Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – A burocracia é um gargalo que dificulta que extrativistas sejam beneficiados com o potencial da bioeconomia no Amazonas. Esse é o entendimento de Sassá Barbosa, técnica de gestão de empreendimento de base comunitária da FVA (Fundação Vitória Amazônica), organização da sociedade civil que atua com inovação socioambiental na região amazônica.
Sassá Barbosa pontua que é importante o poder público auxiliar os produtores familiares com as questões burocráticas nas comunidades rurais para reduzir as dificuldades que emperram as iniciativas dessas famílias.
“Muitas das vezes eles não conseguem vir à Manaus para estar numa Junta Comercial, ir ao cartório, fazer uma assinatura, acessar um edital. Então as secretarias podem e devem estar junto com eles contribuindo nessas atividades”, disse.
De acordo com a técnica da FVA, cursos de capacitação podem contribuir para o sucesso dos empreendimentos. “Eles precisam de assistência nesse sentido de contribuição nesse processo que é muito importante. Porque são produtores, extrativistas, pescadores”, afirmou.
Exemplo de sucesso
A Cooperativa Mista Agroextrativista do Rio Unini (Coomaru) é um exemplo de sucesso de como o auxílio técnico aos trabalhadores pode transformar o extrativismo em um modelo produtivo rentável e sustentável.
A cooperativa se tornou possível após a criação da Reserva Extrativista Rio Unini, em 2006, e contou a mobilização de moradores da região. A unidade de conservação fica no município de Barcelos (a 400 quilômetros de Manaus).
Sassá Barbosa conta que no processo, a FVA fez o monitoramento dos recursos naturais e ofertou cursos de capacitação para jovens e lideranças.
“Eles criaram uma associação muito antes da reserva extrativista, e em 2012 tiveram essa oportunidade de ter uma cooperativa para fazer a comercialização de seus produtos”, disse.
No local, a castanha é coletada e processada para venda in natura. Antes, os extrativistas trocavam o produto por alimento com comerciantes e não tinham retorno financeiro. Hoje, a Coomaru tem 117 cooperados e 60 coletores de castanha empregados.
João Evangelista, presidente da Coomaru, estima que o lucro este ano seja entre R$ 35 mil e R$ 40 mil e uma safra de 640 quilos de castanha.
De acordo com Evangelista, o preço da diária pago ao extrativista precisa ser acima do valor de mercado para valorizá-lo.
“No contrato que a gente faz no planejamento da compra da castanha o preço de mercado, se ele for fixado na abertura de R$ 60 [a diária] a gente paga de R$ 65 para o nosso coletor na fábrica”, explicou.
Para quem trabalha na fábrica, o valor da diária é de R$ 60, para os chefes de setores, e R$ 50, para os demais. Também é fornecido café, almoço, merenda, jantar e hospedagem. Com isso, segundo Evangelista, o custeio por funcionário vai de R$ 90 a R$ 100.
“E tem as senhoras que têm filho e não vamos deixar essa criança com fome. Ela vem e se alimenta igual os seus pais na fábrica. E às vezes a gente põe uma pessoa para cuidar dessas crianças”, acrescentou.
O presidente da Coomaru diz que os trabalhadores receberiam até mais, se o lucro fosse maior. “A gente sabe, como todos os cooperados são donos da fábrica, que eles teriam direito a 5% em todo o lucro que é gerado na venda da nossa castanha. E isso não vou dizer aqui que está acontecendo, porque ainda não temos essa margem de lucro”, afirmou.
Os principais compradores da castanha da Coomaru são turistas e clientes do município de Novo Airão (a 115 quilômetros de Manaus), que usam o produto para fabricação de doces. A castanha também é enviada para Manaus e São Paulo.
Os extrativistas trabalham com outros produtos, como copaíba, andiroba, pirarucu, farinha e banana. “Nossa produção é de 1,2 mil sacas de farinha [cerca de 50 quilos cada saca] todo ano. Banana é praticamente mais de 10 mil quilos e 1 mil cachos de bananas”, segundo Evangelista.
Confira a entrevista completa sobre a produção de castanha da Cooperativa Agroextrativista do Rio Unini AQUI.