Pouco a pouco estamos nos tornando mais atrasados e menos competitivos. É um desejo de involução incompreensível. Décadas se passaram desde a construção do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) para se chegar a um acordo para tirar a gestão (quase inexistente) da Suframa. Certo ou errado, bom ou ruim, chegou-se a uma solução. Agora, tudo foi cancelado e fica o feito por não feito e, mesmo sem uma solução clara sobre como fazer, o Centro volta para a Suframa. Tomara que exista um desfecho melhor.
Um corte de 30% sem qualquer critério minimamente claro foi feito nas universidades federais. Não se diz o que cortou ou qual o critério. O mesmo tipo de contingenciamento que foi feito na Suframa por anos, durante os Governos FHC, Lula e Dilma contagiou agora o sistema de universidades federais. Da mesma forma: cortar sem esclarecer a razão, além de um problema administrativo é um desrespeito ao orçamento. Claro que existe a liberdade de fazer, mas, de nossa parte temos a liberdade para perguntar: qual a razão? Cortar sem mostrar caminhos alternativos para os gastos orçados é no mínimo falta de respeito com os planos realizados. E ainda dizem que o Brasil não planeja. Não temos problemas para planejar, temos problemas para executar.
Claro que abundam alegações de WhatsApp ou de Facebook, mas nenhuma clareza nos critérios e motivos. Quais as razões de gestão? Onde está o choque de gestão? E o modelo Liberal? Enquanto isso, George Yip e Bruce McKern analisam no livro “China’s next strategic advantage: from imitation to innovation” (“Próxima vantagem estratégica da China: da imitação para a inovação”). Nele, há um destaque na p. 170 “as empresas chinesas confiam com mais frequência na academia para fazer as suas pesquisas e desenvolvimento do que empresas ocidentais”. Ora, como não confiar e interagir com a academia? Por quais razões de nossos marcos legais, culturais e sociais esta interação é evitada? Entendo que se evita porque isso poderia mudar a lógica de comando do capital para o conhecimento. O Brasil teima em não sair da economia agrária ou do rentismo. Resiste de todas as formas para não adentrar na economia do conhecimento ou no capitalismo com os dois pés.
A fronteira do conhecimento pode vir de aplicações de uso prático ou não. Pode vir ainda de novos conhecimentos ou não. O cruzamento destas duas variáveis, em seu máximo, constrói o Quadrante de Pasteur (novos conhecimentos com aplicações práticas), podendo ainda ser completado pelo Quadrante de Thomas Edison (conhecimentos estabelecidos com aplicações práticas) ou de Niels Bohr (novos conhecimentos sem aplicações práticas), ou ainda, em seus mínimos, o quadrante de Roger Tory Peterson (conhecimentos estabelecidos sem aplicações práticas). As universidades caminham por todos eles. Empresas gostam do Quadrante de Pasteur e de Edison, mas adoram sugar os demais quadrantes, fundamentais para todo o resto. Enquanto as Universidades não estiverem de mãos dadas com as empresas para os quatro quadrantes da inovação será difícil construir um país próspero.
Enquanto seguirmos cortando pesquisas porque elas não possuem cunho prático, por estudar o Funk ou o Cancioneiro Geral, alegando falta de importância prática, será difícil construir a nossa cultura contemporânea e seguiremos a importar sushis e filmes de Hollywood ou de Bollywood. Enquanto pesquisadores não usarem seus conhecimentos para ganhar Dinheiro (com d maiúsculo), seguiremos a ser um país agrário, de rentistas e longe do capitalismo do Século XXI. É incrível como tantos tentam tolher a liberdade do Brasil, impondo suas bandeiras vermelhas ou amarelas. Liberalismo sem liberdade, capitalismo sem capital: esta soma, ou alternância, são atrasos de vida, em todos os sentidos.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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