Há muita grilagem e desperdício de floresta na Amazônia. Segundo o Ipam e o Banco Mundial, em reportagem da Revista Piauí, foram 21 milhões de hectares destruídos entre 1997 e 2020. 75% destas áreas são destinadas para a pecuária. É um uso muito menos nobre para a terra, considerando as modernas técnicas para criação de gado. Há pesquisas da Embrapa que indicam como reduzir o metano produzido pelo gado, tema que vai crescer em importância a partir dos acordos da Cop26. Para tudo precisaremos de mais e mais tecnologia.
Outra fonte de roubos é a pirataria em todos os campos: das ideias, das pesquisas, das espécies e de todo o tipo de recursos que se pode apropriar. Estudo do Instituto Igarapé, de 2020, classifica em seis tipos de categorias: propriedades rurais para especulação, agricultura (pequena escala, industrial, cultivo de droga etc.), vida selvagem (comércio, caça, pesca), energia e mineração, utilitários (energia), construções e estradas. Ao final do estudo os autores propõem planos de ação e possiblidades de combate.
Será uma luta árdua sair da concepção vaga do “precisamos aproveitar a Amazônia”, onde já há milhares de pessoas aproveitando sem lei, para transformar isso numa verdadeira ação com sustentabilidade. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para a Biotecnologia nos próximos anos é praticamente zero. Melhor dizendo: é literalmente zero na maior parte dos campos. Será que poderíamos chamar isso de roubo? Talvez não. Parece que há conformismo com esta condição. Por que não nos indignamos? Por que não são tomadas ações para contrapor esta realidade?
Há uma grande oportunidade de uso dos recursos. Mas precisaremos ter algum tipo de investimento, se não a destruição e a ilegalidade serão mais confortáveis e altamente rentáveis, pois não há investimento em nada. É só chegar e usar. O que pode ser mais rentável que isso? Se não houver uma consciência plena disto, será impossível transformar a realidade.
Se não houver um mínimo senso de indignação, será difícil mudar a realidade. Enquanto acharmos normal retirar floresta para colocar gado com uma produtividade baixíssima por hectare, seguiremos a afundar não só na reputação, mas também na fome e na falta de alternativas.
Estudos citados:
2020-08-19-AE-47_Environmental-Crime-Typology.pdf (igarape.org.br)
Pesquisa demonstra que manejo adequado de bovinos reduz emissões de metano – Portal Embrapa
Amazônia sufocada (uol.com.br)
Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para Biotecnologia, p. 18, p. 31 = R$ 0.
Em PACTI-Biotec_Web.pdf (mctic.gov.br)
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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