Por Felipe Campinas, do ATUAL
MANAUS – Candidatos a prefeitos de cidades amazonenses localizadas no “novo arco do desmatamento”, no Sul do estado, ignoram o avanço de queimadas, mencionam superficialmente sobre a preservação do meio ambiente e defendem o agronegócio como pilar econômico do município em planos de governos apresentados à Justiça Eleitoral. De 13 candidatos, apenas dois propõem brigadas de combate a incêndios e quatro propõe a recuperação de áreas degradadas.
De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os cinco municípios amazonenses que mais tiveram focos de incêndios entre os dias 1º e 21 deste mês foram Apuí (1.525), Lábrea (831), Novo Aripuanã (606), Manicoré (485) e Humaitá (367). Historicamente, são as cidades que mais desmatam no Amazonas.
Um estudo publicado pelo Imazon apontou que o Amazonas registrou o maior índice de desmatamento na Amazônia Legal em julho de 2024, com 28% de área desmatada no mês. Os municípios mais afetados são Apuí (24 km²), Lábrea (23 km²), Boca do Acre (20 km²) e Novo Aripuanã (19 km²).
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Apuí
Em Apuí, que lidera os focos de queimadas, a população terá cinco candidatos a prefeito. Apenas um deles, Marquinhos da Macil (MDB), propõe implantar projetos de conversação das florestas. Os outros quatro propõem apenas expandir o agronegócio no município.
O candidato Dr. Diegues (Avante) propõe a regularização fundiária e a concessão de incentivos para pequenos, médios e grandes empreendedores rurais. Para o meio ambiente, o candidato se compromete apenas a “avaliar e zelar pelas áreas verdes do município” e a fazer campanhas educativas.
O candidato Dr. Paulo Mates (PL) promete “fomentar a economia em Apuí com desenvolvimento sustentável”. O candidato menciona que quer estimular a pecuária no município “com vistas à implantação da indústria frigorífica” e atrair novas indústrias, principalmente de produtos derivados do leite. Em relação ao meio ambiente, Paulo propõe “melhoria das estradas das vicinais” e “planejamento para expansão urbana e loteamentos”.
Jaime Vicente (PT) afirma que busca o “crescimento sustentável aliado à preservação ambiental”, mas não propõem mudanças concretas para alcançar o objetivo.
Marcos Lise (União Brasil), candidato a reeleição, fala em “desenvolvimento sustentável e equilibrado com responsabilidade socioambiental”, mas não propõe medidas para combater as ações que geram os principais problemas do município na questão ambiental.
Marquinhos da Macil propõe “desenvolvimento sustentável” com “projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas” para conservação das florestas e de recursos naturais.
O candidato também afirma que quer “incentivar o desenvolvimento de práticas econômicas sustentáveis, como a produção sustentável de recursos naturais e o turismo ecológico”, e que quer fazer campanhas sobre a “importância da preservação ambiental”.
Lábrea
Em Lábrea, que registrou neste mês, o segundo maior número de incêndios, três candidatos disputam o cargo de prefeito. Apenas um apresentou propostas concretas para a conversação do meio ambiente.
Antônio José (Agir) fala em “crescimento econômico e a preservação ambiental”, com investimentos para a expansão agrícola e incentivo a práticas sustentáveis.
O candidato propõe “investir em tecnologia agrícola, incluindo a aquisição de equipamentos para plantio e colheita de milho, aumentando a produtividade”. E quer “incentivar os agricultores a adotarem práticas sustentáveis para a prevenção de queimadas, incluindo programas de conscientização e educação ambiental”.
Antônio também defende o “plantio de açaí e cacau como forma de reflorestar e utilizar as terras de forma produtiva e ecologicamente responsável”. Ele propõe “desenvolver programas comunitários de educação ambiental para conscientização sobre a preservação e uso sustentável dos recursos naturais”.
Gerlando Lopes (PL), que propõe o programa de governo mais extenso, fala em “conciliação entre oportunidades econômicas e conservação do Meio ambiente”.
O candidato propõe implementar programas de reflorestamento e manejo sustentável para combater o desmatamento. E estimular a criação de reservas ambientais locais para proteger ecossistemas sensíveis.
Gerlando promete, ainda, educação ambiental em escolas e comunidades, estimular o uso de energias renováveis em prédios públicos e privados e negociação de créditos de carbono.
Mabi Canizo (União Brasil), atual vice-prefeito que é apoiado pelo prefeito Gean Barros, não propõe medidas para amenizar os problemas ambientais no município. Em um dos eixos do plano, intitulado “Povos Originários: Resgate e Proteção”, o candidato propõe a criação de uma secretaria para promover políticas públicas para povos originários. No documento, Mabi afirma que os indígenas “são os primeiros a materializar a mensagem de preservação ambiental em nosso Amazonas”.
O candidato do União Brasil também afirmou que os povos indígenas “fazem as vezes do Pode (sic) Estatal, quando nos referimos ao Gerenciamento e Proteção de um Meio Ambiente Sustentável”.
Novo Aripuanã
Em Novo Aripuanã, três disputam o cargo de chefe do executivo municipal. Eles citam, nos planos de governo, o desenvolvimento sustentável, mas querem expandir o agronegócio na região.
Dr. Vanderly Reis (PT) fala em “desenvolvimento sustentável e inclusivo” e “respeito ao meio ambiente” no plano de governo. As propostas dele na área do meio ambiente são voltadas especialmente ao saneamento básico na cidade.
