Da Redação
MANAUS – Ao inaugurar a primeira ala especializada em saúde indígena em Manaus, na manhã desta terça-feira, 26, no Hospital de Combate à Covid-19 Nilton Lins, na zona centro-sul da capital, o governador do Amazonas Wilson Lima admitiu que o estado falhou no atendimento aos índios acometidos pela Covid-19. Os indígenas não estavam sendo classificados por suas etnias nas unidades de saúde. “De fato, em algum momento tivemos dificuldade de fazer a contabilização e essa é uma preocupação dos indígenas, porque muitos deles chegavam nas unidades e não eram diferenciados e colocados ali como indígenas”, disse.
O local tem uma sala de uso do pajé, com redes, para adaptação cultural dos indígenas que serão atendidos. Índios na zona urbana e em aldeias terão serão atendidos no novo espaço público. “Aqui estamos montando leitos de acordo com as tradições indígenas, inclusive com colocação de redes e espaços voltados para as tradições indígenas”, disse Lima.
O governador disse que determinou o registro de todos os indígenas que chegam nos hospitais para que tenham tratamento diferente. “Eu já determinei a todas as unidades que investiguem se é indígena ou não. E aqui faço um apelo aos representantes indígenas que quando um indígena chegar numa unidade de saúde que ele se identifique e faça questão que seja registrado, para que a gente possa ter um controle maior dessa situação”, disse.
Em visita ao Amazonas, o então ministro da Saúde Nelson Teich mencionou a possibilidade de um hospital de campanha indígena e depois voltou atrás sugerindo a ampliação do Nilton Lins. A ala foi construída com apoio do Governo do Amazonas, da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e entidades sociais da causa indígena.
Funcionamento
A ala indígena não é de atendimento livre, ou seja, não é possível que um indígena apresentando sintomas de Covid-19 chegue no hospital e seja recebido. Os pacientes que serão atendidos devem estar sendo realocados de outras unidades de saúde, do interior e também da capital.
“A pessoa não vem ao hospital direto, não é a pessoa que decide se ela vem para cá. Primeiro, ela precisa ir numa UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), num hospital público e ser regulada e entrar. Esse esclarecimento é importante porque senão amanhã tem uma fila de pessoas dizendo ‘olha esse hospital não funciona, ninguém me recebeu'”, disse Robson Santos da Silva, titular da Sesai.
Robson informou também que outras alas ou hospitais de campanha para indígenas não estão nos planos da secretaria. “Não sei se haverá outros hospitais, porque um hospital de campanha lá no interior precisa de eletricidade, de logística, e quando tudo isso for montado o surto já passou. Estamos trabalhando na Sesai antecipando o surto”, disse.
No Amazonas, que tem 62% dos povos indígenas aldeados do país, a Sesai contabiliza 452 casos confirmados e 26 óbitos em decorrência do coronavírus.