Por mais que não faça parte da dinâmica popular a erudição intelectual contida na academia, com todos seus caprichos e erros de análise, é possível ver, emanando das contradições sociais, as expressões mais verdadeiras dos reais processos de uma época. Isto é, na totalidade social está contida e expressa toda a síntese de seu tempo.
Por mais vulgar – e por vezes, até aparentemente burro – que possa impressionar esse discurso antipolítico, contém nele o tipo de descrença fundamental para gestar uma nova forma de fazer e pensar política, uma nova forma de sociabilizar, que significam, em últimas consequências, uma nova forma de humanidade. Embora também seja verdade que dele nasceu personagens caricatos como Trump, Dória e Bolsonaro, nele esses personagens não perdurarão, até porque mãe sempre tem razão, e a minha dizia que mentira tem perna curta.
Toda essa situação crítica de vive o Brasil, gera – como todo tempo de crise – pressa para a luta de classes. Todas as medidas demandadas pelo capital avançam com força e velocidade bem superiores frente à capacidade de resistência popular, e também sobre seu atual poder propositivo, criativo e de consciência política pelo outro lado da luta – a investida é muito clara, como mesmo consta na Folha de São Paulo da semana passada: investidores estadunidense se frustraram – acredite se quiser – com a “pouca” redução de salários e direitos incididos sobre os trabalhadores brasileiros. Declarando ser algo extremamente anticapitalista.
Porém, uma verdade, com grande potencial criativo e destruidor, se cria na dinâmica social pós 2013. Nessa atual hegemonia do discurso bipolarizado, uma análise rasa evidencia esse suposto excesso de afetos como um problema – nada mais longe da verdade. Por maior e mais crescente que seja a polarização política, uma coisa é capaz de unir os dois extremos do espectro ideológico, e com isso manifesta toda a racionalidade implícita. Justamente essa insatisfação política generalizada é o que dá abrigo para a reprovação – também generalizada – de todo esse sistema político e desse projeto de país que fora enfiado goela abaixo do brasileiro. Da mesma forma que as jornadas de Junho começaram com protestos contra os vinte centavos de aumento da passagem, o desmoronar da Nova República nasce no discurso anticorrupção.
O jogo ganha emoção ao se evidenciar que essa suposta “nova onda conservadora” é muito mais frágil do que parece. Isto é, não é a toa que no Brasil, e também no mundo, candidatos da extrema direita novamente reaparecem com força no embate político: em meio a descrédito por parte do jogo feito entre centro esquerda e centro direita nos últimos anos, a saída mais imediata e assustadoramente atraente são, no meio da consciência ingênua geral, as resposta mais fáceis para quase tudo.
Basta dar uma solução simples para problemas como a violência, por exemplo: dizer que tem que matar bandido e armar a população parecem mais práticos, fáceis, e até sadicamente mais prazerosos, diante dos discursos de direitos humanos, educação, ressocialização etc.
Por fim, o que resta saber é até onde vai a aderência popular acompanhar esse discurso fácil dos fascistas. Provavelmente figuras como essas agora exaltadas cairão por terra em breve, quando suas aparências coincidirem com suas respectivas essências. E talvez, o povo querer, como resposta final, sair de sua menoridade, e se tornar autor de sua própria história. A ação só tem sentido diante da não ação, da mesma forma que a crença só é possível diante da descrença.
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