
O debate político no Brasil virou coisa miúda no sentido mais pessimista que essa expressão pode significar. As questões relevantes do País não aparecem nos debates de televisão entre os candidatos a presidente da República. No submundo da política e nas redes sociais, uma legião de torcedores, bem ao estilo das torcidas organizadas que matam e esfolam os torcedores do time rival nos estádios, atuam para desqualificar os adversários, mas não conseguem apresentar argumentos convincentes sobre a qualidade do candidato que defendem.
No debate deste domingo, 28, na TV Record, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) teve a oportunidade de formular pergunta à candidata Marina Silva (PSB), a questionou sobre como Marina votou lá nos idos de 1995 a matéria que instituiu a CPMF, morta e enterrada na gestão de Lula pelo Congresso. Dilma queria provar que Marina mente, como se político não mentisse. Por que Dilma não questionou Marina Sobre a manutenção das taxas de juros nas alturas e sobre a proposta da candidata do PSB de dar autonomia ao Banco Central? Essa é uma questão relevante que os candidatos não debatem.
Luciana Genro foi quem tocou no assunto ao fazer uma pergunta a Marina Silva, que tergiversou e não respondeu, porque a pergunta foi feita de forma enviesada. Luciana quis saber, na verdade, como Marina iria governar fazendo acordos com bancos e outros setores da sociedade, a velha questão sobre “nova política” x “velha política”. O âmago do problema não chegou a ser discutido.
Luciana Genro, sempre ela, perguntou a Dilma Rousseff sobre a defasagem no reajuste das aposentadorias de quem ganha mais de um salário mínimo, e sobre o fator previdenciário. Dilma “vendeu seu peixe”, falando sobre o crescimento no número de beneficiários da Previdência Social, mas passou longe de responder à questão formulada. O fator previdenciário, usado no cálculo das aposentadorias, foi uma invenção do PSDB, criticada pelo PT e mantida por Lula e Dilma durante os últimos 12 anos. Se é bom ou ruim, se é justo ou injusto, precisa ser dito no debate pelas pessoas que querem governar o país.
O debate é vazio na TV em confrontos dos candidatos e na propaganda eleitoral oficial. Como a eleição virou um jogo de torcidas, ninguém está mais interessado em ouvir. Para muitos, o melhor seria que não houvesse debate nem propaganda eleitoral. E o eleitor tem razão em não querer. A propaganda se tornou um simples jogo de marketing para impressionar os que não têm informação sobre os candidatos.
No submundo, os temas são um escárnio: acusam os candidatos de “acabar” com tudo o que é bom para a população. Neste aspecto, Marina Silva é o alvo principal. Vai acabar com o Bolsa Família, com a exploração do petróleo na camada pré-sal, vai interromper as construções de hidrelétricas, vai acabar com a CLT e os direitos dos trabalhadores. Nesse ambiente, impera a mentira em nome da continuidade ou da mudança.
A imprensa, que deveria cumprir o papel de informar, embarca na mesma onde e passa simplesmente a reproduzir as discussões tolas, os insultos e as estratégias da guerrilha suja dos partidos. O PSDB, tentando salvar a candidatura de Aécio Neves, atira contra Marina Silva com as mesmas armas de Dilma Rousseff, que luta para manter o PT no poder. Marina se faz de vítima, mas não consegue fazer um discurso desarticulador da artilharia dos adversários.
Talvez no segundo turno, os debates sejam diferentes. Com apenas dois candidatos, será possível o confronto direto. Será mais difícil o candidato ou a candidata fugir aos temas espinhosos. Resta saber se os que ficarem para etapa final da disputa vão querer trazer para o debate os temas que realmente interessam à população e ao País. Até aqui, eles provaram que não querem.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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