Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – De 11 cidades da tríplice fronteira, formada pelo Brasil, Colômbia e Peru, que tiveram mais casos de Covid-19, nove são municípios do Amazonas, mostra o boletim epidemiológico da Rede Transfronteiriça Covid-19 formada por pesquisadores da Fiocruz Amazônia e de outras 12 instituições dos três países. O documento avalia a situação da doença na região entre 13 de março de 2020, quando foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Manaus, até 31 de março deste ano.
A análise mostra que na zona de fronteira os municípios brasileiros, todos no Amazonas, apresentaram o maior número de casos confirmados acumulados.
Onze cidades tiveram mais contaminações no período avaliado. Foram São Gabriel da Cachoeira-BR (7.842), Lábrea-BR (5.795), Letícia-CO (5.566), São Paulo de Olivença-BR (4.504), Ipixuna-BR (4.231), Barcelos-BR (4.018), Tabatinga-BR (3.197), Mocoa-CO (2.807), Santa Isabel do Rio Negro-BR (2.686), Benjamin Constant-BR (2.573) e Atalaia do Norte-BR (2.552).
Os municípios da linha de fronteira registraram maior número de mortes. Das 14 cidades que tiveram mais óbitos, oito são do Amazonas. Em ordem descendente, são: Letícia-CO (207), Tabatinga-BR (117), São Gabriel da Cachoeira-BR (105), Requena-PE (99), Puerto Asís-CO (82), Mocoa-CO (79), Benjamin Constant-BR (69), Lábrea-BR (68), São Paulo de Olivença-BR (58), Ramón Castilla-PE (58), Contamana-PE (57), Barcelos-BR (53), Urucará-BR (48) e Santa Isabel de Rio Negro-BR (47).
Os municípios nessa região também apresentaram os maiores valores de mortalidade acumulada por 100 mil habitantes. São eles: Putumayo-PE (436), Letícia-CO (417), Jenaro Herrera-PE (373), Requena-PE (328), Urucará-BR (295), Japurá-BR (254), Ramón Castilla-PE (240), São Gabriel da Cachoeira-BR (230), Jutaí-BR (224), Contamana-PE (209), Barcelos-BR (193), Santa Isabel de Rio Negro-BR (187), Santo Antônio de Içá-BR (185) e Tabatinga-BR (178).
Vulnerabilidade da região
O boletim considera que a região amazônica apresenta altas condições de receptividade e vulnerabilidade para a disseminação do novo coronavírus, decorrentes das baixas condições socioeconômicas, alta concentração de população indígena e outros grupos vulneráveis, e as dificuldades de acessibilidade à atenção de saúde de maior complexidade.
De acordo com a avaliação, em relação à mortalidade, houve aumento gradativo de casos nos municípios do Amazonas em maio de 2020 a partir da região metropolitana de Manaus com disseminação pelos rios para o interior do estado e se intensificando em julho até os municípios da zona de fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, com diminuição nos meses de agosto e setembro.
O boletim cita o aumento exponencial do número de casos e mortes por Covid-19 no Amazonas nos meses de dezembro de 2020, janeiro e fevereiro de 2021, que representou uma segunda onda da doença no estado e um colapso do sistema de saúde.
Segundo o documento, em Manaus foi observado o aumento do número de casos em bairros de população com capacidade aquisitiva maior, seguido de áreas periféricas nos meses de novembro e dezembro, e posteriormente nos meses de janeiro e fevereiro.
Variante
Os pesquisadores avaliam que a introdução da variante P.1 pode ter agravado a situação da pandemia na área, sem descartar a introdução de outras variantes provenientes da tríplice fronteira e municípios fronteiriços com os estados do Pará, Rondônia, Roraima e Acre, simultaneamente.
Atualmente, a faixa de fronteira brasileira vivencia um cenário de estabilização/oscilação, mas ainda em alerta pelo alto número de casos e de internações hospitalares, especialmente nos municípios pertencentes às regionais de saúde de Triângulo e Alto Rio Negro, que são territórios com maior percentual de população indígena do Brasil.