*) Alfredo é filósofo e ensaísta
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