MANAUS – A ameaça de cortar verbas publicitárias da Folha de S.Paulo em retaliação a reportagens que o desagradaram é um péssimo sinal do capitão reformado eleito presidente da República pelo voto popular, Jair Bolsonaro (PSL). Tal ameaça deve acender a luz amarela na sociedade.
Ameaçar veículos de comunicação, qualquer que seja a linha editorial, é inaceitável. Bolsonaro, ao dizer que poderá cortar a verba publicitária do jornal de maior circulação do País (considerando a versão impressa e online) dá um recado direto e acena com a possibilidade de censura, apesar de dizer que é totalmente favorável à liberdade de imprensa.
A contradição com o discurso da vitória, no domingo, veio menos de 24 horas depois, na entrevista ao Jornal Nacional. Bolsonaro havia pregado no dia anterior a construção de um governo que respeita as liberdades. Na segunda-feira, mostrou que a liberdade será respeitada, desde que não pisem no seu calo.
O pior nesse episódio é ver gente aplaudindo o gesto do presidente eleito. Evito embarcar na onda de rótulos, como os usados na campanha eleitoral. Nada de fascista, nazista ou coisa que o valha. Mas não custa lembrar que Adolf Hitler foi eleito pelo voto popular para o parlamento alemão e, pela expressiva votação do Partido Nazista, se tornou chanceler.
Não há motivos para comparar Bolsonaro a Hitler, mas nunca é demais manter a vigilância. Como bem lembrou o ministro Alexandre de Moraes, por ocasião do vazamento da fala do filho de Bolsonaro, Eduardo, de fechar o Supremo Tribunal Federal com um cabo e um soldado, a frase do ex-presidente dos Estados Unidos e autor da declaração de Independência do país, Thomas Jefferson, permanece atual: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.