Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Dos 11 planos de governo apresentados pelos candidatos a prefeito de Manaus ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apenas um propõe implantar o VLT (Veículo Leve Sobre Trilho). Os outros dez defendem os ônibus como meio de transporte em massa na capital.
Marcelo Amil (PCdoB) propõe a construção da linha 1 do VLT, partindo do Conjunto Viver Melhor, na zona norte, chegando até o bairro Coroado, na zone leste, pela Avenida das Flores/Torres. Romero Reis defende outro modelo, o BRT (Ônibus de Trânsito Rápido), que utiliza vias separadas e paradas diferenciadas para que os veículos se desloquem mais rápido. Outro candidato, Gilberto Vasconcelos (PSTU), cita o metrô de superfície, mas apenas como proposta de debate.
Os demais propõem a renovação e modernização da frota de ônibus e investimentos em corredores exclusivos, além da reestruturação da infraestrutura viária como o alargamento de avenidas, construção de viadutos, passagens subterrâneas e recuos.
Os planos de José Ricardo (PT), Amazonino (Podemos), Alfredo Nascimento (PL), Alberto Neto (Republicanos) e Ricardo Nicolau (PSD) são os mais superficiais em relação ao transporte coletivo.
VLT x BRT
Geraldo Souza, professor do departamento de Geografia da Ufam e doutor em Engenharia de Transporte pela UFRJ, explica que para Manaus, o melhor seria o VLT. “O VLT seria ideal para Manaus. E, curiosamente, o cara que fica propondo o BRT é porque tem uma visão muito míope, imediatista. Quer implantar porque quer ganhar a próxima eleição. Se a gente tiver um projeto de mais longo prazo poderíamos ir construindo aos poucos um sistema sobre trilhos”, afirma.
O professor alega que o BRT é mais barato para implantar, mas o longo prazo sai mais caro. O quilômetro do BRT custa US$ 6 milhões e do VLT, US$ 18 milhões. “O custo de implantação de um quilômetro de BRT é um terço do que custaria para implantar um sistema sobre trilho VLT. Só que o sistema rodante do VLT é de décadas, enquanto que o outro precisa ser trocado, o ideal seria a cada seis anos”, diz.
Geraldo Souza explica que o VLT é diferente do metrô de superfície. Segundo o especialista, o VLT é mais leve, não polui e pode cortar a cidade, instalado no mesmo nível da via. O metrô de superfície é mais robusto, custa mais caro para ser implantado e mantido, e em Manaus não há demanda de passageiros suficiente para justificar o custo, explica.
BRT x corredor exclusivo
Nos planos de governo constam propostas de criações de corredores exclusivos de ônibus. Geraldo Souza afirma que é uma opção que ajudaria a desafogar o trânsito, mas que não é a mesma coisa que um BRT. “O corredor de ônibus melhora um pouco a velocidade porque é um corredor exclusivo. Teoricamente não tem muitas paradas, mas não incorpora todas as ferramentas possíveis para a gente fazer dele um sistema rápido”, afirma.
De acordo com o especialista, no BRT o embarque e desembarque é mais rápido, pois o usuário paga a passagem ao entrar na plataforma, sem aglomeração na catraca. “Igual ali naquela estação que foi construída na Constantino Nery recentemente, onde o usuário acessa a plataforma, e quando o ônibus chega ele abre as portas e em um tempo muito curto a gente tem o desembarque e embarque”, diz.
Outro recurso necessário no BRT é a circulação sem parada em semáforos ou com semáforos inteligentes. “Onde for possível, é bom que o sistema circule sem ser parado por semáforos. Ou na pior das hipóteses um sistema inteligente de semáforos que na aproximação do BRT ele já é acionado permitindo que o veículo, ao chegar no cruzamento, encontre o sinal verde para continuar”.
Avenidas estreitas
Geraldo Souza afirma que estudos sugeriram implantar o BRT na zona leste, passando em frente à Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Porém, o tamanho das vias e o fluxo de veículos seriam um obstáculo. “O BRT precisa de uma faixa exclusiva. Como é que nós vamos fazer essa segregação dessa faixa exclusiva na Rodrigo Otávio por exemplo? Vamos nos deter à Ufam, naquele trecho. Como é que a gente vai segregar uma faixa exclusiva numa via que é crucial num sistema de circulação viária no trânsito de Manaus que é a Rodrigo Otávio?”, diz. Parte do investimento seria em gastos com desapropriações, que consome dinheiro e tempo.
Geraldo afirma que esse alargamento deveria ter sido feito antes do crescimento da cidade. “Imagina a gente tentando colocar BRT na André Araújo, que já deixaram que toda área fosse apropriada pelos proprietários dos imóveis que acabaram fechando a sua construção até pertinho do meio-fio. Então, a gente perdeu o bonde da história de não ter feito os investimentos que a gente precisaria ter feito no sistema viário. Isso não foi feito e um dia a gente vai ter que encarar isso”, afirma.
O especialista observa que as obras recentes na infraestrutura viária de Manaus sinalizam para a priorização do transporte individual. “De modo geral as obras que tem sido erguidas em Manaus são obras para promover a fluidez do trânsito misto, prioritariamente por automóveis. A gente não tem investimentos pensando em dotar a cidade de uma infraestrutura viária capaz de abrigar um BRT por exemplo”, diz.
Sistema aquaviário
Entre as propostas para transporte em massa de passageiros consta o aquaviário. Apesar de ter a vantagem de não disputar com outros veículos em terra, Geraldo Souza afirma que alguns fatores o tornam menos viável. O primeiro agravante é a poluição dos igarapés. “O fedor que exala, principalmente na época da seca, é absurdo. Acho que ninguém aceitaria viajar para o trabalho, você corre o risco de chegar fedendo”, diz o professor.
Outro fator é o regime de sobe e desce das águas. Segundo Geraldo, na época de vazante os barrancos aparecem e para que os passageiros saiam dos barcos seria necessário a construção de estações de embarque e desembarque de transbordo, que exigem investimentos constantes e que por isso correm o risco de ficarem sem manutenção.
Outro fator é a falta de praticidade. Geraldo cita como exemplo o trajeto do bairro Lírio do Vale, na zona oeste, para o Centro. Segundo ele, primeiro o usuário vai precisar pegar um ônibus até a embarcação. Ao descer no Centro, ainda precisará pegar mais um ônibus se quiser ir para um local mais longe. Indo de ônibus direto do Lírio do Vale para o Centro chega a ser mais rápido.
O especialista afirma que no bairro Puraquequara, zona leste, talvez compense, pois o trajeto para a área central é longo. “Talvez o Puraquequara seja até um pouco mais fácil, não diria que não seja viável. Porque você tem uma conexão do ônibus até o terminal de transbordo. E aí tem uma viagem enorme até chegar ao Centro, onde ele pega outro”, diz.