SÃO PAULO – Quando eu escuto falarem sobre “meritocracia” costumo pensar em todos esses números que assustam e me fazem repensar uma série de coisas que a gente acredita quando vive dentro de uma caixinha de privilégios. Saber que no Brasil ainda temos mais de 1,8 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estão no mercado de trabalho ao invés de estudar, me entristece. Saber que mais da metade dessas crianças são negras e que já nascem condenadas ao trabalho pesado desde crianças, me dá a certeza de que estamos bem longe da igualdade. A região com maior proporção de trabalho infantil entre as crianças de 5 a 13 anos de idade foi a Norte, com nível de ocupação deste grupo de 1,5% (aproximadamente 47 mil), seguida pelo Nordeste, com 1% (cerca de 79 mil). Já o trabalho entre os adolescentes de 14 a 17 anos foi proporcionalmente maior na região Sul, com 16,6% no nível de ocupação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) As crianças pretas ou pardas eram maioria entre as ocupadas, representando 64,1%. Entre as crianças ocupadas de 5 a 13 anos, 71,8% eram pretas ou pardas, e para o grupo de 14 a 17 anos, o percentual de pretas ou pardas foi de 63,2%. Os números atestam a necessidade que temos em falar sobre o assunto. Em Manaus você não precisa andar muito para ver uma criança no trânsito vendendo água, ou vendendo picolé. Nas feiras populares é cultural ver crianças trabalhando com materiais pesados desde cedo. Sem estudar, sem investir na sua educação, os pais simplesmente se veem no direito de colocá-los para trabalhar com a desculpa de que “tem que ajudar”. Um ciclo vicioso interminável, porque sem estudo o adolescente não desenvolve e um adulto não desenvolvido fica estagnado. A qualidade de vida de uma criança que trabalha e não estuda vai ser sempre inferior do que aquela que tem a oportunidade de viver uma infância normal, cercada de educação. Mas sobre isso parece que a sociedade não está muito preocupada em discutir, não há campanhas, nem sequer uma discussão partindo dos nossos governantes, os números aumentam e assustam mas parece não convencer.