Como advogada, amazonense e apaixonada pela minha terra, pergunto-me como chegamos à situação atual e nos acostumamos a ela de forma tão natural. Crescimento desordenado, invasões de terra, ruas com asfalto de quinta qualidade, igarapés apodrecidos, falta de políticas ambientais e sociais. Estamos, em todos os meses dos últimos anos, com o pires na mão, na tentativa de salvar nosso modelo de desenvolvimento econômico, a Zona Franca de Manaus, e implorar por uma sobrevida. Na ameaça contumaz, falta comprometimento, sobra politicagem periódica de alguns, que buscam ganhar “algum” com a aparição na mídia. Estamos todos os dias a administrar o caos que nos rodeia.
No mês de abril passado, durante a passagem do vice-presidente Hamilton Mourão por Manaus, pudemos observar um auditório lotado, com autoridades de vários escalões, alguns políticos locais com um discurso bonito e recheado de frases de impacto, mas, na realidade, estão mais para vampiros, que sugam o pouco sangue que resta à população. Sobram ilusões e falta comprometimento de verdade com o futuro do nosso Estado e com nossa gente.
Os novos gestores, que recentemente assumiram seus cargos federais no Amazonas, abusam das palavras com que apresentam suas competências e qualificações, buscam o apoio da sociedade civil organizada, mas, quando vamos para a prática e buscamos desses mesmos gestores respostas para assuntos de interesse de Estado, encontramos uma porta fechada e, quando não, uma cerca de assessores desqualificados com um cabedal de desculpas. Não há mais espaço para tais condutas. Enfim, estamos cansados ao extremo, de tanto faz de conta, de tanta falta de senso.
Sempre digo: “Um Estado tão rico e tão miserável.” Nossa Rodoviária está mais para receber porcos do que gente. Um lugar imundo, sem infraestrutura, seja para empresas, seja para usuários. E parece que ninguém vê. O acampamento de venezuelanos, ao lado, está para tornar-se uma favela no meio de duas grandes avenidas, Mário Ypiranga e Constantino Nery. Ninguém vê ou é melhor fingir que não vê. Nada contra venezuelanos, mas, sim, contra quem possui o poder de solução e, simplesmente dorme em berço esplêndido enquanto nosso “mundo” adoece.
Assisti recentemente a um documentário na Netflix, chamado “Amazon Secret”, que retrata a forma criminosa como as riquezas da Amazônia, o ouro, a madeira e a biodiversidade, são exploradas pelas organizações criminosas. O relato ali tratado é impactante e permite-nos observar a degradação das nossas riquezas por meio da exploração ilegal sem qualquer medida efetiva para impedir ou sequer diminuir esse flagelo. E aí nos perguntamos: Quando nosso modelo de desenvolvimento, Zona Franca, é atacado, de forma contumaz, por pseudoespecialistas em economia, eles estão a serviço do Brasil ou a serviço de interesses inominados?
Somos um dos Estados mais ricos da Federação, tanto em água e minério, quanto em biodiversidade. Falta-nos, tão somente, gestor público qualificado, conhecedor profundo de nosso potencial, erros e acertos e real comprometimento com o desenvolvimento do Estado e com a melhoria efetiva da qualidade de vida do cidadão.
Não temos mais por que pedir esmolas. Temos, sim, de exigir respeito, serviços de qualidade, afinal temos contribuído para o Brasil. Não somos devedores de favores e sim credores do retorno de toda contribuição que mandamos para os cofres públicos. Chega de toma lá, da cá! Chega de política como trampolim para interesses próprios. O Amazonas e sua gente têm voz e espírito de luta. Não iremos esmorecer, sucumbir.
É imperioso buscar a segurança jurídica necessária para manter as Empresas aqui instaladas e outras que vierem. A segurança jurídica de nossa economia – lembremo-nos bem – é o amparo de nossa sobrevivência, empregos, oportunidades e prosperidade. Para tanto, temos de remover o que nos afasta e fortalecer o que nos une. Nosso presente e nosso futuro querem-nos atentos, aliançados e conscientes. Precisamos estudar, debater, superar os embaraços que nos impõem e os gargalos que nos amarram. Esse deve ser o compromisso de toda a sociedade civil organizada, uma trincheira de luta, que estão todos convidados a integrar em nome do nosso Amazonas, da Amazônia, nosso elo e razão de vida… necessariamente repartida!
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