Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – O advogado Euler Barreto Carneiro e o estagiário de Direito da Afeam (Agência de Fomento do Estado do Amazonas), que foram presos na manhã desta segunda-feira, 15, na Operação Spy, vendiam informações sigilosas de inquéritos da Polícia Civil para narcotraficantes por valores que alcançavam R$ 40 mil, segundo afirmou o delegado Rafael Allemand em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 15.
“Eles acessavam de forma clandestina esses processos, pegavam informações que estava com sigilo judicial, identificavam os alvos dessas operações, entravam em contato com esses alvos e depois passavam todo o andar das investigações em troca de uma contraprestação”, disse Rafael Allemand.
De acordo com o delegado, o acesso às informações ocorria através da senha cadastrada no nome do estagiário de Direito da Afeam. No período de um ano, Carneiro acessou processos do DRCO (Departamento de Repressão ao Crime Organizado), Denarc (Departamento de Investigação sobre Narcóticos) e Seai (Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência).
As investigações contra o suposto esquema criminoso iniciaram quando a Polícia Civil desconfiou que narcotraficantes estavam tendo acesso a informações sigilosas. “Começamos a verificar quem estava acessando as investigações além das pessoas cadastradas no sistema e chegamos ao nome do estagiário. Do estagiário chegamos ao nome do advogado”, disse Allemand.
Entre os favorecidos com o esquema está o narcotraficante Thiago Monteiro da Silva, mais conhecido como Thiago Mineiro, que pagou R$ 40 mil para ter acesso a uma única informação de investigação contra ele. Mineiro, preso no último dia 4 de junho, é apontado pela Polícia Civil como um dos líderes de uma facção criminosa no Amazonas.
“Nós temos já materializado, nesse procedimento investigativo, que um dos alvos, apenas por uma informação, pagou R$ 40 mil. Foi assinado um contrato de prestação entre o advogado e esse investigado. Foi o que materializou as nossas suspeitas”, disse o delegado Rafael Allemand.
Com a prisão do advogado e apreensão de documentos, a Polícia Civil irá investigar os vazamentos de informações no Denarc (Departamento de Investigação sobre Narcóticos) e na Seai (Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência). Conforme Allemand, a apuração poderá resultar na abertura de novo processo contra o advogado e o estagiário.
Senha
O delegado explicou que a senha do estagiário da Afeam usada pelo advogado deveria dar acesso somente aos processos envolvendo o órgão estadual. No entanto, o setor de tecnologia do TJAM (Tribunal de Justiça do Amazonas) identificou que essa mesma senha permitia o acesso outros processos, inclusive os que estavam sob sigilo.
“Como ele era estagiário da Afeam ele recebeu uma senha, um perfil para acessar os processos da Afeam. Só que foi dado um plus nessa senha e ele tinha acesso a outros processos sigilosos sem ser aqueles da Afeam. O estagiário foi ao escritório do advogado e o advogado começou a acessar os processos sigilosos e angariar essas informações”, disse Allemand.
Em nota, a OAB-AM (Ordem dos Advogados Brasil) informou que acompanhou o cumprimento da prisão do advogado e está “atuando tão somente para garantir o cumprimento das prerrogativas da custódia do advogado, por meio da Comissão de Defesa das Prerrogativas da Ordem”.
O TJAM informou que “está colaborando com a investigação conduzida pela Polícia Civil a qual visava identificar acessos indevidos a processos desta Corte” e que permanece realizando auditorias internas periódicas “visando intensificar suas políticas de acesso e segurança”.
A Corte Estadual também informou que segue à disposição para colaborar com quaisquer informações que venham a ser reivindicadas pelos órgãos de investigação e de segurança” e que “a investigação em questão é sigilosa e a divulgação de informações pertinentes ao caso, poderia comprometer o trabalho da Polícia e a elucidação dos fatos, que se confirmados, caracterizam-se como crimes e são repudiados pelo Poder Judiciário”.