Por Diogo Rocha, do ATUAL
MANAUS – Detector de metal, mais agentes de portaria e revista da mochila de alunos foram as principais providências adotadas nas escolas públicas do Amazonas para prevenir ataques a professores e estudantes. As ações ocorrem logo após o ataque de um aluno em uma escola particular de Manaus contra uma professora e dois colegas, que foram feridos com faca.
Para especialistas em comportamento, tirar das mãos de estudantes armas de fogo ou brancas e mexer na estrutura das escolas com a instalação de câmeras de vigilância e botões de pânico, não resolvem. A raiz do problema é humana e precisa ser tratada desta forma, afirmam psicólogas consultadas pelo ATUAL.
Sem a devida atenção e cuidado, principalmente, dos pais e outros responsáveis, crianças e adolescentes podem virar potenciais agressores, alertam as profissionais de saúde mental. Evitar a negligência familiar é o caminho.
A psicóloga Mônica Maximino afirma que é necessário um olhar mais humanizado sobre os jovens alunos e defende medidas de prevenção utilizadas pela psicologia.
“Não há garantia [de segurança nas escolas] com o detector de metal e as revistas sendo feitas em alunos. Um lápis mesmo pode virar uma arma. Precisamos ter um olhar humanizado para essas crianças e adolescentes, que talvez não estejam sendo assistidos dentro de casa. Eles não são ouvidos”, afirmou Mônica, que é especialista em psicopedagogia.
Entre as sugestões para evitar ataques nas escolas, ela cita rodas de conversas, oficinas, palestras, escuta ativa e orientações com professores. “Isso abre um espaço de soluções de conflitos, de diálogo sobre preconceito e violência e de intervenção socioeducativa para construção de um ambiente educacional harmonioso”.
A psicóloga Ketty do Socorro Moreira, que trabalha há dez anos na CDE-02 (Coordenadoria Distrital de Educação), também sugere outras ações preventivas no ambiente escolar. Uma delas é capacitar os professores para identificar comportamentos atípicos nas escolas e encaminhar os alunos para a assistência.
Outra medida é trabalhar as competências socioemocionais desde a tenra idade. “Assim os pequenos começariam a trabalhar e identificar suas emoções, pois percebe-se que essa nova geração não sabe lidar com frustração”, explicou.
Desde o atentado no Colégio Adventista de Manaus, na zona sul da cidade, no início desta semana, uma ação foi organizada pela CDE-02. “A equipe começou a realizar uma ‘Jornada Psicossocial de Prevenção à Violência’ nas escolas em que os próprios alunos irão pesquisar [sobre a temática]. E através de cartazes, peças de teatro, e música trarão o assunto para informação, discussão e resolução dos próprios conflitos”, disse.
Ketty Moreira afirmou que a rede de saúde pública precisa ser ampliada para reduzir o tempo de espera por atendimento e evitar o agravamento de transtornos mentais identificados nos alunos.
“Nós precisamos de mais Caics (Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), Caps (Centros de Atenção Psicossocial), psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais na rede da saúde. Nós fazemos o atendimento qualificado na escola e percebemos que o aluno tem sinais de ansiedade, depressão e se automutila. Realizamos o encaminhamento, a família vai para a fila [de atendimento] e espera até seis meses. Então, os sintomas vão se agravando e o aluno continua na escola com o quadro sem assistência”, revelou.
Principais causas
Falta de diálogo com os pais ou responsáveis, acesso à internet e às redes sociais sem controle, nenhuma imposição de limites pela família e bullying no ambiente escolar são as principais causas de comportamentos agressivos em crianças e adolescentes, avaliam Mônica Maximino e Ketty Moreira.
“Muitos são os episódios que, cotidianamente, são observados e relatados pelos atores escolares, que discorre o contexto da violência e dos preconceitos. O desrespeito nas relações professor-aluno, aluno-aluno e escola-família e o fenômeno do bullying, atualmente, vem sendo um conceito recorrente para descrever as situações de violência na escola”, disse Mônica.
“Eu atendo adolescentes que relatam que os pais não escutam, não prestam atenção no que eles fazem e com isso eles ficam no celular o dia todo. Se sentem rejeitados e isolados”, completou.