O candidato do PT propõe incentivo ao ecoturismo e o reflorestamento de áreas desmatadas com o plantio de espécies nativas. Também propõe “fortalecer a fiscalização Ambiental para combater o desmatamento ilegal, a caça e a pesca predatória”.
Peixotinho (PP) menciona “desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável”, com apoio a produtores rurais. Ele não apresenta propostas para combate a desmatamento.
O candidato do PP propõe criar um “Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável” para “assegurar a participação dos produtores nas decisões governamentais”, e fazer investimentos para escoar a produção rural local para outras cidades e estados, como a construção de um terminal portuário e a recuperação de estradas.
Raiz (União Brasil), que atualmente é vice-prefeito e tem apoio do atual prefeito Jocione Souza, não apresenta propostas para evitar as queimadas e nem para incentivar o agronegócio. O candidato menciona apenas o comércio na região central.
Ele promete, por exemplo, “criar o programa de incentivo fiscal a estabelecimentos comerciais que se instalem em bairros que ainda não tenha, comércio forte”. Em relação ao meio ambiente, ele propõe ideias para o saneamento básico na cidade e promete “intensificar a fiscalização ambiental visando impedir invasões de áreas de preservação” e “criar novos parques públicos”.
Manicoré
Em Manicoré (a 332 quilômetros de Manaus), dois disputam a prefeitura: Dra. Vera (Avante) e Lúcio Flávio (PSD).
A candidata do Avante afirma que as propostas dela “obedecerão ao princípio da sustentabilidade econômica e socioambiental”. Vera promete preservação de áreas degradadas, mas um das propostas delas contraria a preservação de florestas. Ela defende o apoio “extrativistas mineral familiar”, nome dado a garimpeiros, e a expansão da produção agrícola.
Vera fala em “revitalizar a economia produtiva” através do “desenvolvimento sustentável” com uso de “recursos naturais do município para a criação de oportunidades de emprego e renda, dentro de uma perspectiva que não transcenda as normas legais”.
Ele propõe a criação de uma secretaria que será responsável pela “produção mineral”, indústria, comércio e serviços. A pasta terá que identificar, atrair e apoiar incentivos voltados à expansão da atividade produtiva no município por meio de parcerias públicas e privadas buscando desenvolver as potencialidades econômicas do município voltadas à geração de emprego e renda e fomento ao empreendedorismo.
Lúcio Flávio fala em “preservação do meio ambiente, fauna e flora” e em “promover a melhor relação de desenvolvimento sustentável aos setores produtivos que se beneficiam das riquezas naturais”.
A única proposta dele para combater os incêndios é a criação de uma Brigada Municipal de combate a incêndios. Ele também promete implementar uma unidade do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amazonas no município, promessa que foge da seara do prefeito.
Lúcio promete “incentivar a instalação de novas agroindústrias de produtos agropecuários e florestais no município”.
Humaitá
Cinco candidatos disputam o comando da Prefeitura de Humaitá (a 10.549 quilômetros de Manaus).
Alexandre Perote (PSDB) promete “criar leis municipais de combate a queimadas urbanas e rurais no período da estiagem” e instituir uma “Brigada Municipal de Combate a Incêndios em parceria com os bombeiros e ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] para ajudar na prevenção e combater as queimadas”.
Ao mesmo tempo, Alexandre quer “favorecer a utilização dos recursos naturais de forma sustentável para o desenvolvimento do município” e “dar suporte aos produtores do município, com a distribuição de sementes, equipamentos, apoio técnico e insumos para apoiar o plantio e a agricultura familiar”. Ele também promete “apoiar a produção agropecuária trazendo renda e a qualidade de vida aos produtores”.
Amauri do Sindicato (Podemos) propõe, em relação ao meio ambiente, apenas apoiar as ações de um grupo intitulado “Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentado do Meio Ambiente”. Não há, no plano de governo dele, qualquer proposta em relação às queimadas.
Dedei Lobo (União Brasil) promete “promover o crescimento econômico local, apoiando pequenos empreendedores e incentivando novas oportunidades de negócios, sem comprometer o nosso rico patrimônio ambiental”.
O candidato também menciona o “apoio na legalização do extrativismo mineral familiar no município de Humaitá” e a “articulação para implantação de entreposto de exportação de produtos do agronegócio”.
Herivaneo Seixas (MDB) afirma que a cidade faz parte do “Arco Norte Amazônico”, com grande potencial agropecuário e logístico, e propõe incentivos à agropecuária, como a compra de maquinários e veículos para suporte aos agricultores. Não há propostas para o combate ao desmatamento na região.
Leandro da Kairós (PL) apresenta como um dos sete eixos estratégicos propostas para o meio ambiente. Ele quer “modernizar e fortalecer a gestão ambiental e implantar a política municipal de meio ambiente e bem-estar social, buscando constantemente garantir o desenvolvimento sustentável e a conservação da biodiversidade”.
O candidato do PL também defende garimpeiros. Ele quer “criar dentro da Secretaria de Meio Ambiente a Coordenação do Extrativismo Mineral Familiar com o intuito de auxiliar a regularização e a regulamentação a atividade na região”. Também fala em “desenvolver programas de educação ambiental voltada para o extrativismo mineral e vegetal”.