Da Redação
MANAUS – O ruído frequente nas salas de aula pode causar danos à audição de alunos e professores. Rafaella Cardoso, fonoaudióloga especialista em Audiologia na Telex Soluções Auditivas, explica que o excesso de barulho pode causar diversos prejuízos à saúde, como estresse, falta de concentração e até uma progressiva perda auditiva, que às vezes pode ser sentida apenas na idade adulta, mas ter início já nos primeiros anos de estudo.
A perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados tem efeito cumulativo. Quanto maior a frequência a ambientes barulhentos ao longo da vida, maiores as chances de danos à audição.
De acordo com Rafaella Cardoso, é preciso ficar atento para possíveis danos auditivos – principalmente nas crianças – que muitas vezes podem passar despercebidos. “É necessário avaliar a audição de crianças e adolescentes no início da fase escolar para evitar prejuízos de aprendizagem ou mesmo o agravamento de distúrbios já existentes”, aconselha.
Pesquisa sobre acústica em sala de aula, realizada na Universidade de Oldenburg, na Alemanha, confirmou que em muitos colégios o barulho passa do tolerável.
“Os professores que estão na profissão há muito tempo sofrem particularmente com o ruído (…). O fluxo das aulas é interrompido pela repetição frequente de informações e exortações para que as crianças fiquem quietas. Altos níveis de ruído dificultam a concentração no decorrer da aula”, observaram os professores e psicólogos August Schick e Maria Klatte.
Em outra pesquisa de dissertação no Curso de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal do Paraná: “Avaliação do Desempenho Acústico de Salas de Aula”, Daniele Zwirtes investigou escolas de Pinhais e Curitiba (PR).
“Constatou-se a total falta de qualidade acústica das salas de aula (…). Constatou-se também que o principal ruído percebido não provém do entorno, mas é gerado pela própria escola. As entrevistas com professores e alunos mostraram que o ruído gerado na própria sala de aula, seguido do ruído gerado nas salas de aula vizinhas, são as principais fontes de incômodo”, diz a pesquisa.
“É importante lembrar que a perda de audição não tratada afeta o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar. Não raro, há pessoas que só identificam a perda auditiva na universidade e descobrem que a dificuldade de aprendizagem ou até mesmo o déficit de atenção diagnosticado na infância e adolescência eram causados, na verdade, por problemas auditivos”, explica Rafaella.
O limite sonoro suportável é de 65 decibéis, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde). Acima disso, o organismo pode começar a sofrer danos. Para as salas de aula, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) estipula o limite de 40 a 50 decibéis. Muitas classes, no entanto, atingem 75 decibéis, principalmente as que têm mais de 25 estudantes. E o barulho no pátio, na hora do recreio, pode chegar a mais de 100 decibéis.
A exposição ao barulho na escola, somada às variadas situações de ruído no dia a dia, trânsito, televisão em alto volume, ouvir música com fones no ouvido, preocupa os especialistas, que preveem problemas de audição cada vez mais cedo entre as novas gerações.