
Do ATUAL
MANAUS – A juíza Aline Kelly Ribeiro Marcovicz Lins, da Comarca de Manaus, determinou na sexta-feira (3) que o influenciador digital João Lucas da Silva Alves, o Lucas Picolé, retorne ao convívio com os demais detentos do CDPM I (Centro de Detenção Provisória Masculino). O influenciador é denunciado por fazer lavagem de dinheiro através de rifas ilegais.
Lins atendeu pedido da defesa do influenciador, que alegou que, desde que foi preso, em fevereiro deste ano, ele está isolado em uma cela para presos doentes.
A juíza, no entanto, afirmou que Lucas não poderá ficar recolhido com presos condenados. Ela afirmou que a Lei de Execução Penal prevê que os presos provisórios devem ficar separados dos condenados.
“Defiro o pedido da defesa de restabelecimento do contato social do acusado na unidade prisional, dentro das condições estruturais de referido estabelecimento prisional, com a ressalva de que não poderá ficar recolhido juntamente com presos condenados”, diz trecho da decisão.
Lucas é um dos denunciados na Operação Dracma, que investigou fraudes em sorteios ilegais em Manaus. Ele foi preso pela primeira vez em julho do ano passado. Na ocasião, a polícia foi cumprir mandados judiciais de busca e apreensão no âmbito da investigação sobre rifas, mas acabou encontrando drogas na casa em que ele estava e o prendeu em flagrante por tráfico de drogas. Posteriormente, a Justiça expediu mandado de prisão em razão das rifas ilegais.
O influenciador foi solto em outubro de 2023 com a condição de cumprir restrições, incluindo a proibição de divulgar rifas. Em fevereiro deste ano o influenciador voltou a ser preso pela Polícia Civil do Amazonas. Ele estava em um balneário na rodovia AM-070 (Manaus-Manacapuru), próximo a Iranduba (a 27 quilômetros da capital).
A polícia alegou que ele tinha voltado a anunciar sorteios e, portanto, havia descumprido ordem judicial. A defesa dele afirma que não houve descumprimento, pois ele apenas ofertou prêmios.
Lavagem de dinheiro
O MPAM (Ministério Público do Amazonas) denunciou, em setembro de 2023, Lucas Picolé; Enzo Felipe da Silva Oliveira, o Mano Queixo; e Aynara Ramilly pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Outras quatro pessoas que eram usadas como “laranjas” também foram denunciadas.
Conforme a denúncia, o grupo atuava para ganhar dinheiro mediante lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionato. Eles promoviam rifas ilegais na internet e usavam o dinheiro para compra de bens, incluindo carros, que eram colocados em nomes de terceiros.
O Ministério Público aponta Lucas e Isabelly como “mandantes” do esquema criminoso. Segundo o promotor, eles “atuam como influenciadores digitais com grande número de seguidores e eram os responsáveis por promover as rifas com prêmios mais vultosos, incluindo carros, motocicletas e motos aquáticas”.
O promotor afirma que, em alguns casos, Lucas e Isabelly vendiam rifas para sorteios cujos prêmios tinham proprietários. É o caso de um veículo Gol sorteado em maio do ano passado. O veículo foi sorteado, mas estava no nome de outra pessoa que informou não ter autorizado a comercialização.
Segundo o promotor, a dupla recebeu “vultosa quantia em dinheiro decorrente do pagamento de bilhetes de rifas por diversos prêmios”.
A mãe de Isabelly, Isabel Cristina Lopes Simplício, e o ex-marido dela Paulo Victor Monteiro Bastos também foram denunciados pelo Ministério Público. Segundo os investigadores, Isabelly comprou veículos Civic e Amarok em nome de Isabel e Paulo Victor com objetivo de “dissimular a sua propriedade”.
Paulo Victor foi preso com Isabelly na segunda fase da operação, no dia 5 de julho de 2023, após a polícia descobrir que os bens adquiridos por Isabelly eram colocados no nome dele.
No caso de Lucas Picolé, o promotor afirma que o dinheiro também era proveniente da venda de produtos falsificados. Ele tinha uma loja no bairro Parque 10, zona centro-sul de Manaus, que era administrada por Flávia Ketlen Matos da Silva. Ela também foi denunciada.
O Ministério Público acusa Flávia de atuar “na lavagem de dinheiro, emprestando seu nome para que Lucas comprasse veículos e dissimulasse a propriedade”.
As investigações apontam, ainda, que Aynara Ramilly, ex-namorada de Lucas Picolé, e Enzo Felipe também promoviam as rifas na mesma plataforma que Lucas e Isabelly, mas com prêmios menores.
“Tanto Isbelly e Lucas quanto Aynara e Enzo utilizavam a mesma plataforma para realizar as rifas, tendo sido compartilhado o contato do responsável pela plataforma entre eles”, diz trecho da denúncia.
O promotor denunciou, ainda, Marcos Vinícius Alves Maquiné, que emprestava a conta bancária para Lucas Picolé.
As investigações apontam que, “para dissimular a origem e a propriedade do dinheiro, Lucas recebia o pagamento de bilhetes das rifas na conta de Marcos, configurando a lavagem de capitais”.
“De acordo com os elementos colhidos no Inquérito Policial, Lucas usou a conta de Marcos Vinícius para receber valores de origem ilícita, provenientes da venda de rifas, com objetivo de ocultar ou dissimular a propriedade ou origem do dinheiro”, diz a denúncia.
“Segundo Marcos, o aplicativo do Banco Itaú estava instalado no celular de Lucas e este fazia a gerência do dinheiro, cuja movimentação chegou a aproximadamente R$ 1.000.000,00”, diz outro trecho.
Todos os oito foram denunciados pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. O promotor atribuiu, ainda, a alguns dos investigados outros crimes, como estelionato, promoção de loteria sem autorização e sonegação fiscal.