Do ATUAL
MANAUS – A advogada Catharina de Souza Cruz Estrela acusou o promotor de Justiça Walber Luís Silva do Nascimento de ofendê-la durante julgamento realizado na 3ª Vara do Tribunal do Júri do Amazonas.
O episódio ocorreu na manhã desta quarta-feira (13). De acordo com a advogada, “em mais de uma vez” durante o embate entre defesa e acusação, o magistrado se referiu a ela como “cadela”. Ela pediu para que fosse registrada em ata as ofensas proferidas.
“Ele [promotor Walber Nascimento] disse que eu não poderia ser comparada à cadela dele”, afirmou Catharina Estrela ao ATUAL. “Eu gravei a fala dele. Mas, como ficou longa, não dá para encaminhar [via WhatsApp]”.
A advogada gravou, de forma mais curta, outras intervenções de Walber Nascimento. Em uma delas, o promotor tenta se explicar e diz que Catharina o acusou, “quando de sua defesa, dizendo que eu havia comparado todas as mulheres a cadelas, gritando inclusive, dizendo que ela tinha sido ofendida. Eu não falei nada disso. Expliquei o contexto e só ela deturpou”, explicou o promotor.
Na sequência, o promotor afirma que “os cachorros eram fiéis, eram leais, e levando em consideração a lealdade eu não poderia fazer essa comparação dela com uma cadela, porque senão eu estaria ofendendo a cadela. Eu não a comparei em nenhum momento… Muito pelo contrário… Mas como ela gosta de deturpar as coisas…”.
Nesse momento do vídeo, a advogada protesta, se dirigndo ao juiz: “Excelência, pela ordem, excelência… Novamente!”. Após um breve silêncio, Walber Nascimento volta a falar, mas a gravação é interrompida: “dona Carine (sic) ééé… A senhora desculpa ter que…”.
Em outra gravação, Walber diz que “ela [Catharina] foi mais além na deslealdade comigo. Ela disse, gritando, que estava revoltada com o fato de eu ter comparado todas as mulheres com cadelas, se referindo ao que eu havia dito, que mamãe me dizia. Mas ele entendeu o que eu falei… Ela fez isso por deslealdade”, acusou o promotor.
“Talvez ela não saiba disso, mas eu vou dizer para ela: doutora Catharina, eu tenho pet desde que eu me entendo por gente; fui criado com cachorros e com gatos. Eu tenho até hoje uma cachorra. E eu prefiro as cachorras do que os cachorros. Eu prefiro as cadelas, por conta da lealdade, que é bem maior. Se tem uma característica que o cachorro tem, doutora Catharina, é lealdade. Eles são leais, são puros, são sinceros, são verdadeiros…”, acrescentou Walber.
Em seguida, repetiu a comparação, que antes negara, de forma direta à advogada. “E no quesito lealdade, me referindo especificamente à vossa excelência, comparar vossa excelência com uma cadela de fato é muito ofensivo, mas não à vossa excelência, [e sim] à cadela”. E provoca: “a senhora pode ficar à vontade para chamar prerrogativas”.
Advogados e advogadas criminalistas se mobilizaram e foram para a frente do Fórum Enoch Reis, prestar solidariedade. O presidente da OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil, secção Amazonas) postou mensagem de solidariedade em seu perfil pessoal de Instagram.
“Hoje, mais uma vez, ficou evidente a importância da união da advocacia no Amazonas. Fiquei imensamente grato e emocionado ao presenciar a resposta pronta e colaborativa de todos os profissionais em atendimento ao pedido da Dra. Catharina Estrela. Essa demonstração de solidariedade e apoio mútuo reforça o espírito de união que permeia a nossa comunidade jurídica. Juntos, somos mais fortes e capazes de superar desafios. Parabéns a todos os advogados e advogadas que prontamente se levantaram em prol dessa causa. Vocês são um exemplo a ser seguido”, diz o texto publicado.
A AAMP (Associação Amazonense do Ministério Público) publicou, no Instagram, nota de apoio e desagravo ao promotor de Justiça, apresentando “total e irrestrito apoio ao associado e promotor de justiça Dr. Walber Luís Silva do Nascimento, ao tempo em que destaca a importância de sua atuação firme, urbana e técnica no plenário do Tribunal do Júri, especialmente na defesa dos direitos das vítimas de crime em razão de gênero, e o desagrava pelas distorções pela defesa dos réus durante o julgamento, pois, em momento algum, houve, por parte do representante ministerial, a prática de condutas imputadas a ele”, diz a postagem.
O ATUAL solicitou à assessoria de comunicação do MP-AM (Ministério Público do Amazonas) o posicionamento de Walber Nascimento, mas até a publicação da materia não houve manifestação.
Walber publicou a nota da AAMP em sua conta pessoal do Instagram, com o seguinte texto: “São trinta e dois anos de carreira como Promotor de Justiça e nunca foi demandado por ter ofendido ou destratado qualquer colega advogado. Não vou me curvar a tentativas, seja de quem for, de denegrir a minha conduta profissional. Vou tomar as medidas judiciais cabíveis contra todos que criaram essa narrativa de que eu ofendi uma colega advogada no plenário do Tribunal do Júri. Sigo exercendo meu mister pautado pelo respeito a todos os envolvidos nos processos judiciais, sejam partes, advogados, defensores, juízes, servidores, estagiários ou auxiliares da justiça”.
Assista ao vídeo AQUI.