Estou no interior do Amazonas em visita aos municípios do Alto Solimões. Enquanto isso, acontece a reunião do Conselho de Administração da Suframa com presença prevista do presidente Bolsonaro.
A realidade do interior do Amazonas tem relação direta com a ZFM. A economia do estado e o orçamento do governo depende dos bons resultados e faturamento das atividades industriais e comerciais incentivadas e instaladas em Manaus.
Mais de 50% dos recursos próprios são do ICMS. Parte deles são transferidos para os municípios do interior. Devido os incentivos na capital, nenhuma atividade que devaste a floresta é apoiada no interior. Daí a razão do estado ter mais de 90% de cobertura florestal preservada.
Também existem três fundos que têm os recursos advindos do Pólo Industrial de Manaus (PIM): manutenção da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), FMPE (para fomento das pequenas empresas) e o FTI ( destinado à interiorização e turismo). Juntos chegam a R$ 800 milhões e até mais. São recursos fabulosos.
Por isso, já era hora da Suframa realizar a reunião do Conselho Administrativo da Suframa (CAS). Mais de 80 projetos aguardando. Sete meses sem reunião. Muitos empregos que já poderiam ser gerados, no momento que temos 14 milhões de desempregados devido à inoperante atuação do Governo Federal.
As ameaças do ministro da economia Paulo Guedes afetam a ZFM. A Portaria que facilita importações de computadores e celulares sem pagar impostos vai fechar inúmeras fábricas no PIM e no Brasil. Milhares de desempregados a mais.
O interior do Amazonas necessita da continuidade da ZFM. Os incentivos foram prorrogados pelo Lula por 10 anos e pela Dilma, por mais 50 anos.
Mas o governo Bolsonaro também não pode abandonar o estado. Nenhum investimento previsto este ano para infraestrutura. Cortes de recursos para habitação, para a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e para o Instituto Federal do Amazonas (IFAM).
No município de Parintins, que visitei semana passada, o Residencial Parintins, do projeto Minha Casa Minha Vida está parado. Cerca de 900 famílias, já cadastradas, perderam a paciência e começaram a ocupar.
Em Barreirinha, a fábrica de gelo, agregada ao Porto e administrada pelo DNIT também não está funcionando.
Estou verificando em Tabatinga, Benjamim Constant, Atalaia do Norte e São Paulo de Olivença, que é uma região de fronteiras, as consequências da política de cortes nos investimentos públicos e nos programas sociais do atual Governo Federal.
Em Atalaia do Norte, as lideranças indígenas denunciam sucateamento da Funai e a redução dos recursos e das estruturas da Saúde Indígena. Os problemas de saúde do Vale do Javari são gritantes.
Denunciam a invasão de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros em terras indígenas incentivadas pelas palavras e política anti- indígena de Bolsonaro.
Em Benjamin Constant, professores cobram políticas para a juventude e de tratamento de dependentes químicos. O fim dos ministérios do Trabalho e da Cultura afetou os programas sociais para a juventude.
Por isso, a manifestação dos movimentos sociais contra Bolsonaro e em favor dos empregos e a Zona Franca de Manaus mostra a insatisfação do povo contra a política anti povo do Governo federal.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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