Por Fabiano Maisonnave, da Folhapress
MANAUS-AM – O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), acusou nesta quinta-feira, 19, a Polícia Militar do Amazonas de executar 17 pessoas para defender a facção criminosa Família do Norte (FDN) durante uma operação contra o narcotráfico na cidade, entre a noite de 29 de outubro e a madrugada do dia seguinte.
Segundo moradores, nessa noite, integrantes da FDN tomaram uma área de venda de drogas da facção Comando Vermelho (CV), no bairro do Crespo, mas sem troca de tiros.
Acionada, a PM matou 17 pessoas, incluindo três adolescentes – um deles tinha 14 anos. Nenhum policial saiu ferido e nenhuma viatura foi alvejada. A polícia, que alega ter sido recebida a tiros, retirou todos os corpos antes da chegada da perícia ao local.
“Não morreu ninguém (da polícia) porque eles atacaram pelas costas. Eram garotinhos ali”, afirmou Virgílio Neto, em entrevista à rádio Difusora do Amazonas. “O grave: era uma equipezinha que tinha sido contratada pelo CV, e o pessoal foi lá muito mais para defender a Família do Norte. A esse ponto estamos chegando aqui”.
Em outro trecho da entrevista, o tucano afirmou que as facções do narcotráfico comandam as invasões de terra na periferia de Manaus “sem serem reprimidas, à vontade, como se tivessem muitos amigos influentes”.
Em nenhuma das acusações, Virgílio mencionou provas. A relação do prefeito com o governo do Amazonas se deteriorou a partir do final de setembro, quando o seu enteado, Alejandro Valeiko, se envolveu no assassinato do engenheiro Flavio Rodrigues.
O crime aconteceu na casa de Valeiko. Imagens da segurança do condomínio mostram que o policial militar Elizeu de Souza, segurança de Virgílio, esteve no local na noite do crime, em um carro da prefeitura. Segundo a polícia, foi ele quem retirou o corpo do engenheiro, encontrado numa estrada.
A reportagem tentou entrar em contato com Virgílio, mas ele não respondeu ao pedido de entrevista até a conclusão deste texto.
Em nota, a PM disse que a acusação é “desrespeitosa e desprovida de verdade”. “O prefeito faz ilações e não apresenta fatos concretos ao afirmar que policiais do 2º Batalhão de Choque Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) protegem e defendem integrantes de um grupo criminoso local”, diz o comunicado.
“Nossos policiais são qualificados e preparados para situações extremas e não se acovardam diante dos perigos”, diz a nota da PM do Amazonas. “Rogamos a Deus, todos os dias, para sair e defender a população de bem e voltar para o seio de nossas famílias, que ansiosamente nos esperam”.
No início de dezembro, a reportagem solicitou uma entrevista sobre a investigação à assessoria de imprensa da Polícia Civil. No entanto, o delegado escalado para falar do caso, Paulo Martins, disse que, na hora da entrevista, não era o responsável pelas investigações.
A reportagem voltou a procurar a assessoria de imprensa da Polícia Civil, que se limitou a informar que o caso havia sido transferido para a Unidade de Apuração de Ilícitos Penais (UAIP), com apoio do Departamento de Repressão ao Crime Organizado. Apesar de pedidos reiterados, nenhuma entrevista nova foi marcada.
O atual secretário da Segurança Pública, coronel da PM Louismar Bonates, negociou em 2015 a ampliação do poder da FDN no sistema carcerário em troca de ‘paz nas cadeias’, aponta investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O relatório da PF foi enviado ao Ministério Público Estadual, que não apresentou denúncia contra Bonates, à época secretário de Administração Penitenciária. Ele nega a negociação.
A FDN protagonizou dois dos maiores massacres em presídios das histórias do país, no Ano-Novo de 2017 e em maio deste ano. Somados, os dois episódios resultaram em 122 presos assassinados.