EDITORIAL
MANAUS – As Forças Armadas formam uma instituição que goza da mais alta confiança da população brasileira, de acordo com pesquisas antigas e recentes. Essa credibilidade, no entanto, não pode ser abalada por vontade de um presidente de plantão. O mandato do presidente Jair Bolsonaro passa, mas as Forças Armadas são perenes.
Para o bem do Brasil, os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica devem se afastar do ministro da Defesa e, por consequência, do presidente Bolsonaro, que se intitula “chefe supremo das Forças Armadas”.
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, tem defendido publicamente o posicionamento de Bolsonaro em relação às urnas eletrônicas, e chegou a sugerir o uso de urnas paralelas com voto impresso para teste nestas eleições.
A ideia poderia servir de combustível para os defensores das ideias de Bolsonaro de que há vulnerabilidade no sistema de votação brasileiro. Seria muito fácil, com o uso de três urnas, desacreditar toda a votação no Brasil, bastando para isso infiltrar meia dúzia de pessoas mal-intencionadas para depositar votos diferentes nas duas máquinas instaladas na mesma seção eleitoral.
As Forças Armadas têm prestado relevantes serviços a cada dois anos durante as eleições brasileiras, principalmente na garantia da ordem cívica e na guarda das urnas eletrônicas durante as horas que antecedem a votação.
É comum em toda eleição a presença de militares nas escolas, principais locais de votação. Essa confiança que a população deposita nesses profissionais não pode ser abalada pela desconfiança de seus superiores nas urnas eletrônicas.
Se o Exército, a Marinha e a Aeronáutica derem qualquer sinal de que desconfiam do processo eleitoral, por que a população e os envolvidos nas eleições deveriam lhes confiar a tarefa de guardiões das urnas eletrônicas?
As Forças Armadas, apesar da subordinação ao presidente da República, não estão a serviço do chefe do Poder Executivo, mas da sociedade brasileira. Portanto, é à sociedade em geral que deve servir e proteger, e não aos interesses privados de alguns.
É preciso relembrar que a proposta do voto impresso nas eleições deste ano foi rejeitada no Congresso Nacional. Portanto, não deveria sequer estar sendo discutida novamente.
As pessoas mais bem informadas sabem que a intenção de Bolsonaro e de seus aliados não é instituir o voto impresso nas eleições deste ano, mas jogar o sistema de votação brasileiro na lama para questionar o resultado.
O presidente faz isso porque tem pesquisas internas que apontam para uma derrota em outubro. Inconformado com o que os números apontam, Bolsonaro só enxerga uma saída: questionar o resultado. Mas esse questionamento de nada adiantará se ele não tiver um trunfo, uma prova de que as urnas foram fraudadas.
Como essa é uma tarefa difícil, é preciso fazer com que boa parte da população acredite na vulnerabilidade das urnas. Assim, se cria um ambiente perfeito para a bagunça pós eleitoral.