Por Gustavo Uribe e Talita Fernandes, da Folhapress
BRASÍLIA-DF – O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, disse nessa segunda-feira, 29, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se baseou em uma percepção pessoal ao insinuar que o jornalista Glenn Greenwald cometeu um crime ao divulgar conversas vazadas do ministro da Justiça, Sergio Moro.
Segundo
o porta-voz, não há dúvida de que houve crime com a intenção de atingir a
Operação Lava Jato e tentar desqualificar o governo federal.
“Alguma dúvida que houve o cometimento de um crime?”, questionou. “O presidente
não colocou em xeque em momento nenhum a necessidade de liberdade de imprensa
com a qual ele se associa in totum”, acrescentou.
Greenwald é fundador do site The Intercept Brasil, que vem publicando, desde 9
de junho, reportagens baseadas em um pacote de mensagens trocadas no
aplicativo Telegram entre a força-tarefa da Lava Jato e Moro, ex-juiz federal.
O jornalista não é investigado pela Polícia Federal nem há indícios de que ele tenha cometido atos ilícitos. A publicação das mensagens pelo Intercept e por outros veículos, como a Folha, não representa infração à lei.
Rêgo Barros foi perguntado mais de uma vez que crime teria sido cometido pelo jornalista e se o presidente teria alguma informação adicional de que ele estaria envolvido nos ataques ao celulares de autoridades.
Em depoimento à Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, um dos presos da operação Spoofing, afirmou ter enviado ao Intercept de forma anônima, voluntária e sem custos o pacote de mensagens obtidas por ele por meio de invasão ao Telegram de procuradores. “No todo, vocês têm que entender o contexto no todo”, afirmou o porta-voz. “A percepção pessoal do presidente é essa que eu acabei de anunciar. Como eu disse, é a percepção pessoal do senhor presidente”, acrescentou.
Segundo ele, Bolsonaro “expressa as suas opiniões a partir do conhecimento que recebe”. “Ele não me adiantou, no caso específico, qualquer informação sobre possuir ou não possuir a informação sobre isso (envolvimento do jornalista nos ataques)”, ressaltou.
Nessa segunda-feira, o presidente insinuou, sem apresentar provas, que a publicação de reportagens com base nos diálogos envolveu pagamento. No sábado, 27, ele afirmou que o jornalista “poderia pegar uma cana”.