Do ATUAL
MANAUS – O assassinato da artista venezuelana Julieta Ines Hernández Martínez em presidente Figueiredo (a 117 quilômetros de Manaus) é o segundo no Amazonas de mulher que viajava sozinha pelo estado. O primeiro ocorreu em 2017 com a canoísta britânica Emma Kelty, de 43 anos, vítima de latrocínio em Coari (a 363 quilômetros da capital amazonense).
A advogada e ativista feminista Alessandrine Silva diz que essa insegurança mostra a falta de políticas públicas de proteção às mulheres. “Esse cenário nos traz muita desesperança, mas é preciso enfrentá-lo de modo estratégico, denunciando inclusive as omissões que nos levam para esse lugar”.
No caso de Emma Kelty, a britânica foi atacada por “piratas” de rio enquanto acampava em uma praia. Ela viajava em um caiaque e havia parado no local. Antes de ser morta, ela foi roubada e estuprada. A vítima foi morta a tiros e jogada no Rio Solimões. Seis pessoas foram indiciadas e presas pelo crime.
Silva citou o relatório “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2023, que aponta o aumento da violência contra mulheres, atribuindo parte desse problema ao “desfinanciamento” das políticas de proteção à mulher.
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“Julieta Hernández estava sozinha, não sobre companhia, mas sozinha enquanto cidadã do mundo, em um estado que não investe em uma política de segurança pública preventiva, que não indica como combaterá esses crimes, que estão cada vez mais cruéis”, diz a advogada.
Alessandrine cita a semelhança entre os dois casos, ambos envolvendo mulheres que decidiram viajar sozinhas e foram vítimas de estupro e assassinatos. Segundo aadvogada, “nenhuma política de segurança” para mulheres em deslocamento no estado foi implementada no intervalo de tempo entre os dois crimes.
“Nenhuma campanha de educação e prevenção, nenhum ponto de apoio específico para mulheres, nenhuma cartilha ou iniciativa de defesa para essas mulheres que alcance e tenha o poder de repelir crimes como esses. Então, entre os dois casos há misoginia e omissão, e precisamos colocar luz sobre isso”, disse.
Brasil
Uma pesquisa recente doWomen’s Danger Index mostrou que o Brasil é o segundo país mais perigoso para mulheres que viajam sozinhas. O país só perde para a África do Sul, que ficou em primeiro lugar. Conforme o levantamento, apenas 28% das mulheres relataram se sentir seguras ao caminhar sozinhas à noite.
O índice de perigo para mulheres classificou 50 países com mais turistas internacionais, que incluem segurança nas ruas para mulheres, homicídio intencional de mulheres, violência sexual, discriminação e desigualdade de gênero.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Presidente Figueiredo para questionar se o município adotará alguma medida de fiscalização nas pousadas e locais de hospedagens, mas até o fechamento da matéria não houve retorno.