Apesar de bastante deteriorado e do atual estado de abandono, o prédio na Praça dos Remédios que sediou, ao longo de décadas, a faculdade de Direito da atual Universidade Federal do Amazonas constitui um expressivo elemento da memória acadêmica e do acervo cultural amazonense.
Suas escadas, hall de entrada, salas e paredes guardam inúmeras memórias de gerações que se integraram à história das instituições do Amazonas. Estudantes, professores e profissionais que fizeram da experiência vivida na faculdade de direito da atual UFAM celeiro de muitas outras histórias. Apelidada de jaqueira, sobreviveu a tempos difíceis, de fechamento político do país, mas também assistiu a retomada da reabertura institucional. Participou de momentos singulares, abrigando representantes de distintas correntes políticas, ideológicas e partidárias. A faculdade de Direito esteve ligada predominante à busca pela liberdade, pela justiça e pelo desenvolvimento, condições básicas para a afirmação do processo democrático. À sua maneira, fez também história. Por isso, a velha jaqueira tornou-se um relevante símbolo da formação jurídica e da vida institucional do Estado.
Não se trata de nostalgia nem de culto ao tradicionalismo conservador, mas de reconhecer o imensurável valor desse símbolo de educação jurídica, cívica e de formação profissional que integra o rol de elementos do patrimônio cultural do Amazonas. A partir disso, considerar as possibilidades de restauração do prédio que abrigou a faculdade de Direito herdeira da primeira universidade do Brasil – a Escola Universitária Livre de Manaós, fundada em 17 de janeiro de 1909.
Com 107 anos completados no último domingo (17.01.2016), um movimento recém-constituído, “Salve a Velha Jaqueira”, quer chamar a atenção de todos os seus egressos e atuais quadros, docentes e discentes, para as possibilidades de restauração do prédio que abrigou a velha jaqueira e dar a ele uma destinação mais que melhor dignifique a memória das gerações que por ali passaram e colaboraram com o desenvolvimento das diversas instituições estaduais. Cogita-se aproveitá-lo como museu ou espaço para aula e eventos ocasionais, escritório modelo, biblioteca ou sede de serviço público. São possibilidades levantadas, visando um justo reconhecimento à história da educação jurídica estadual e da própria edificação da memória acadêmica no Amazonas.
Há um conhecido aforismo, atribuído ao filósofo e poeta espanhol George Santayana, que adverte: “aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo”. De fato, os povos que preservam a memória são os que mais aprendem com a própria história e se tornam mais aptos ao desenvolvimento. Por isso, faz muito sentido o ensinamento de Mahatma Gandhi: “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.” Nessa perspectiva, tão essencial quanto a saúde, o que bebe e o que se come, é a memória do que se foi, pois ela está presente no que se é. E ainda deverá estar no que se poderá vir a ser.
A história, o idioma, o magistério, as artes e outras formas de expressão de um povo estão, por vezes, representadas em certos monumentos, obras e edifícios. O prédio da antiga faculdade de Direito, a velha jaqueira da UFAM, é seguramente um desses símbolos da cultura amazonense. Por isso, vale muito escutar o apelo por socorro: “Salve a Velha Jaqueira.
Pontes Filho é Cientista Social
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