Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Em depoimento nesta quinta-feira (16) no TRE-AM (Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas), Cristiane Leal Paulain, esposa do ex-prefeito de Nhamundá Mário Paulain, negou que tenha autorizado policiais civis a entrarem no quarto em que ela e o marido estavam hospedados no dia em que os agentes apreenderam dinheiro e material de campanha e prenderam em flagrante o ex-prefeito por suspeita de compra de votos.
“Quando eu saí (do quarto) eu me deparei com um policial com a arma lá na frente (da pousada) e o meu marido lá com os policiais. Quando eu cheguei lá eles falaram: ‘nos acompanhe até seu quarto’. Um policial falou para o outro que eu tinha saído daquele quarto. Eles foram levando meu marido para dentro do quarto e eu segui também. Vi no processo que eu tinha autorizado a entrada deles no quarto e isso não aconteceu”, disse Cristiane.
A apreensão e a prisão ocorreram em uma pousada no município de Nhamundá no dia 7 de outubro de 2018, no primeiro turno da eleição de 2018. Apesar de ter sido encontrado no quarto de Mário Paulain uma bandeira com a foto de Amazonino Mendes (sem partido) entre os materiais com a foto do governador Wilson Lima, os objetos apreendidos foram usados pelo ex-governador para pedir a cassação do governador por compra de votos.
A validade das provas apresentadas por Amazonino foi contestada pela defesa de Wilson, que pediu a extinção do processo. Para Lima, a prova apresentada pelo ex-governador é ilícita porque foi “colhida com violação à garantia constitucional de inviolabilidade da casa”, pois “não havia mandado judicial para ingresso no interior da habitação e nem há prova de que alguém tenha autorizado a entrada de policiais no interior do quarto”.
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Em agosto deste ano, sob alegação de que “o nosso ordenamento jurídico não admite as provas ilícitas ou as provas ilícitas por derivação”, o desembargador eleitoral Victor Liuzzi Gomes determinou a oitiva de Cristiane para ela esclarecer se autorizou os policiais a entrarem no quarto no dia da ação policial. A oitiva dela como informante foi marcada para ser realizada nesta quinta-feira, em Manaus.
No depoimento prestado no TRE, Cristiane disse que ela estava no quarto se arrumando para viajar para Parintins quando um fotógrafo identificado como “Jean”, que prestava serviços para o casal, a comunicou que Mário estava sendo preso na frente da pousada onde eles estavam hospedados. A mulher disse que saiu do quarto e foi até o local para entender o que estava acontecendo e se deparou com os policiais abordando o marido dela.
De acordo com Cristiane, os policiais perguntaram se ela era esposa de Mário e pediram que ela os acompanhasse até o quarto em que ela e o marido estavam hospedados. Ainda segundo a mulher, um dos policiais indiciou para o outro o quarto de onde ela havia saído – o quarto fica de frente para o portão da pousada – e, sem apresentar mandado de busca ou documento assinado por um juiz, os agentes entraram no quarto.
Ao ser questionada se havia pessoas dentro do quarto quando ela saiu para entender o que estava acontecendo na frente da pousada, Cristiane disse que não havia ninguém, mas que quando retornou ao local, já acompanhada dos policiais, encontrou duas mulheres e duas crianças. Cristiane alegou que as mulheres haviam entrado na pousada para beber água, mas acabaram entrando no quarto do casal porque ficaram nervosas com a ação policial.
“Elas relataram que foram beber água na pousada. Elas falaram que quando viram aquele movimento lá, que elas passaram e viram a porta (do quarto) entreaberta, que não tinha outro acesso para passar, pois a polícia estava no portão principal. Elas entraram lá com medo da polícia. Elas foram ouvidas lá no município e inclusive relataram isso também”, disse Cristiane.