Para Ketty Moreira, o núcleo familiar é o maior responsável em reduzir os riscos de atentados pelos jovens. “As causas [de ataques nas escolas] são multifatoriais. Por exemplo, o uso sem limites do celular; a falta de regras e limites dos pais com os filhos; e falta de diálogo e direcionamento”, reforçou.
Efetivo insuficiente
Pela Coordenadoria Distrital de Educação, Ketty Moreira atende escolas estaduais das zonas sul e centro-sul de Manaus. Ela relata dificuldades devido à baixa quantidade de profissionais nos núcleos de ensino da Secretaria de Educação.
Até o ano passado, Ketty trabalhou sozinha para cobrir 36 escolas, com aproximadamente 30 mil alunos e 2.100 servidores. A sobrecarga diminuiu com a chegada de mais uma psicóloga e duas assistentes sociais na equipe psicossocial, mas é necessário mais profissionais.
“Nós precisamos de mais pessoal. Sei que não vamos salvar o mundo, mas teríamos como trabalhar de maneira preventiva e realizar mais ações na promoção da saúde mental”, disse.
Em vigor desde 2019, a Lei Federal nº 13.935 que obriga a presença de psicólogos e assistentes sociais nas escolas públicas da educação básica não tem sido cumprida efetivamente no país. A capital Manaus e os demais municípios do Amazonas não são exceções.
Em nota para o ATUAL, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) explicou que existe “um estudo para nova contratação de psicólogos e assistentes sociais, por meio, de processo seletivo simplificado (PSS), além do concurso público 2023”.
A secretaria informou que possui sete Cemasp (Centros Municipais de Assistência Sócio Psicopedagógico) “que atuam com uma equipe interdisciplinar composta por pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e assistentes sociais” e que tem como uma das ações identificar e prevenir ao bullying. Mas a escola deve solicitar esse tipo de atendimento. No ano passado, o Cemasp atendeu 1.290 crianças com ações educativas e preventivas.
Mesmo questionada, a Semed não informou o número de psicólogos e assistentes sociais presentes nas escolas municipais. A secretaria disse que desenvolve ações de prevenção contra violência aos alunos, desenvolvido pela Gerência de Atividades Complementares e Programas Especiais (GACPE) com ações de prevenção e enfrentamento às violações dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Por nota, a Seduc (Secretaria de Estado de Educação e Desporto) informou que dispõe de “900 profissionais capacitados para atuarem juntos aos alunos da rede estadual de ensino, entre os quais psicólogos, assistentes sociais e pedagogos com especialização em psicopedagogia.”.
A secretaria estadual não especificou também a quantidade de profissionais da saúde mental e do serviço social que possui no quadro de servidores.
“Estes profissionais, em conjunto, atuam juntos nas escolas e por meio das Coordenadorias de Distritais de Educação (CDE) e, rotineiramente, realizam atividades no ambiente escolar, promovendo palestras, cursos, oficinas, debates e intensificando campanhas de valorização à cultura de paz. Contando, inclusive, com iniciativas desenvolvidas pelo Departamento de Política e Programas Educacionais (Deppe).”, diz a nota da Seduc.
Medidas de segurança nas escolas como as citadas acima, Podem não resolver, mas previnem tragédias! O bom relacionamento afetivo é crucial para se evitar esse caos! A manipulação na internet tem se tornado também um desafio! Precisamos de pais mais atentos, mais cuidadosos com seus filhos, mais amor nas famílias , mais tratamento psicólogico, levar esses jovens a buscarem um sentido benéfico pra suas vidas e sim, mais seguranças nas escolas. Não podemos abrir mão do papel e responsabilidade que cada um de nós temos quanto a isso! É um conjunto de responsabilidades
Não concordo sobre capacitar professores para identificar algum comportamento suspeito. A sobrecarga de trabalho e as cobranças sobre esse profissional faz com que toda responsabilidade recaia sobre ele. Acredito que um maior envolvimento das áreas da saúde ( pediatras, psiquiatras, neurologistas)e da justiça (conselho tutelar , delegacia de apoio a criança)poderia ser mais eficaz na condução desse problema
Então psicólogas vão trabalhar sem segurança!! Que balela !! Precisamos sim de polícia armada, detector de metal e revista de mochilas. Se o banco tem porquê não as escolas??? Vai catar coquinho com esse discurso furado!! Polícia já nas pirtas das escolas!!
