Auditoria anual das contas do Ministério do Meio Ambiente mostrou recentemente que a pasta não realizou os investimentos federais previstos no planejamento estratégico de 2019, prejudicando programas que incidem na mudança do clima, na conservação da biodiversidade e na qualidade ambiental. Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), na mudança climática foi investido somente 13% da verba prevista, na conservação da biodiversidade aplicou-se apenas 14% do orçado e na qualidade ambiental foi gastos tão-somente 6% dos recursos disponíveis.
Tal conduta mostra que as questões ambientais não despertam o interesse do governo federal, confirmando a política adotada nos últimos anos. Corrobora também que as intenções do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles de “passar a boiada” no que diz respeito a flexibilização de normas ambientais, está sendo posta em prática há um bom tempo. Os interesses do governo são determinados pelos grandes empresários do agronegócio, madeireiros e empresas da mineração, que buscam produzir lucros a despeito da destruição da natureza.
Esta negligência e desinteresse pelas questões ambientais contradizem as expectativas dos estudiosos, entidades ambientalistas e organismos internacionais que se preocupam com a atual devastação ambiental praticada no Brasil. Portador de seis grandes biomas naturais (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pampas e Pantanal), o Brasil mais uma vez mostra que possui um grande déficit de consciência ambiental, começando pelas suas principais lideranças políticas, cujas decisões têm impactos de grandes contornos.
Ameaçados pela ação antrópica, estes biomas seguem o seu percurso de desaparecimento, gerando consequências desastrosas já sentidas em todas as partes do território nacional. Além disso, tal ecocídio afetará o equilíbrio do ecossistema planetário e nos tornará mais pobres em termos de biodiversidade. Entregaremos para as gerações posteriores um planeta devastado, apresentando sérias dificuldades de sobrevivência e tornando mais improváveis a nossa manutenção enquanto humanidade.
Esta notícia é dada numa ocasião em que se comemora os cinco anos da Laudato Si, carta escrita pelo Papa Francisco, tentando alertar a humanidade sobre o quanto estamos destruindo a nossa casa comum. O sumo pontífice reconhece a existência de grupos influentes que resistem em tomar posições de defesa da natureza, uma vez que tais decisões reduzem os seus lucros e afetam seus interesses de poder. Segundo o Papa, ainda entre as atitudes que dificultam os caminhos da preservação ambiental vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas.
Ignorando os estudos científicos e os apelos da sociedade civil nacional e internacional, o governo brasileiro continua a sua trajetória nefasta semeando desastres e dificultando cada vez mais uma solução racional para o problema. Desarticulando as redes de proteção ambiental em todo o país e em parceria com setores empresariais e apoiadores manipulados e obcecados, o executivo federal empurra o Brasil para o abismo, ampliando ainda mais a crise socioambiental global. Quem vai parar este trem desgovernado, mensageiro insolente da morte?
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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