Precisam de psicólogas para os professores tbm, existem professores agressivos verbalmente, que gritam em excesso, humilha e incita o bullying , na escola do meu filho tem duas assim, é horrível ouvir meu filho dizer q tem pavor de ir a escola por causa da professora, ele tem pesadelos com ela, faz tratamento psicológico pq adquiriu urticária emocional por causa da situação na escola. Meu filho é um garoto muito educado e posso provar pelo histórico q a professora passou sobre ele… Socorro!!! Não são só os alunos q precisam de acompanhamento.
É esse olhar que a humanidade está virando esseixo
O que seria, questão humana???
Os pais de hoje, dão menos atenção aos filhos, porque trabalham ” demais”, ou ” à mais” ?
A questão, vem da falta de investimentos na,educação e no professor.
Estes mesmos pais, foram educados, para serem pais ou colocarem filhos no mundo?
A responsabilidade da escola, que não tem infraestrutura e nenhum investimento no professor.
O professor, que não está preparado, para os alunos de hoje?
A falta de ” tempo ” para pais dialogarem com filhos e professores conhecerem seus alunos?
O que é mais importante, eu conhecer o meu aluno, sua família, seus conflitos diários, ou colocar o conteúdo em dia , ficar dentro do prazo mesmo que não haja tempo para a fixação?
Quem é humano, quando vê um filho, um aluno, uma criança, se entregando ao vício de jogos , da internet e não faz nada ou já não tem mais o que fazer.
Muitas perguntas e poucas respostas….
Não é verdade…Minha mãe é excelente professora, trabalha com o psicológico, o emocional, educacional, social… Mesmo assim, já tive relato de alunos dela, antes da pandemia e após a pandemia, até mesmo essa semana, de levar arma branca. Então não adianta, somente segurança resolve…Pois o aluno, começa desde cedo á fazer isso e ganha confiança ao longo prazo, quando percebe a falta de segurança dentro da escola, se tornam corajosos desde a infância…Outra coisa, tem pais incentivam! O que minha mãe faz de diferente, é simplesmente chamar os pais na escola e conversar com eles, olha que ela sabe ser insistente, já que tem o ano todo para fazer isso e o whatsapp que ajuda atualmente!
Fui professora durante 25 anos. SEMPRE HOUVE ALUNOS CARENTES, SEM APOIO DA FAMÍLIA. mas agora, com certeza a situação PIOROU, Sempre deveria ter funcionado efetivamente, o atendimento psicopedagogo. Tínhamos o serviço de Orientação Educacionsl, que já não atendia corretamente os alunos. Os GOVERNOS, não tem um olhar sobre este setor, que já deveria estar atendendo Em TODAS AS ESCOLAS do Brasil E AS FAMÍLIAS CADA VEZ MAI DESESTRUTURADAS AGRAVAM A SITUAÇÃO.
Então, sabemos que a questão é humana, e que os pais devem estar atentos em casa, mas também sabemos que na maioria das vezes os pais também perecem precisar de tratamento, então mediante a isso como controlar?
Não dá pra ficar com teorias, os ataques são terroristas, quem faz, o faz para matar, se matar ou se entregar a polícia, teorias humanas, opiniões não adiantam depois que já aconteceu.
Se desde antes já estivéssemos com revistas severas, detector de metais e segurança armada nas escolas, tenho certeza que teria evitado muita coisa.
Mas também sabemos que quem quer fazer e se matar depois disso não vai se intimidar com segurança e vai arrumar uma forma de fazer assim mesmo.
Colocar pelo menos um psicólogo e um assistente social permanentes em cada escola, já ajudaria no caso da prevenção. Mas isso jamais vai acontecer porque os governantes não estão dispostos a pagar. Pra estes, isso é dispensado por ser dispendioso. A equipe disponibilizada para esse serviço de apoio psicossocial, só vai às escolas, no máximo, uma vez ao ano, quando são solicitadas, atuando praticamente, em caráter emergencial. E isso não previne e não resolve. O peso de mais uma responsabilidade acaba mesmo caindo nas costas do exausto professor, como se não bastasse atender tantas cobranças.